Texto do excelente Rodrigo da Silva, editor do não menos excelente site Spotniks. Aproveito e recomendo seu livro “Guia politicamente incorreto da política brasileira”. Um tapa na cara de cada um de nós, pagadores de impostos
Precisamos falar sobre os nossos funcionários públicos — um dos maiores desafios que o governo Bolsonaro terá pela frente nos próximos quatro anos.
No Brasil, o total de servidores públicos na ativa — nos três níveis de governo e nos três poderes — passou de 5,8 milhões, em 2001, para quase 9 milhões, em 2014. Leia-se: um aumento de 54,4%.
Nesses 14 anos, o Estado brasileiro aumentou as despesas com pessoal — 127,3% para ser mais exato, em valores corrigidos pela inflação — fazendo o gasto per capita dos brasileiros com os salários dos seus funcionários públicos quase dobrar: de R$ 976 para R$ 1.925.
Acompanhando a tendência de expansão, os salários do setor público aumentaram como uma flecha durante esse tempo — em média, cerca de 50% nos três níveis de governo, já descontada a inflação do período — mais que o dobro do crescimento salarial médio no setor privado (de 21,4%).
Um servidor público federal brasileiro ganha hoje em média 67% a mais que um empregado na iniciativa privada, mesmo levando em consideração o nível de educação e outras características importantes para o preenchimento de uma vaga equivalente, como idade e experiência.
Nada parecido acontece ao redor do mundo. Na Alemanha, os salários dos servidores são, em média, 7% menores que no setor privado. Na França, 8%. Mesmo em países onde esse montante é maior, como Espanha, Grécia e Itália, a diferença fica em torno de 30%.
Hoje, o governo federal gasta 39,2% das suas receitas só para pagar os seus servidores públicos.
E esse gasto todo evidentemente não significa que nós temos mais funcionários públicos atendendo a população do que os países desenvolvidos. Pelo contrário.
De acordo com os dados da OIT, a relação entre o número de servidores públicos vs a população no Brasil (5,6%) é até mais alta que a média da América Latina (4,4%), mas é bem mais baixa que a dos países desenvolvidos.
A verdade é que o emprego público como parte do trabalho assalariado no Brasil é relativamente pequeno para os padrões mundiais, cerca de 18% (ou 24%, se considerarmos apenas os empregos formais).
Ou seja, se nós gastamos tanto dinheiro com o funcionalismo público – especialmente o federal e estadual – mas há tão menos funcionários públicos no Brasil do que a média mundial (inclusive em outros países federalistas, como Estados Unidos, Canadá e Austrália), isso não ocorre por outro motivo a não ser pelo fato de que o pagador de impostos brasileiro é o patrão mais generoso do mundo.
Não resta dúvida, é verdade, de que ainda temos muitos servidores públicos mal remunerados, em condições de trabalho degradantes, sem estímulo ou estrutura para desempenhar um trabalho adequado — especialmente no funcionalismo municipal, onde a remuneração média é equiparável à iniciativa privada. Mas quando analisamos friamente os números da Pnad, do IBGE, não encontramos muita dificuldade em localizar o quão privilegiada pode ser a categoria.
54% dos servidores públicos brasileiros (em todos os níveis administrativos) encontram-se no quintil superior da distribuição de renda nacional e 77% estão entre os 40% mais ricos. Mais de 25% dos nossos servidores públicos ganham mais de R$ 10 mil por mês e mais de 17% encontram-se na faixa mais alta, com salários mensais acima de R$ 13 mil, o suficiente para incluí-los entre o 1% mais rico do país.
Parece justo para quem é parte do bolo, mas contribui profundamente para a nossa desigualdade social.
Hoje, os nossos servidores públicos federais estão no alto da pirâmide social: dois terços no decil superior de distribuição de renda, 83% entre os 20% mais ricos, e praticamente todos, 94%, entre os 40% mais ricos (onde também estão 89% dos servidores públicos estaduais e 66% dos servidores municipais).
Com tamanha disfunção, o Estado acaba literalmente contribuindo mais com a desigualdade social no país do que a iniciativa privada — e esta é uma conclusão do IPEA, uma fundação pública.
