por Marcelo Seabra

Barney é um sujeito rabugento, cheio de defeitos e fisicamente comum, como há centenas por aí. Mas suas reclamações e senso crítico aguçado o tornam uma pessoa divertida, se você não precisa passar muito tempo com ele. Sua vida é conturbada, amigos e amores passam e deixam suas marcas. Resumindo: a vida de Barney é interessante o suficiente para virar um livro. Depois, quem sabe, até um filme.

Minha Versão do Amor (Barney’s Version, 2010) é a adaptação de um romance de Mordecai Richler que não pode ser classificado como comédia, drama ou suspense. Mas há riso, choro e intriga. Mais ou menos como no mundo real, Barney não é apenas uma coisa, um estereótipo qualquer. Ele é um chato que acaba se tornando uma figura curiosa. Muito, devido ao grande talento de Paul Giamatti, agraciado com um Globo de Ouro como melhor ator em um filme de comédia ou musical por este trabalho.

Capaz de participar de comédias escrachadas como Se Beber Não Case! Parte II (The Hangover II, 2011), dramas de época como A Última Estação (The Last Station, 2009) e policiais como Mandando Bala (Shoot ‘Em Up, 2007), Giamatti vem consolidando uma bela carreira e, aqui, volta merecidamente a assumir o papel de protagonista. Seu Barney se torna alguém querido para o espectador, que passa a se importar com ele e a torcer por uma boa resolução para seus dramas. Exatamente como aconteceu em outras duas produções estreladas pelo ator, Anti-herói Americano (American Splendor, 2003) e Sideways – Entre Umas e Outras (2004), dois ótimos exemplos de seu talento.

Com a competência habitual, Dustin Hoffman (Oscars por Kramer vs. Kramer, 1979, e Rain Man, 1988 – ao lado) reforça o elenco como o pai de Barney, um policial simples e falante que está sempre lá para apoiar o filho. Scott Speedman (da série Felicity e de Os Estranhos, de 2008) faz um grande amigo de Barney e suas esposas são vividas por Rachelle Lefevre (que fez sua escolha e teve que deixar a “saga” Crepúsculo), Minnie Driver (de Gênio Indomável, 1997) e Rosamund Pike (a bondgirl de Um Novo Dia para Morrer), e vemos ainda Mark Addy (o rei de Game of Thrones) e Bruce Greenwood (de Star Trek, 2009) em participações menores.

Demonstrando grande devoção ao material original de Richler, lançado em 1997, o diretor Richard J. Lewis, o roteirista Michael Konyves e o produtor Robert Lantos fazem uma homenagem ao escritor prestando atenção a detalhes e fazendo pequenas e justificadas mudanças, como tirar a juventude dos personagens da Paris dos anos 50 e a levar para a Roma dos anos 70. Não pretendo entrar na dispensável disputa entre livro e filme, mesmo porque é bem possível que os fãs de um gostem do outro.

Minha Versão do Amor (ou A Versão de Barney, que seria um título melhor) passou rapidamente pelos cinemas e muita gente nem deve ter notado. Mas já é possível corrigir esse erro nas locadoras. Apesar de todo o álcool, charutos, hockey e mancadas, foi uma vida bem vivida, que vale a pena acompanhar.

Em seu segundo casamento, Barney conhece a mulher de sua vida

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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