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Rock in Rio: 34 anos depois, eis a triste lição que o festival me mostrou

Todos numa direção. Uma só voz, uma canção. Todos num só coração. Um céu de estrelas. Se a vida começasse agora…

Foto: Google Images

Em 1985, com 17 para 18 anos, fui à primeira edição do Rock in Rio. Pois bem. Eis que, após 34 anos, finalmente retornei ao evento, que fez história e que é parte da minha história.

Por óbvio, minha vida agora é outra. Do outrora estudante, solteiro e com o sonho de conquistar uma vida financeira mais segura e confortável, para o casado, pai de família e profissionalmente realizado, foi um salto enorme.

Em 1985, eu tinha uma vasta cabeleira e era o que hoje se conhece por “bombadão”. Jogava bola, fazia ginástica, namorava muito e nas horas vagas eu estudava. Naquele tempo, estudar resumia-se a decorar a matéria para as provas e olhe lá.

Em 18 de janeiro daquele ano, por volta de 14hs, deixei com meus amigos o “quarto e sala” da tia de um deles, em Copacabana, onde estávamos todos hospedados, e partimos rumo à Cidade do Rock, um descampado gigantesco a “quase duas horas de viagem do Rio de Janeiro”.

Transporte precário e estrutura precária não eram barreiras para os fãs. Tampouco os temporais e o lamaçal que tomou conta do lugar. Muito menos o cheiro de xixi, álcool e maconha misturados à lama que batia nos joelhos.

Assisti ao Queen, B52’s, Lulu Santos, Kid Abelha, Eduardo Dusek e The Go-Go’s. Bem mais que isso: assisti à passagem de um adolescente para a vida adulta, em uma jornada de anos em apenas um único dia.

O Brasil recém deixara o período militar. Apenas três dias antes, Tancredo Neves fora eleito presidente pelo chamado Colégio Eleitoral, batendo o candidato que representava a situação, Paulo Maluf.

Uma lufada de esperança soprava em nossa direção. Após anos de censura e eleições indiretas, um líder popular prometia novos tempos. E ganha um doce quem adivinhar qual partido político recusou-se a participar da coligação que elegeu Tancredo Neves. Uma dica: o mesmo que foi contra o Plano Real, a Constituição de 88, a Lei de Responsabilidade Fiscal, as privatizações, a adoção de metas para a inflação etc.

Trinta e quatro anos depois, o Rock in Rio também mudou. E como mudou! Estrutura impecável, transporte fácil e rápido (com apoio do poder público, registre-se); atrações para todos os gostos — e idades, hehe; internet rápida e ininterrupta, um verdadeiro show de organização e respeito por cada centavo gasto por seus clientes.

Eu mudei, o Rock in Rio mudou, provavelmente você leitor(a) amigo(a) mudou. O Brasil, de certa forma, também. Em muitos aspectos e segmentos nos modernizamos e progredimos bastante. Infelizmente, em outros, involuímos e nos tornamos medievais. Contudo, é muito triste observar que uma coisa continua exatamente igual: a classe política.

Peguem as letras dos grandes sucessos dos anos 1980. Legião Urbana, Para-lamas do Sucesso, Lobão, Barão Vermelho, Cazuza, Ira… Todos refletem o Brasil da época e o de agora. É como se profetas visionários tivessem escrito sobre um país 35 anos à frente. Corrupção, negociatas, opressão, privilégios, conluios, minuciosamente cantados em verso e prosa como profecias auto realizáveis.

Maluf já era o Maluf. Lula e o PT já eram Lula e o PT. O MDB já era o MDB. Sarney já era o Sarney. Brasília já era Brasília. O Brasil já era o Brasil. Pior! Nós, os brasileiros, já éramos os brasileiros. Ninguém mudou. Nada mudou. Politicamente falando, é claro.