Principalmente porque todo esse montante vira uma bola de neve impagável nas aposentadorias e pensões – de longe o nosso maior problema econômico e social, e o maior desafio que temos como nação nesse momento.
Considerando os últimos 15 anos, o déficit do sistema de Previdência Social do setor público somou R$ 1,3 trilhão para 1 milhão de pessoas, enquanto o déficit do INSS somou R$ 450 bilhões para 29 milhões de aposentados da iniciativa privada.
Só um pequeno grupo de funcionários públicos, cujas aposentadorias e pensões excedem o teto, representa menos de 5% dos beneficiários do Sistema Previdenciário brasileiro, mas se apropria de quase 20% dos recursos distribuídos pela Previdência.
O gasto no Brasil com previdência não é apenas o mais alto no mundo entre os países de população jovem, nós também gastamos mais que o dobro dos países desenvolvidos com a previdência dos funcionários públicos.
O que não significa, claro, que eles são inimigos do país ou que é preciso instituir uma caça às bruxas à categoria.
A descrição desde texto não é de inviabilidade moral, mas matemática: ou o Brasil corrige de uma vez por todas a conta com os seus funcionários públicos, ou nós acabamos todos juntos indo para o buraco.
(Fim)
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Se o leitor amigo chegou até aqui e encontrou uma só vírgula fora do lugar, desafio-o a me mostrar qual e onde.
Parabéns, Rodrigo! Sou seu fã.
Ricardo
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Pertinente. Dois detalhes: 1) não custava dizer sobre os penduricalhos e aposentadorias dos melhores poderes do país, judiciário e legislativo; 2) poderia mostrar comparativo do número de funcionários públicos por habitante tendo em vista os ultra citados países europeus.
Kkkkkk...... esquizofrênico!
Olá Inundado, acontece que neste país SOCIALIZA-SE tudo que seja despesa, fomento, investimentos e prejuízos, pois, de outra mão privatiza-se os resultados, o sumo gostoso. Como assim? A Embraer, supra sumo, crema de la crema, cereja do bolo. Trata-se de uma frondosa árvore que nasceu de semente estatal, assim cresceu até ganhar o mundo pela via da excelência. Sonho e capacidade de idealistas. Ai quando pejada de nobilíssimos frutos foi passada a dono particular. Este tem apenas uma pauta, lucro imediato. Agora, como não ha orgulho, não ha sobranceria, não ha brio na elitizinha rapinosa, extrativsta e predadora ela foi entregue para os EUA. Daqui a pouco eles irão transferir para lá o setor do laboratório e da pesquisa, onde esta o cerne da coisa, o cérebro e os melhores salários, claro; depois transferem outros departamentos até que o Brasil ficará como uma filial para testes e manutenção. Não faz muito tempo vimos esse filme com a Metal Leve. Vai ouvindo.
Se formos promover uma caçada às bruxas da previdência, iremos encontrar de imediato todos os militares aposentados, além das pensões que os familiares continuam percebendo por diversas décadas. Essas aposentadorias são todas acime do teto. Aí, o bicho pega, e ninguém quer tocar nesse assunto.
Só a título de exemplo: conheço uma distinta senhora, médica, casada, com três aposentadorias. Uma paga por um órgão federal, como ex-professora, outra pelo INSS, decorrente de consultório médico particular. Mas tem uma terceira e adivinhem: decorrente da morte do pai, MILITAR, percebida até hoje, mesmo sendo casada e já tendo outras duas. Dá prá vocês?
O Sr. Ricardo poderia ter se aprofundado mais na sua pesquisa. Sr. Ricardo o Sr. Pelo visto desconhece a realidade do serviço público e seus servidores. Deveria bater pesado em cima dos magistrados e membros do ministério público. Vc se acovardou em apontar os reais ofensores. Vc não deve ter pesquisado direito. Da próxima vez que for citar servidores públicos, não generalize tanto, tenha coragem de colocar de verdade o dedo na ferida. Medroso!
Ou você não leu ou leu e não entendeu nada! Pior. Sequer conseguiu compreender que o texto não é meu, de tão atencioso ou inteligente que é.
Ah! Magistrados e membros do MP não são funcionários públicos, não?!?
Seu comentário foi bem infeliz por se tratar do dono do blog.
