por Marcelo Seabra
Aonde isso tudo vai chegar nós já sabemos. Ou muitos de nós, já que o público de hoje não está muito preocupado com uma ficção-científica de 1968. O Planeta dos Macacos (Planet of the Apes) já havia dado origem a diversos filmes, a séries de televisão e até a revistas em quadrinhos. Tim Burton revisitou esse universo em 2001 e foi extremamente criticado, e a franquia parecia descansar em paz. Dez anos depois, temos o lançamento da prequel (ou pré-sequência) O Planeta dos Macacos: A Origem (Rise of the Planet of the Apes, 2011), um longa extremamente satisfatório e divertido.
O francês Pierre Boulle, autor do livro lançado em 1963, não poderia imaginar que a sua obra perduraria por tantas décadas no imaginário popular. O desafio desta vez, assumido pelo diretor Ruper Wyatt (de O Escapista, de 2008), é contar o início de tudo. Conhecemos o embrião daquele planeta enfrentado por Charlton Heston (o loiro acima), habitado por macacos falantes e inteligentes e humanos subdesenvolvidos, tratados como escravos e/ou animais. Uma história parecida havia sido contada em A Conquista do Planeta dos Macacos (Conquest of the Planet of the Apes, 1972), quarto filme da série, mas não se trata de uma refilmagem.
Wyatt e seus roteiristas e produtores, Rick Jaffa e Amanda Silver (que escreveram Olho por Olho, de 1996), usaram elementos clássicos para manterem as mesmas características básicas, além de poderem fazer pequenas homenagens aqui e ali. Alguns diálogos e nomes da série original aparecem, formando a ponte necessária com o que já estava estabelecido, como foi feito em X-Men: Primeira Classe (X-Men: First Class, 2011). E, a exemplo de Batman Begins (2005), não é necessário ser iniciado na mitologia para acompanhar, como o diretor ressaltou em entrevistas. Basta acreditar no que está sendo mostrado e entrar na fantasia.
A trama acompanha Caesar, filhote de uma macaca geneticamente modificada, que já nasce com capacidades cognitivas muito além de qualquer outro animal, se aproximando dos humanos. Para poupá-lo do sacrifício, o cientista responsável pelo projeto (James Franco, da trilogia do Homem-Aranha) o leva para casa e continua envolvido com a pesquisa, observando suas ações e seu desenvolvimento por anos. Após um incidente em que Caesar demonstra a violência da qual é capaz, ele é levado a um abrigo de macacos e se vê pela primeira vez em meios a seus iguais – mas infinitamente inferiores intelectualmente. E as coisas seguem um ritmo ágil que conduz a um ótimo clímax, encaixando bem as peças e levando a um inevitável confronto.
Curiosamente, os humanos do longa são extremamente insossos. Franco, como o “pai” de Caesar, parece perder sua importância quando o macaco não está em cena. E eu sempre esperava o momento em que o ator começaria a rir: não se sabe se ele estava dormindo ou se drogando nos intervalos da produção. A bela Freida Pinto (de Quem Quer Ser um Milionário?, de 2008) é apenas um acessório e a sua relação com o personagem de Franco não convence. Tem sido complicado ver o grande John Lithgow, depois de ter vivido o assassino Trinity em Dexter (2009), fazendo outro papel, ainda mais de um ex-professor de música debilitado pelo mal de Alzheimer. E o fato de ele servir como motivação para os estudos do filho é a justificativa piegas que parece ter sido o caminho mais fácil para os roteiristas.
O destaque de O Planeta dos Macacos: A Origem é inegavelmente a atuação de Andy Serkis, que empresta seus movimentos a Caesar. O ator voltou a trabalhar com a WETA Digital, reunindo o time responsável pelo King Kong do filme de 2005 e pelo memorável Gollum da saga O Senhor dos Anéis. É impressionante a riqueza de detalhes do macaco, de seus movimentos, suas expressões faciais. Ele demonstra claramente, melhor que os humanos, o que está sentindo, e podemos apostar em qual será seu próximo passo.
Normalmente, não gosto de prequels e não vejo razão para elas existirem, como é o caso do horroroso Hannibal – A Origem do Mal (Hannibal Rising, 2007) e dos desnecessários O Exorcista – Dominion (2005) e O Início (2004). Felizmente, não é o caso aqui. Em um filme de metragem relativamente curta, 105 minutos, temos uma história enxuta e bem desenvolvida o suficiente para prender a atenção do público (e não perca a cena nos créditos). E o macaco Caesar é um dos melhores protagonistas não-humanos da história do cinema. Fica a dúvida: será que a Academia poderia indicar Serkis a um Oscar de Melhor Ator?
Belo texto! o/
Esse macaco merecia levar o Oscar. Fantástico!!
digno de ser um rei .