Cinema nacional ganha um refresco com Os 3

por Marcelo Seabra

Umas das estreias da semana, Os 3 (2011) é o primeiro longa solo do publicitário Nando Olival, codiretor de Domésticas, o Filme (2001), ao lado de Fernando Meirelles. Depois de mais de cinco centenas de comerciais, ele partiu para a ficção com uma linguagem jovem e bem atual e temas diferentes dos usuais, deixando de lado pobreza, favela e violência.

O filme começa quando três calouros se conhecem ao chegarem em São Paulo. Têm em comum o fato de serem de cidades menores, de onde estavam loucos para saírem, e de cursarem Comunicação na faculdade. Um laço de amizade é formado instantaneamente e logo eles estão morando juntos. Como trata-se de uma menina e dois rapazes, eles estabelecem o trato de não arriscar a amizade com possíveis envolvimentos românticos.

Depois dos quatro anos do curso, é chegado o momento da separação. Isso, até que uma grande cadeia de lojas de departamento os contrata para colocarem em prática o projeto que desenvolveram em uma disciplina: uma espécie de reality show em que tudo que é mostrado está à venda, servindo como peça publicitária. Tudo bem adequado à experiência do diretor. É certo que a ideia não é das mais originais – há anos, a Globo vende tudo que você vê na novela. Mas serve como mote para um filme divertido.

Os três vão levando suas vidinhas bestas no apartamento e todos os produtos em volta foram colocados lá propositalmente, para comercialização. Mas aquele marasmo não vende nem lixa de unhas. As coisas mudam quando começam a acontecer conflitos entre os três, um relacionamento amoroso toma corpo e o público passa a se interessar. As vendas da loja começam a bater recordes, mas não sabemos até quando vão durar os laços que amarram os três.

A partir de um certo ponto, cenas mais quentes começam a acontecer, tudo de forma bem natural. A nudez pode ser contestada, é complicado dizer o que é necessário e o que não é. O bem sucedido Três Formas de Amar (Threesome, 1994) trata de uma situação parecida com praticamente zero de nudez. A opção do diretor é não esconder, escurecer a imagem ou virar a câmera para os passarinhos na janela, como outros fazem.

O elenco de Os 3 não é formado por atores marcados pela televisão, rostinhos famosos da trama das oito. E nem por isso desapontam: Juliana Schalch, Gabriel Godoy e Victor Mendes entram bem em seus personagens e constroem figuras interessantes, mesmo que nunca cheguem a se tornar muito profundas. A jornada dos protagonistas é bem desenvolvida em pouco tempo, o que dá a impressão de a projeção ter sido mais longa que seus 80 minutos. A ótima e discreta edição de Daniel Rezende (de Cidade de Deus, 2002) cai como uma luva, tornando dinâmica a troca entre a imagem das câmeras do apartamento e a vida deles de fato.

Nando Olival recebeu bastante atenção quando chegou à Internet o clipe de Eduardo e Mônica criado para a campanha da Vivo. No último dia dos namorados, todos se encantaram com as imagens que ilustravam a música da Legião Urbana. Dos quatro minutos do clipe, ele passou aos 80 de Os 3. Não sabemos o que vem em seguida, mas não deve decepcionar.

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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