por Marcelo Seabra
Pronto, acabou o suspense. Não que o Brasil inteiro pare por causa do Oscar, mas uns aqui e outros ali realmente queriam saber o que aconteceria. Como a cobertura é cronológica, não vou entregar de cara quem ficou sendo o grande vencedor da noite, mas alguns filmes, como Inverno da Alma (Winter’s Bone), já saem ganhando por serem indicados, já que atraem uma atenção bem maior do que outros independentes.
Depois de Kirk Douglas ser ovacionado de pé, o veterano entrega o Oscar de Atriz Coadjuvante para Melissa Leo, por O Vencedor (The Fighter), com ou sem campanha pedindo votos. Ela já havia sido indicada como Melhor Atriz por O Rio Congelado (The Frozen River, 2008). Depois de um longo discurso e um palavrão proferido para milhões de espectadores, Leo finalmente deixa o palco. E podemos ver Matthew McConaughey na platéia – não sabia que ele podia entrar em ocasiões como essa.
Josh Brolin e Javier Bardem chamam o Melhor Roteiro Adaptado, outra barbada: claro que é Aaron Sorkin, em sua primeira indicação, por A Rede Social (The Social Network). Fica a pergunta: e Toy Story 3 é adaptado do quê? Em seguida, temos Melhor Roteiro Original, que fica para O Discurso do Rei, desbancando minha aposta em A Origem. É a primeira indicação de David Seidler, que se descreve um “late bloomer” (alguém que “desabrocha” tarde). Ele levou também o BAFTA e o British Independent Film Award, entre várias indicações este ano.
Ficamos sabendo que a ABC continuará a televisionar o Oscar nos EUA e chegam os australianos Nicole Kidman e Hugh Jackman, par de Austrália (2008), para anunciar a Melhor Trilha Sonora Original. Após uma fantástica apresentação da orquestra (e do novo palco-telão), com os temas clássicos do cinema e, na sequência, dos indicados deste ano, são confirmados vencedores Trent Reznor e Atticus Ross, por A Rede Social. Mixagem de Som, o prêmio seguinte, fica com A Origem, sob a responsabilidade de Lora Hirschberg, Gary Rizzo e Ed Novick. Edição de Som, ainda com Matthew McConaughey e Scarlett Johansson apresentando, vai novamente para o favorito A Origem. Richard King, o editor, havia ganhado por O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, 2008), também de Nolan, e Mestre dos Mares (Master and Commander: The Far Side of the World, 2003), além de acumular uma indicação por Guerra dos Mundos (War of the Worlds, 2005).
Cantando uma música de O Picolino (Top Hat, 1935), Kevin Spacey chama Randy Newman para executar a primeira Canção Original indicada da noite, We Belong Together, de Toy Story 3. Apesar de mediana, é a melhor das indicadas. Alan Menken no piano, com Mandy Moore e Zachary Levi (da série Chuck) cantando, apresentam a música de Enrolados (Tangled), I See the Light. Acredite: é mais ou menos neste ponto que começa a transmissão da TV Globo, com o ridículo José Wilker dizendo que “está chutando” em seus palpites sobre Melhor Ator e Atriz. Aproveitaram para fazer um flashback das premiações que aconteceram antes da transmissão, a coisa mais patética que já vi a Globo fazer (não, já vi pior).
A próxima categoria bem poderia ser entregue num outro dia e apenas comunicada na noite de hoje: Melhor Documentário em Curta-Metragem. Levou o Strangers No More, e ninguém viu nenhum dos cinco – ao menos no Brasil. O Melhor Curta-Metragem de Ficção ficou com God of Love, com o figuraça Luke Matheny, cria da Academia, agradecendo e avisando que deveria ter cortado o cabelo. Um clipezinho abusando do já popular software Auto-Tune força ligeiramente a barra, brincando com filmes do ano no formato musical e fechando com uma piada com o descamisado lobisomem da saga Crepúsculo. O Melhor Documentário em Longa-Metragem, anunciado por Oprah Winfrey, é Inside Job. Confesso que foi ótimo ver o tal mascarado Banksy, um grafiteiro que virou estrela da noite pro dia, não levar. Os diretores começam o discurso lembrando que nenhum dos executivos envolvidos na crise financeira global de 2008, assunto de seu filme, foram presos.
Continuando com mais duas canções indicadas, Jennifer Hudson chama If I Rise, de 127 Horas, com Florence Welch e A.R. Rahman, e Coming Home, com Gwyneth Paltrow, do filme Country Strong. Após mais um envelope difícil de abrir, Randy Newman leva seu segundo Oscar, entre vinte indicações (o que ele faz questão de lembrar em seu discurso). O anterior também foi trabalhando com a Pixar, por Monstros S.A. (Monsters Inc., 2001).
A sempre enervante Céline Dion canta Smile , de Chaplin, para lembrar os falecidos do último ano. Nomes como Blake Edwards, Tony Curtis e Leslie Nielsen farão falta, entre muitos outros. Homenagem especial a Lena Horne, atriz e cantora negra falecida aos 92 anos, que abriu caminho para outros atores negros ao assinar longo contrato com um grande estúdio de Hollywood.
Os Governors Awards do ano homenageiam Kevin Brownlow, Eli Wallach, Jean-Luc Godard e Francis Ford Coppola, em cerimônia realizada em novembro passado. Na noite dos Oscars, Godard não comparece, e seus três colegas silenciosamente agradecem a menção. Eis que surge Jeff Bridges, Melhor Ator do ano passado, para apresentar o prêmio de Melhor Atriz. Um rápido trecho de cada filme, algumas palavras de Bridges para cada indicada, e Natalie Portman sobe para apanhar sua previsível estatueta com total apoio do pai da sua criança, que já aparece bem na barriga. Agora por Cisne Negro (Black Swan), Natalie estava indicada pela segunda vez, a primeira tendo sido por Closer – Perto Demais (2004). Em seguida, Sandra Bullock faz o mesmo papel de Bridges na escolha do Melhor Ator, falando sobre cada um e anunciando o vencedor. Em sua segunda indicação (consecutiva), Colin Firth confirma os palpites e fica com o prêmio. Ano passado, por Direito de Amar (A Single Man), perdeu para Bridges (em Coração Louco – Crazy Heart), e agora deu o troco.
Fechando a noite, Steven Spielberg entra para tirar entre dez indicados o Melhor Filme do ano. Sob um monólogo do rei de Firth, são exibidos trechos de todos, inclusive mostrando, sem cerimônias, momentos importantes das histórias, os famosos spoilers. Spielberg aproveita para lembrar alguns grandes filmes que foram “apenas” indicados, como Cidadão Kane (Citizen Kane, 1941) e Touro Indomável (Raging Bull, 1980). Novamente, O Discurso do Rei surpreende e rouba o Oscar de A Rede Social. James Franco e Anne Hathaway se despedem chamando um bando de criancinhas para cantar (Somewehere) Over the Rainbow, clássico da trilha de O Mágico de Oz (The Wizard of Oz, 1939). Final brega com criancinhas cantando, séria injustiça com A Rede Social, mas A Origem levou quatro, o que é uma ótima surpresa. Acabou equilibrado. E tarde.
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