por Marcelo Seabra
Analisando-se as indicações ao Globo de Ouro, divulgadas no último dia 14, pode-se chegar a uma inusitada conclusão: os dramas do cinema não têm chegado no calcanhar dos dramas da televisão. A maioria dos indicados na categoria Melhor Filme – Drama não chegou ainda em terras brasileiras, e a maioria dos indicados em Melhor Filme – Comédia ou Musical é uma piada. Onde já se viu indicar RED ou Alice no País das Maravilhas a melhor filme do ano (ainda que em uma categoria mais restrita)? Não são ruins, mas estão longe de serem o destaque do ano. Apesar de não terem chegado aqui ainda, Burlesque e O Turista já têm recebido críticas negativas e não foram exatamente bem de bilheteria, apesar dos nomes famosos envolvidos. Se o público não gostou e a crítica também não, como foram parar ali? Será que faltaram opções?
Enquanto isso, temos a categoria Melhor Série para Televisão – Drama, que me deixaria com um grande problema, caso eu fosse membro da Associação de Imprensa Estrangeira em Hollywood e tivesse que escolher apenas um indicado. A única indicada com a qual não tenho ainda uma ligação afetiva é The Good Wife, que não me atraiu e acabei deixando para um depois que parece não chegar. Mas, para pegar uma vaga que poderia ser de Justified, Breaking Bad ou várias outras que têm recebido elogios, não deve ser ruim.
A única série que sairia na frente é Dexter, de todas a que sigo há mais tempo e com mais afinco. O final da quinta temporada não foi o mais emocionante de todos os tempos, mas não ficou nem perto de decepcionante. Além de sermos apresentados a Lumen (Julia Stiles), acompanhamos o crescimento do bebê Harrison em meio às aventuras do pai (Michael C. Hall) e da tia (Jennifer Carpenter), ambos buscando justiça, mas de formas diferentes. Enquanto Debra age dentro da lei para prender criminosos, Dexter tem uma abordagem mais, digamos, definitiva. Destaque, nessa temporada, para as participações de Julia Stiles (indicada como coadjuvante), Johnny Lee Miller e do eterno Robocop Peter Weller.
Outra série que já conheço de outras temporadas é Mad Men, como eram chamados os publicitários que trabalhavam na avenida Madison (apelido cunhado por eles mesmos). Nesta quarta temporada, Don Draper (Jon Hamm) está separado, bebendo como nunca e precisa encontrar uma forma de voltar a ser o gênio criativo de antes. O elenco de apoio continua afiadíssimo (Elizabeth Moss também está indicada, além de Hamm), a reconstituição de época é fantástica e o roteiro faz com que realmente nos importemos com aqueles personagens. Isso tudo, além de acompanharmos os acontecimentos daqueles anos, como a histórica luta entre Sonny Liston e Cassius Clay.
Da união de Martin Scorsese, o produtor e roteirista Terence Winter (de Família Soprano) e a HBO, conhecida pelo realismo que imprime em seus projetos, só poderia vir coisa muito boa. E eis que surge Boardwalk Empire, outra série que recria de forma espetacular uma época importante da história dos Estados Unidos, o período da lei seca. Steve Buscemi, como o protagonista Nucky Thompson, rouba a cena sempre que aparece, conseguindo explorar bem a personalidade rica de seu funcionário público mafioso. Ao mesmo tempo em que encabeça crimes horríveis, é capaz de ajudar uma pobre viúva (a coadjuvante indicada Kelly MacDonald) – deixada nesta condição por ele mesmo, que manda executar o marido abusivo e ainda o usa como bode expiatório. O contraponto é o agente vivido por Michael Shannon, que tenta achar a brecha necessária para jogar Nucky na cadeia. A missão se mostra ainda mais ingrata por o criminoso ter o irmão como xerife de Atlantic City.
A outra novata a ser lembrada na lista é The Walking Dead, da mesma AMC de Mad Men. O tarimbado diretor, produtor e roteirista Frank Darabont, velho conhecido dos fãs de Stephen King (Um Sonho de Liberdade, À Espera de Um Milagre, O Nevoeiro), resolveu levar para a televisão os quadrinhos de Robert Kirkman. Como já observado nas adaptações das histórias do mestre do terror, Darabont se interessa mais pelos dramas dos personagens que por sangue ou criaturas fantásticas. Assim, o cerne da série é as ações que aqueles indivíduos devem tomar em situações extremas, que exigem uma providência drástica. Assim, Darabont conseguiu dar a uma simples história de zumbis uma profundidade que não se vê no cinema. Com os altos níveis de audiência na mesma proporção dos elogios da crítica, a série não poderia fugir de uma indicação.
Com essas séries indicadas aos Globos de Ouro, a cerimônia corre o risco de ser mais emocionante que o Oscar. Ao menos, até os filmes principais da temporada estrearem, como O Discurso do Rei, Cisne Negro e O Vencedor. Mas eu já ando dedicando mais tempo à televisão que ao cinema.
A entrega dos Globos de Ouro acontece nesse domingo, 16/01, a partir das 21h, em Los Angeles. O canal E! começa a cobertura às 19h. Na TNT, Rubens Ewald Filho comenta a partir das 23h.