por Marcelo Seabra
Juro que eu havia vencido aquela resistência inicial contra o galã vampírico-adolescente Robert Pattinson (acima). Depois do mais-do-mesmo Lembranças (Remember Me, 2010), que ignorei solenemente, ele decidiu tentar algo diferente. E, diabos, Leonardo Di Caprio teve sua grande chance com o intragável Titanic (1997), mas acabou se mostrando um bom e versátil ator a ponto de se tornar colaborador habitual de Martin Scorsese. Logo, por que não dar uma chance a Pattinson? Mal sabia eu aonde estava me metendo…
Segurando o quarto lugar nas bilheterias americanas em sua segunda semana de exibição, Água para Elefantes (Water for Elephants, 2011) é um filme apenas correto, como há às dúzias. Seus dois pontos fortes respondem por Francis Lawrence e Rosie. Lawrence, lembrado por Constantine (2005) e Eu Sou a Lenda (2007), curiosamente decidiu dirigir um drama e demonstra saber o que faz, garantindo uma parte técnica impecável. Belas imagens e figurinos marcam a produção. E a estrela, entre tantos personagens rasos e monótonos, é a elefanta (ou aliá, sei lá) Rosie, que tem mais carisma que o elenco todo junto.
A história, bobinha como as que o roteirista Richard LaGravenese (P.S. Eu te Amo, 2007, e O Encantador de Cavalos, 1998) se habituou a escrever, se baseia no livro homônimo de Sara Gruen. A trama se passa durante a Grande Depressão, época que fez várias vítimas mas parecia não atingir a família de Jacob Jankowski (Pattinson). Isso, até seus pais morrerem em um acidente e ele descobrir que tinha praticamente apenas a roupa do corpo, após saldar as dívidas do pai. Sem saber o que fazer, o estudante de veterinária pega carona num trem e acaba se juntando a um circo itinerante.
Além de um estereótipo aqui, outro ali, compondo o grupo, conhecemos o dono do circo, August (Christoph Waltz, Oscar de ator coadjuvante por Bastardos Inglórios, de 2009), sádico como todo vilão deveria ser, e Marlena (Reese Witherspoon, Oscar de atriz principal por Johnny e June, de 2005), sua esposa e principal atração, à frente de seus cavalos domados. Claro que Marlena logo atrai a atenção de Jacob e os dois tentam resistir a uma grande paixão, impossibilitada por August.
Em um determinado momento, August compra uma elefanta e a graça começa. A relação de Jacob e Rosie tem muito mais química que a do rapaz com Marlena. A história não permite que os personagens passem de tipos rasos. Reese está bem sem sal e vai com o vento, enquanto Waltz se afunda no papel de malfeitor ao qual está se acostumando – além de Bastardos, se repete em Besouro Verde (2011) e a nova versão de Três Mosqueteiros (2011). Entre as participações menores, temos Hal Holbrook (Na Natureza Selvagem, 2007) como o Jankowski ancião que narra a história, e James Frain, conhecido do público da série The Tudors (2007 – 2010), como o dono de Rosie. Nenhum dos dois fica em cena tempo suficiente para se comprometer.
As fãs da “saga” Crepúsculo que me perdoem, mas Pattinson tem um longo caminho pela frente para ser chamado de ator. Nem a narração salva, sempre no mesmo tom sonolento, além de não ter carisma algum. Como Jacob está sempre com cara de deslocado, Pattinson consegue enganar por alguns minutos, mas basta exigir dele um pouco mais que seu ar blasé que vem a decepção. Por isso, continuo evitando as exibições na TV a cabo de Lembranças. O mesmo vale para Crepúsculo, Lua Nova, Minguante etc.
PS: Tem ficado complicado ir ao cinema. Quanta gente sem educação tem no mundo!