por Marcelo Seabra
Claramente inspirado em Zorro, o Gato de Botas é um espadachim órfão, nascido em uma cidadezinha espanhola, que se diz um grande amante e que passa a ser um fora da lei. Lembrando Rango (2011) em alguns momentos, o filme é basicamente um faroeste animado, com ação, piadas, referências pop (como O Clube do Feijão e suas regras) e cenas que homenageiam outros filmes. Um roteiro simples, ótima animação – em bom 3D – e personagens divertidos. Mesmo que não sejam muito profundos, cumprem suas obrigações.
Para que se tivesse um arco dramático, é criado um antagonista, o ovo Humpty Dumpty. Parecendo uma paródia de Lex Luthor (são várias as características em comum, até no nome do meio, Alexander), ele era o melhor amigo do protagonista, mas algo acabou com a amizade e o colocou como vilão, e assim ele é apresentado. Logo conhecemos Kitty, uma gata que participará da trama e será o interesse amoroso do Gato. De mocinha em perigo ela não tem nada e participa ativamente de tudo. Nada muito inovador, dá para perceber.
Com exceção do personagem-título, todos os demais foram criados para esse filme. O desenvolvimento ocorria simultaneamente ao de Shrek Para Sempre (Shrek Forever, 2010) e os roteiristas não podiam correr o risco de contradizer alguma coisa. Isso, além do fato de tratar-se de uma pré-sequência: não faria sentido usar mais medalhões da série. O próprio ogro verde nem é mencionado, já que ele conhece o Gato no segundo filme. Com a criação de novos personagens, é até possível que se inicie aqui uma nova franquia. Talvez por isso, Chris Miller, diretor do terceiro Shrek, tenha decidido aceitar este projeto: uma nova franquia dá mais futuro.
A maior atração de Gato de Botas é o elenco de dubladores. Como as falas são gravadas antes de se criar a animação, os atores contratados têm bastante liberdade, o que funciona muito bem na tela. Antonio
Completando o grupo, vem uma mexicana há muito conhecida de Banderas: Salma Hayek, que apareceu fora de seu país com A Balada do Pistoleiro (Desperado, 1995), justamente estrelado pelo ator. Eles tiveram vários outros trabalhos em comum, mas é a primeira vez em que só suas vozes “contracenam”. Zach Galifianakis, o gordinho louco de Se Beber, Não Case 1 e 2 (The Hangover, 2009 e 2011), dá voz a Dumpty e há ainda um casal de facínoras “vivido” por Billy Bob Thornton (de Escola de Idiotas, 2006) e Amy Sedaris (de Garota Infernal, 2009). Até o roteirista e diretor Guillermo del Toro (dos dois Hellboy e O Labirinto do Fauno), que entrou como produtor executivo, participa, pegando dois papéis secundários.
A versão dublada – sem querer desmerecer os profissionais brasileiros – deve perder muito do charme de Gato de Botas. Tudo é planejado com aqueles atores em mente, além de a própria animação ser baseada neles e em seus movimentos. E, se a dublagem seguir a legenda, várias tiradas engraçadas são perdidas, simplificando o humor do filme em diversos momentos.
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