Domingo passado, 34 anos depois, assisti aos irmãos Flausino e Sideral cantarem as músicas de Cazuza:

“Não me convidaram pra essa festa pobre / Que os homens armaram pra me convencer / A pagar sem ver toda essa droga / Que já vem malhada antes de eu nascer… Brasil mostra tua cara / Quero ver quem paga pra a gente ficar assim / Brasil qual é o teu negocio / O nome do teu sócio confie em mim… Grande pátria desimportante / Em nenhum instante eu vou te trair.”
Domingo passado, 34 anos depois, eu não era o mesmo. O Rock in Rio não era o mesmo. Só o Brasil era o mesmo. Que triste sina.
Ricardo Kertzman

View Comments

  • Enquanto isso Inundado, Lulinha Paz e Amor recebe mais um laurel. O homi é dos baum e por sua luta a Cidade Luz concedeu a ele o Título de Cidadão. Já em Pindorama o atual desgovernou aumentou nesses deslustrados dez meses a importação de armas. (Wilson Aragão cantava: Morre muito menas gente, se a guerra é de facão).
    Meu temor é de que os invejosos mordam as próprias orelhas.

    • Há uma enorme distância entre a admiração normal por algo ou alguém e aquela exacerbada que se manifesta pela devoção/idolatria religiosa a seitas religiosa ou políticas ou a pessoas de carne e osso.Mesmo nesse caso, ainda que, como afirmou o médico psiquiatra e ensaísta inglês, Theodore Dalrymple, “idolatrar outro mortal, é abdicar de sua própria humanidade”, é possível se perceber que as causas estão mais relacionadas à ignorância, incultura do idólatra do que a alguma patologia.
      Mas quando essa idolatria chega ao nível extremo de fanatismo, que domina por inteiro a pessoa do idólatra, aí a coisa é gravemente patológica.
      Preciso dizer mais alguma coisa?

    • O macron continua afrontando a hegemonia do povo brasileiro, procurando homenagear o maior ladrão do mundo.

  • Temos a mesma idade, participamos do mesmo evento e então e admito, sua crônica está sensacional. Me deu saudade porém também tristeza

  • Rabo Livre!
    Infelizmente a nossa política é sinônimo de conchavo, saqueamento, roubalheira e certeza de impunidade, pois não existe confiança e respeito, a quem quer que esteja no comando do país.
    A única coisa que fica presa aqui é o rabo, um pobre coitado em idade avançada cumprindo prisão perpétua, sem direito de defesa no judiciário, de progressão da pena, de indulto e nem liberdade com ajuda dos manos togados.

    • Não esperava essa conclusão. E é a triste verdade. Só não é mais triste que saber que daqui a 4 ou 34 anos, tanto faz, a merda será a mesma. Desde a inauguração em 1500, o mesmo roteiro.

  • Aposto que voce foi com a camisa do Bolsonaro, o chimpanze nazista de extrema direita para o qual voce fez campanha. Muito sensatas e coerentes suas atitudes.

  • Viva o Lulinha: cidadão honorário de PARIS! Imaginem a cara do FHC. Porém, os fãs deste presidente cujo maior feito foi vender a Vale a preço de banana, podem se consolar: talvez ele vá receber, algum dia, o mesmo título no Município de Buritizeiro, onde possui uma fazenda que só Deus sabe como adquiriu... É isso aí!

    • Marcos, a Maria Antonieta Tropical se tiver de receber algum prêmio terá de ser por suas ridicularidades.
      De saída em 1985 o Velhão Cachaceiro Jânio da Silva Quadros, lascou: - Até o Professor Cardoso se tornar conhecido em Sapobemba as eleições já terão passado. Mesmo assim ele assentou-se na Cadeira ali pelas bandas do Ibirapuera e teve de ver o assento ser sanitizado, pois suas indevidas nádegas ocuparam a almofada.
      Depois entrou nágua quase pelado e sendo Presidente da República, em companhia do Nelson Jobim, também semi nu, enquanto Presidente do Supremo Tribunal Federal, isso foi no litoral fluminense.
      Mais adiante, no Sertão baiano, proferiu aulas para os capiaus, sob a batuta do Soba ACM e dizia aos atônitos ouvintes: - Perdi a cátedra da USP. Só faltaram perguntar se aquilo era de comer ou de vestir.
      Agora, mais recente, embora seu partido tenha pretensão de fazer frente ao PT quis lançar o Fazendeiro das Bundas, Luciano Huck como candidato a Presidência da República, o qual nem ao partido pertencia.
      Ele não se corrige nunca, é apenas um sujeito tóxico e mesquinho.

