por Marcelo Seabra
Patricinha da cidade grande chega a vilarejo, acidentalmente faz o bonzão local ficar mal frente aos amigos e sai impune, rumo ao casebre que alugou para, sozinha, escrever. Ela não contava que o tal bonzão e os tais amigos igualmente incapacitados intelectualmente seriam os caipiras de plantão que assobram as pessoas cultas e urbanas desde os tempos de Sob o Domínio do Medo (Straw Dogs, 1971) e Amargo Pesadelo (Deliverance, 1972). Logo, ela teria que pagar sendo aterrorizada, torturada e estuprada (como podemos ver acima), reforçando estereótipos de jovens do interior, que seriam estúpidos e unidos na violência, e mostrando uma polícia que remete a O Massacre da Serra Elétrica (The Texas Chainsaw Massacre, 2003).
Por um milagre (não explicado), a moça (Sarah Butler – ao lado)sobrevive e reaparece com sede de sangue. Alguma coisa mudou dentro dela e, agora, apenas a morte do grupo não vai satisfazê-la. Começa, então, uma espécie de O Albergue (Hostel, 2005) rural, um novo marco no nojento subgênero conhecido como torture porn. A cena da jovem debilitada se afastando em um campo aberto lembra as crianças de filmes de terror japoneses, com o cabelo longo e bem preto tapando o rosto e fazendo movimentos erráticos, como se fosse um robô entrando em curto.
Se estas poucas linhas já te deixaram enjoado, posso garantir que não foi só a violência exacerbada que causou isso. O amontoado de clichês e exageros ajudou bastante. De vítima, a jovem vira o Jason de Sexta-feira 13 (Friday the 13th, 2009), uma exímia caçadora que parece ser cruel desde pequenininha. Aí, começam os Jogos Mortais (Saw, 2004), com um a um do bando morrendo de uma nova e criativa forma, causada por eles mesmos (em quase todas). Nesse momento, A Última Casa (The Last House on the Left, 2009) é deixado para trás no quesito verossimilhança e o longa nos apresenta a uma formidável psicopata, pior do que seus algozes.
Agora que o prezado leitor já sabe o que o espera, posso entregar o título dessa horrenda produção: I Spit on Your Grave, que no Brasil virou o amável Doce Vingança. O mais incrível é tratar-se de uma refilmagem de uma obra que já uma tristeza, e acabou saindo pior que o original (de 1978), que focava mais na vingança de Jennifer (este é, inclusive, seu título nacional) do que na sua tortura, como é o caso do novo. O roteirista do primeiro escreveu outros dois filmes igualmente toscos e o do segundo está em seu primeiro trabalho. Não terá uma carreira muito promissora, se depender apenas dessa amostra. E não vale a pena mencionar nomes.
Em A Última Casa, também uma refilmagem, a questão da vingança é bem melhor retratada, já que os personagens reagem por necessidade, e não decidem torturar pessoas por prazer. Este, inclusive, é um filme que recomendo a quem quiser conferir um suspense/terror interessante, com bons atores (Tony Goldwyn e Monica Potter, os pais da menina – ao lado) e um rápido desenvolvimento. Mas qualquer um dos citados ao longo deste texto é melhor que Doce Vingança, de longe (ok, talvez dê empate técnico com o igualmente ruim O Albergue).
O filme é muito bom!
Você critica porque não pode fazer melhor!!
É, Alexandre, todo mundo tem direito a opinião. Mas é muito mais interessante quando ela é embasada por argumentos.
Abraço!