por Rodrigo Seabra
O impacto pouco significativo do filme pode ser creditado ao seu tema naturalmente complicado, mas não podemos ignorar também a ressaca da crise econômica mundial iniciada (pelo menos formalmente) em 2008. Os efeitos, afinal, ainda estão longe de serem totalmente esquecidos pela classes média e baixa nos Estados Unidos. O próprio diretor e roteirista J.C. Chandor, veterano em comerciais e documentários, mas estreante no circuito comercial, tirou a ideia do filme de sua experiência pessoal com a aquisição e renovação de um imóvel. Perde o grande público, por não ter apreciado nos cinemas as boas atuações e o conciso retrato de época que o filme traz, na esteira da maioria das críticas que o classificaram entre “bom”, “excelente” e “o melhor filme de um estreante em 2011”.
Como o sempre mal escolhido título nacional procura esclarecer, a crise não será solucionada a contento. Apesar de as urgências se mostrarem bastante diferentes, é algo como o visto em Vôo United 93 (2006): sabemos que uma desgraça vai acontecer, não sabemos como. Aquele dia de 2008 veria a primeira grande instituição financeira desmoronar e dar o pontapé inicial na crise, ao perceber que os investimentos que fazia estavam baseados em cálculos completamente errados.
No entanto, a constatação do espectador dedicado, porém leigo em economês, é que, dada a magnitude dos acontecimentos, nem sempre haverá como fugir da complicação própria do tema. Para entender a história integral e profundamente, somos obrigados a encarar um assunto de extrema aridez que, em mais de um momento, é descrito pelos próprios personagens (executivos de finanças, vale lembrar) como “complexo demais”. Longe de deixar a história “boa” ou “ruim”, é uma característica que torna o filme um pouco pesado – para muitos, isso certamente significa mais instigante.
O sucesso de tais explicações só pode ser entendido como relativo, mas não que isso vá afugentar o espectador comum. Em um bom filme cuja narrativa é pragmática, temos o suficiente para captar a urgência do início, a tensão experimentada no decorrer e a gravidade do desfecho. Mas fica também claro que o impacto do filme, e talvez sua mais inteligente sacada, em grande parte se sustenta no fato de ele ser baseado em acontecimentos reais. Conhecemos as consequências do que aconteceu, e isso nos auxilia na compreensão do todo. Afinal, as engrenagens da crise, como na vida real, ficam irremediavelmente semi-obstruídas pela terminologia e pelas multiniveladas maquinações do sistema financeiro.
Há cenas que procuram transparecer dramas e posicionamentos pessoais, ainda que eles sejam, em sua maioria, bem distantes do meu ou do seu. Trata-se de tubarões, poucos são os peixes pequenos. Só que tudo é descrito com tanta enormidade em Margin Call que esses momentos de humanidade formam uma espécie de narrativa paralela, pequenos empecilhos ao desenvolvimento da ação principal. Essa ocasional quebra da tensão acaba tendo um efeito que dificilmente seria intencional, mas que funciona por seu lado: reflete o posicionamento dos altos executivos de que as pessoas são apenas inconvenientes menores no caminho do dinheiro.
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