  • DESORDEM (TITÃS)
    "São sempre os mesmos governantes
    Os mesmos que lucraram antes
    Os sindicatos fazem greve
    Porque ninguém é consultado
    Pois tudo tem que virar óleo
    Pra por na máquina do Estado
    Quem quer manter a ordem
    Quem quer criar desordem"
    .......
    BRASÍLIA (PLEBE RUDE)
    Capital da esperança
    Asas e eixos do Brasil
    Longe do mar, da poluição
    Mas um fim que ninguém previu
    Brasília, Brasília, Brasília
    Utopia na mentes de alguns

    As luzes iluminam
    Os carros só passam
    A morte traz vida
    E as baratas se arrastam
    As máquinas pram
    As árvores enfeitam
    E a polícia controla
    Ôõo o concreto já rachou
    Ôõo o concreto já rachou
    Ôõo o concreto já rachou
    Brasíliiiiiiiaaaá
    ...........
    E essas pessoas não fazem nada
    Elas não fazem nada
    Elas não fazem nada
    Nada
    Nada
    nada...
    Brasíliiiiiiiaaaá....

  • QUE PAÍS É ESSE/ (LEGIÃO URBANA)
    "Nas favelas, no Senado
    Sujeira pra todo lado
    Ninguém respeita a Constituição
    Mas todos acreditam no futuro da nação
    Que país é esse?
    Que país é esse?
    Que país é esse?
    No Amazonas, no Araguaia iá, iá
    Na Baixada Fluminense
    Mato Grosso, Minas Gerais
    E no Nordeste tudo em paz
    Na morte eu descanso
    Mas o sangue anda solto
    Manchando os papéis, documentos fiéis
    Ao descanso do patrão
    Que país é esse?
    Que país é esse?
    Que país é esse?
    Que país é esse?"
    Terceiro mundo se for
    Piada no exterior

    Mas o Brasil vai ficar rico
    Vamos faturar um milhão
    Quando vendermos todas as almas
    Dos nossos índios num leilão

    Que país é esse?
    Que país é esse?
    Que país é esse?
    Que país é esse?

  • Cara você é o problema do Brasil de milhões de desempregados que agora tem que se preocupar de não ser morto em uma Blitz policial só por ser negro e pobre. Parabéns a você e tudo que a extrema direita representa. Pimenta nos olhos dos outros é refresco né nego.

    • O problema é você, um racista enrustido, que chama os outros de "nego", numa clara adjetivação pejorativa das pessoas de cor preta. Racista!!!!!!!!!!!!!!!!!!

      • Inundado, pra que essa afobação toda? As palavras, no geral, possuem mais de uma conotação. Algumas então são mai ricas. O povo brasileiro com sua criatividade e coloquialidade eleva as potencialidades a enésima potencia. Assim é que Caetano Emanuel Viana Teles Veloso canta "eu sou neguinha"; na feira alguém pergunta; - ô nego, quanto é a dúzia dessa laranja; em outras situações alguém diz: vá mostrar as suas neguinhas; na Bahia tem o: deixe de negrinhagem. Isso é só uma amostra, então, a fala do rapaz não conduz a que ele seja racista!

  • Imagino a sua tristeza, especialmente na época de Rosh Hashaná, em que deveríamos mirar em mudanças, renovaçao, etc.

    Mas na real, embora seja algo mais novo que ti, já perdi a esperança de nos transformamos (país) em algo de relevante:seremos eternamente "o país do futuro", povoado por bons selvagens, preguiçosos, desonestos e egoístas. A nossa média moral é baixa, somos um povo ruim. O pior do Brasil é o brasileiro.

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