por Marcelo Seabra
Duas pré-estreias foram realizadas esta semana em Belo Horizonte e, por algum motivo, só um dos longas está em exibição. Amor a Toda Prova (Crazy, Stupid, Love, 2011) já pode ser conferido, enquanto Larry Crowne – O Amor Está de Volta (2011) ficou para o dia nove de setembro. Eu estava me perguntando como os cinemas dariam conta de tantas produções, já que Lanterna Verde (Green Lantern, 2011) já estava em cartaz e outro a chegar nessa sexta foi Planeta dos Macacos: A Origem (Rise of the Planet of the Apes, 2011), tomando várias salas.
Se fosse para escolher entre os dois filmes, a vaga certamente seria de Amor a Toda Prova. Não sei qual foi o critério adotado, mas trata-se de uma comédia bem mais divertida, inteligente e interessante que Larry Crowne. A temática deles tem suas similaridades, já que ambos acompanham homens de meia-idade separados se recuperando de um baque. Os elencos são competentes e fazem o possível com os roteiros. No caso de Crowne, não se chega muito longe.
Além de escrever, dirigir e produzir, Tom Hanks ainda estrela Larry Crowne, vivendo um pacato funcionário de uma rede de supermercados que é demitido devido à falta de um diploma. Ele fica um tanto perdido e, correndo atrás do prejuízo, decide se matricular em algumas disciplinas em uma faculdade que parece ser freqüentada apenas por figuras estranhas e excluídas de alguma forma. E a professora da turma, uma Julia Roberts blasé e pavio curto, não está muito animada a seguir com o curso, mas acaba sendo conquistada pelas alegres figuras. Como se podia prever, um clichê.
A ideia do “feel good movie of the year” (ou filme para se sentir bem) é a melhor definição para este filme, que nunca consegue sair do morno. Não empolga ver um cara bonzinho, cercado por pessoas boazinhas, que está destinado a um futuro bom. Não há conflitos, não há nem dúvida quanto ao que vai acontecer, já que o cartaz e o subtítulo idiota tratam de adiantar tudo. E nem precisava. Há alguns bons momentos, mas nada que justifique uma sessão inteira de cinema.
A roteirista Nia Vardalos, que conhece o casal Hanks-Rita Wilson desde os tempos de Casamento Grego (My Big Fat Greek Wedding, 2002), não conseguiu emplacar mais nada desde seu grande sucesso e, em dupla com Hanks, não é melhor sucedida. Os atores fazem o que podem e Julia Roberts está mais bonita do que de costume. Os vizinhos que vendem tudo no passeio de casa não acrescentam nada, a turma de motoqueiros “do bem” não é relevante e o professor vivido por George Takei (o Sr. Sulu da série original de Star Trek) não chega a participar o tanto que merecia. Os pequenos papéis de Bryan Cranston, da premiada série Breaking Bad, Wilmer Valderrama, o Fez de That 70’s Show, e Pam Grier, que teve sua carreira revivida com Jackie Brown (1997), passam pela tela sem dizer muito.
No dia seguinte, pude assistir a Amor a Toda Prova, outro título nacional infeliz. Mas é uma surpresa grata ver o time liderado por Steve Carell (mais lembrado como o chefe de The Office – acima, com Gosling) contar uma história inteligente e engraçada que ainda consegue ser sensível e manter o bom nível, ao contrário de outras comédias por aí. Entre os nomes principais, temos Ryan Gosling, Julianne Moore, Emma Stone, Marisa Tomei e Kevin Bacon, todos impecáveis, além de uma ponta do cantor Josh Groban. E o jovem Jonah Bobo (da série The Backyardigans) rouba a cena frequentemente como o filho adolescente de Carell e Julianne.
A história começa com o casal jantando e, ao pedir a sobremesa, o personagem de Carell é surpreendido por um pedido de divórcio. Entre situações engraçadas e outras tristes, o filme se mantém plausível, quase nunca exagerando em suas coincidências. Cal Weaver, o recém-separado pai de família, não tem ideia de como é entrar em um bar e paquerar uma estranha atraente. Para dar uma mão, o conquistador vivido por Gosling se oferece para ensinar alguns truques e levantar a vida amorosa de Cal.
A dupla de diretores, Glenn Ficarra e John Requa, já havia conduzido a igualmente sombria e incomum comédia O Golpista do Ano (I Love You, Philip Morris, 2009), que merecia ter tido um pouco mais de destaque. E o roteirista Dan Fogelman escreveu também as animações Carros 1 e 2 e Bolt – Supercão, entre outros. Dá a impressão que ele resolveu partir para um humor mais adulto, sem que isso signifique distribuição de escatologia e preconceitos. E acertou bastante, criando uma comédia romântica (sim, é) bem diferente das demais, aquelas que não costumam valer um grão do sal da pipoca. Como deve ser o caso, por exemplo, do próximo trabalho da atriz Kate Hudson (de Como Perder um Homem em 10 Dias, 2003), o já anunciado Pronta para Amar (A Little Bit of Heaven, 2011). Desse, passarei longe.