por Rodrigo Seabra
Numa época em que mesmo os outrora venerados troféus da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (mais conhecidos como Oscars) já não podem ser vistos com a mesma seriedade de antes, por conta de omissões e enganos cada vez mais graves, pode parecer incongruente dar importância a uma premiação aparentemente “menor” como o Emmy. Talvez a terceira maior premiação do tipo, atrás também dos Globos de Ouro, os Emmys são conferidos exclusivamente ao lado televisivo da indústria – mas é justamente isso o que deveria chamar a nossa atenção.
O fato é que a TV americana, nos últimos anos, tornou-se tão interessante quanto a indústria cinematográfica, devido aos novos padrões de qualidade alcançados com os investimentos em programação a cabo (veja mais aqui). Hoje, não satisfeita em capturar astros tradicionais do cinema, a TV os produz com uma frequência jamais vista e ainda cria seus próprios figurões, atores e atrizes dignos de culto à parte e espaço cativo na mídia.
Hoje, 18 de setembro, a segunda parte da 63ª edição dos Emmys começou com as categorias de comédia. Como melhor atriz coadjuvante, Julie Bowen, com Modern Family, bateu favoritas como sua colega de elenco Sofia Vergara, Jane Lynch, apresentadora da cerimônia deste ano, além do ícone televisivo Betty White (Hot In Cleveland). Bowen é um rosto bem conhecido da TV, com destacadas participações em Boston Legal e Ed e inúmeras passagens por outras séries. Um dos seus mais recentes papéis de destaque aconteceu em Lost, na qual viveu a ex-esposa do herói Jack.
Acontece, então, a primeira curiosidade da noite: o anúncio de Ty Burrell como vencedor na categoria de melhor coadjuvante em comédia. Burrell tem justamente o papel de marido de Julie Bowen. Pra se ter uma ideia do imenso favoritismo de Modern Family, muito premiada no ano passado, o ator venceu este ano nada menos que três colegas da mesma série (Ed O’Neill, Eric Stonestreet e Jesse Tyler Ferguson), além do Alan Harper de Two and a Half Men, Jon Cryer.
Modern Family vai justificando suas muitas indicações ao conquistar também as categorias seguintes, de melhor direção (para Michael Alan Spiller) e melhor roteiro em série de comédia (para os experientes Steve Levitan e Jeffrey Richman). Séries mais audaciosas como Louie e Episodes deram lugar a uma produção da TV aberta (americana), o que só pode atestar a qualidade da comédia da ABC, exaltada por crítica e pelo público desde sua primeira temporada (está prestes a estrear a terceira).
Veteranas como Edie Falco e Laura Linney disputavam a categoria de melhor atriz em comédia, além da já premiada Tina Fey, mas glamour nenhum impediu as indicadas de subirem ao palco em conjunto e fazerem uma corrente para, literalmente, coroar a excelente Melissa McCarthy, vencedora pela fraquinha série Mike & Molly. McCarthy, por muitos anos, fez parte do elenco da cultuada Gilmore Girls, e em 2011 ganhou destaque no filme Missão Madrinha de Casamento (Bridesmaids), que estreia no Brasil na próxima sexta-feira, dia 23 de setembro.
Fechando as premiações do gênero, é apresentada uma montagem hilária de personagens de diversas séries no set de The Office, enquanto a categoria de melhor comédia é deixada para o fim da noite. O gênero seguinte é para essa quantidade de reality shows e programas de variedades que tomaram a TV de assalto. Convenhamos, não faz lá muita diferença saber quem é o melhor reality show/programa de competição (Amazing Race levou o prêmio) quando não há trabalho algum de roteiro e atuação envolvidos…
Um número musical execrável é apresentado na sequência, com seus momentos de gracinha e participação de Michael Bolton e Akon. Falando em algo ruim, é a vez de o Saturday Night Live levar o prêmio seguinte, de melhor direção de programa de variedades, musical ou comédia. Em suas temporadas mais recentes, infelizmente, é somente esse tipo de prêmio que o SNL poderia levar. A categoria seguinte elege como o melhor programa do gênero, agora pela nona vez seguida, o mesmo Daily Show, encerrando essa parte da premiação.
