por Marcelo Seabra
Já que eu estava falando sobre uma adaptação de quadrinhos pouco conhecidos por aqui e que chegou discretamente no Brasil (veja comentário sobre Os Perdedores abaixo), aproveitei para conferir Terror na Antártida, tradução infeliz de Whiteout, apenas mais uma entre várias. Baseado na HQ independente de Greg Rucka e Steve Lieber, o filme é tão ruim quanto seu título nacional e desperdiça uma boa premissa.
Depois de uma pós-produção de mais de dois anos, o longa foi lançado nos Estados Unidos em setembro de 2009, chegando por aqui no mês seguinte. Tanta demora não poderia significar coisa boa, e não deu outra. Fica a impressão que montaram e remontaram o material que tinham em mãos até concluírem que o diretor, Dominic Sena (60 Segundos, A Senha: Swordfish), era mesmo ruim de serviço e que não havia salvação.
Na tela, temos uma Kate Beckinsale (da série Anjos da Noite – ao lado) insossa como sempre tentando dar vida a Carrie Stetko, uma agente federal que, devido a um trauma passado (sem graça e logo revelado), é transferida para um lugar onde nada acontece, a Antártida. Lá, durante seis meses por ano, ocorre um fenômeno: uma nevasca de proporções gigantescas, com ventanias velozes e uma brancura insuportável que só permite enxergar algo a um palmo de distância (a whiteout do título). Aos 47 do segundo tempo, a poucas horas do último vôo para voltar aos Estados Unidos (antes da grande nevasca), Stetko descobre um cadáver e é obrigada a investigar o primeiro assassinato de que se teve registro na Antártida.
O elenco de apoio não tem muito o que fazer. Tom Skerritt (do primeiro Alien, de 1979) é um médico que representa uma espécie de tutor para Carrie e acaba acompanhando o desenrolar do caso. O pobre Gabriel Macht, que se viu afundando como outro personagem de quadrinhos, The Spirit (de 2008), cai de pára-quedas na trama como um enviado da ONU que aparece no momento mais inoportuno, obviamente para se tornar um suspeito. E é incrível como Stetko confia nele. Columbus Short, também de Os Perdedores, é o piloto de aviões que avista o cadáver e atiça Carrie a ir atrás.
Vários recursos poderiam ter ajudado a salvar o projeto. A ideia da nevasca não permitir enxergar nada já traria uma carga de terror para a história, já que o pior é o que não se vê. Algumas cenas poderiam ter sido filmadas em primeira pessoa, aumentando a sensação de cegueira frente ao branco intenso. Uma edição mais ágil, personagens melhor desenvolvidos e mais tensão, como acontece nos quadrinhos, teriam levado a um resultado bem superior.
A única cena bastante comentada (ao lado), que fez o filme ser digno de menção por diversos sites, só é lembrada por mostrar a protagonista de roupa de baixo e, pouco depois, no chuveiro. Mas, é bom avisar, trata-se de uma dublê de corpo, o que torna a cena, que já era desnecessária, tão falsa quanto o suspense que deveria percorrer todo o longa.
Curiosidade: passei o filme todo acreditando que o doutor John Furry (vivido por Tom Skerritt) era, na verdade interpretado por Kris Kristofferson (da trilogia do caçador de vampiros Blade). Confira a semelhança entre eles abaixo.
O filme deve ser uma gelada. Bom texto. Abs, meu caro.