por Marcelo Seabra
Os Beatles, juntos ou separados, continuam sendo inspiração, seja para filmes, livros, bandas, documentários, discos etc. Esta semana, depois de um atraso de três meses, chega em BH O Garoto de Liverpool (Nowhere Boy, 2009), mais um filme a explorar essa fonte. A diferença, aqui, é que a proposta da artista plástica e diretora Sam Taylor-Wood é visitar a adolescência de John Lennon e sua relação com as duas mulheres que ajudaram a formar a celebridade que o mundo conheceu: sua mãe e sua tia.
O longa começa apresentando o jovem John, que vivia com os tios que o criaram, Mimi (Kristin Scott Thomas, indicada ao Oscar em 1996 por O Paciente Inglês) e George (David Threlfall, de Elizabeth – A Era de Ouro, de 2007). A música é apenas o pano de fundo, já que foi nessa época que o jovem Lennon começou a ter contato com o rock ‘n’ roll, através de discos importados dos Estados Unidos e das rádios locais.
Foi também quando descobriu que sua mãe, com quem não tinha contato, morava relativamente perto. Assim, John começa a construir uma relação mais próxima com Julia (Anne-Marie Duff, de A Última Estação, de 2009), que havia se casado novamente e tinha até filhos com o atual marido (David Morrissey, ainda não perdoado por Instinto Selvagem 2, de 2006). E sua tia Mimi, bastante protetora, já prevê uma nova decepção, esperando que sua irmã traga novamente problemas ao adolescente.
A atuação do protagonista, Aaron Johnson (que ganhou visibilidade após estrelar Kick Ass, de 2010 – na foto ao lado, com sua noiva, a diretora Taylor-Wood), é acertada. Há alguma semelhança física com o ídolo retratado e ele pôde abusar de seu sotaque inglês, característica marcante dos nativos de Liverpool. Johnson se mostrou uma boa escolha, ao contrário de Thomas Brodie-Sangster (de Simplesmente Amor, de 2003), que parece ter cinco anos a menos que seu Paul McCartney deveria ter (apesar de o ator estar então com 19 anos). As duas grandes figuras femininas, Kristin e Anne-Marie, acabam sendo o destaque da produção. Elas são fortes e competentes o suficiente para mostrar o contraste entre as personalidades das irmãs Stanley.
O livro (ao lado) no qual o roteiro se baseia foi escrito por uma dessas meias-irmãs de John, Julia Baird, a mais velha do casamento de Julia e Bobby. A obra enumera vários fatos, o que garante que o filme seja cronologicamente acurado. Mas a cineasta de primeira viagem Taylor-Wood não conseguiu vencer a barreira do “apenas correto” e fazer um filme mais emocionante, menos convencional. Pode-se dizer que o próprio John teria achado tudo muito certinho. Talvez, o grande porém seja o filme mostrar uma figura fascinante em seus anos não tão fascinantes assim.
Vale lembrar que a história de O Garoto de Liverpool termina exatamente aonde começa a de um outro longa, o superior Os Cinco Rapazes de Liverpool (Backbeat, de 1993 – abaixo). E é neste período que as coisas começam a ficar realmente interessantes. Este, além de ser um bom filme, tem uma trilha sonora fantástica.
Vida e música ganharam espaço nas grandes telas, né?! Agora vem por ai Raul Seixas, Justin Bieber, Mamonas Assassinas….