É a vez do gênero drama ganhar atenção, com a tradicional montagem de diversas séries, indicadas ou não, fazendo a abertura. O primeiro prêmio, de roteiro em série dramática, tem fortes candidatos, como Game of Thrones e Mad Men, que concorre em dobro. Ganhou o batalhador Jason Katims, por Friday Night Lights, uma série bastante humana, brilhante em suas primeiras temporadas, pouco assistida e devidamente encerrada na TV a cabo em 2011, depois de ser cancelada na TV aberta.
A categoria de melhor atriz coadjuvante tinha favoritas em Archie Panjabi (por The Good Wife) e Kelly McDonald (por Boardwalk Empire), mas quem carrega a estatueta é Margo Martindale, atriz de longa carreira na TV e no cinema. Seu prêmio vem pelo papel em Justified, elogiada série do canal FX americano. Ela também teve participação em Dexter entre 2006 e 2008.
Para melhor ator coadjuvante de uma série dramática, tínhamos concorrentes fortíssimos. Quem ganhou o prêmio, também merecidamente, foi o magistral Peter Dinklage, o diminuto Tyrion Lannister da bombástica Game of Thrones. Dinklage é talvez o melhor ator naquela série cheia de boas atuações, e venceu dois atores da aclamada The Good Wife. Infelizmente, sua vitória enterrou a melhor chance de um prêmio para a ótima série Men of a Certain Age (com Andre Braugher), recém-cancelada após duas saborosas temporadas.
Bryan Cranston, não indicado este ano pelo simples fato de Breaking Bad ter atrasado sua produção, chama ao palco a melhor atriz dramática na figura de Julianna Margulies, dona de um trabalho perfeito em The Good Wife. A badalada Kathy Bates concorria, mas sua nova série, Harry’s Law, não é lá muita coisa. Connie Britton, cativante como a esposa e mãe Tami Taylor Friday Night Lights, e Elisabeth Moss, excelente em Mad Men, ficaram pra trás.
A melhor série dramática da noite também ficará para o fim da cerimônia. Agora, é a vez das minisséries e dos filmes para a TV. A minissérie Downton Abbey ganha como melhor roteiro do gênero, assim como a melhor atriz coadjuvante – natural que seja Dame Maggie Smith, respeitada atriz inglesa conhecida dos mais novos como a Professora Minerva McGonagall, dos filmes Harry Potter. Esta última categoria tinha ainda Melissa Leo, Mare Winningham e uma elogiada Evan Rachel Wood como competidoras. A mesma série ainda conquista um prêmio de melhor direção.
O premiado como melhor ator em minissérie ou filme para a TV, em disputa apertada, seria uma zebra, se não fosse realmente um grande profissional: Barry Pepper consegue um prêmio para a polêmica minissérie The Kennedys. Chega a hora das homenagens póstumas ao som de uma competente e ultra-brega versão da onipresente Hallellujah, de Leonard Cohen. Andy Whitfield, de Spartacus, é um dos lembrados. Na sequência, Mildred Pierce, minissérie da HBO americana, finalmente honra sua ótima fama, e premia Guy Pearce como melhor ator coadjuvante e Kate Winslet como melhor atriz em minissérie.
Encerrando o gênero e, ao mesmo tempo, abrindo a última parte da noite com as premiações principais, Downton Abbey é eleita a melhor minissérie do ano. A produção da usualmente modesta PBS vence a poderosa HBO, que concorria com três produções diferentes.
O prêmio de melhor série dramática de 2011 é extremamente competitivo, dada a alta qualidade das concorrentes. As estreantes Game of Thrones e Boardwalk Empire só vieram aumentar ainda mais a categoria já engordada com The Good Wife (a única da TV aberta), Dexter e a discreta Friday Night Lights, indicada talvez mais como uma reverência ao seu último ano. Eis que os eleitores do Emmy resolvem entregar a estatueta para… a mesma série dos três anos anteriores: Mad Men, outra vez! Difícil acreditar que o quinto ano de uma série tão vencedora ficou próximo de não ser produzido no ano que vem.
Tendo em vista a varredura feita por Modern Family no começo da noite, não é de espantar que tenha ganhado o prêmio final da noite, como melhor série de comédia. Aliás, ganha pelo segundo ano consecutivo. No discurso de agradecimento, o produtor solta que Modern Family quase foi feita como série de animação, “porque não queríamos de jeito nenhum trabalhar com crianças”. Merecida vitória da série sobre concorrentes que já vêm cansadas, como 30 Rock, The Office e The Big Bang Theory.
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