Ao contrário!! Prerrogativa do dono, hehe
Ahh, Ricardinho deve ter sido visitado por algum fiscal da Receita Federal e está chorando agora, sugestão contrate um advogado tributarista e não um amigo advogado
Fiscal da receita é nóis, mano!! E advogado tributário e advogado amigo é tudo igual
Como você bem costuma pontuar, há servidores e servidores. Acredito que o problema no nosso país talvez não esteja na remuneração dos servidores, mas na qualidade do serviço prestado para o salário recebido. Penso que a iniciativa privada no país paga mal, também enforcada pela absurda carga tributária, e aí é que se dá infracional entre os salários públicos e privados. Com a proposta de alívio da tributação para quem produz, quem sabe não daremos um primeiro passo para melhorar essa relação salarial, não trazendo todos para baixo, mas tentando levar a média para cima? Além disso, a aposentadoria do serviço público é uma vergonha. Deveria ser idêntica à privada. Todos pelo INSS pagando e recebendo conforme o que acumulam durante a labuta. Não encontro nenhuma justificativa para uma única categoria ter privilégios na aposentadoria. Podemos discutir tempo de contribuição e tal, mas os valores recebidos devem ser de acordo com o que se acumula pagando enquanto trabalham. Se alguém quer ir além à previdência pública, que acumule na previdência privada, ou no mercado de ações, ou na poupança. Da ate pra discutirmos a existência da obrigatoriedade da previdência pública para todos os trabalhadores. Pq ela não é opcional? Pq temos que bancar aposentadorias especiais. Quando isto acabar, que tal tornar o INSS uma opção para o trabalhador, não uma obrigação? Abs
Abraço
Concordo Amorim. Os dois regimes devem ser nivelados. O regime próprio com o regime geral. Entretanto, só fazendo uma correção no seu post. Desde 2013 os servidores aposentam igual o INSS. O Brasil vai completar 6 anos nesse nova forma. Ainda é cedo para colher os frutos disso (só daqui a 30 anos). Os que estão aposentando agora podem entrar em várias formas de aposentadoria, devido as regras de transição (são as benesses já conquistadas). Esses aí que vão ferrar a previdência por um bom tempo.
O texto se omite em relação ao salario minimo das nações comparadas a realidade brasileira, realmente proporcionar o minimo de dignidade ao trabalhador...no que pese existirem realmente algumas categorias privilegiadas não acho que a solução seja reduzir todos os trabalhadores brasileiros ao patamar do salário minimo brasileiro, mas remunerar melhor a todos, elevando a renda geral do trabalhador brasileiro...valorizando a mão de obra assim como é valorizada lá fora....me recordo que em 1983 o dia de serviço de um pedreiro era equilavente ao valor de um saco de cimento...hoje o conhecimento desse importante profissional, apesar de não ser o ideal, tem uma remuneração melhor...pode ser uma utopia hoje mas quem sabe no futuro não tenhamos uma uma renda per capita de primeiro mundo...
Excelente texto.
O meu chará teve a nobreza de acentuar que os servidores municipais não foram convidados para esse mundo de fantasia.
Em Minas 85% do orçamento do Governo Estadual já está comprometido com a folha de ativos e inativos.
Torço para que Zema e Bolsonaro tenham sucesso em suas respectivas gestões, porém o quadro é desalentador.
Cê tá enganado, Rodrigão! Ele fala dos três poderes, nas três esferas (municipal, estadual e federal). Leia lá
Boa noite,
E o segundo POST que por acaso leio desse careca. Me desperta uma curiosidade sem tamanho como o uai da espaço para um ogro desse realizar postagens. Publicações baseadas em achismos lunáticos com conteúdo 100% ignorante (que por sinal é modinha do momento na internet). Ao meu ver se colocarem uma mula adestrada para realizar as postagens teremos um conteúdo de qualidade infinitamente maior.
Abraço!
Boa!!!!!
Mas deixe de ser mentiroso. Cê não sai daqui. Do contrário não me xingaria tanto, hehe.
Não sei por que vocês não assumem que são viciados neste blog e ficam sempre com o mesmo papinho: “é a primeira vez; não costumo ler; leio só de vez em quando etc...”
Ah! Não existe “ao seu ver”. Tente “a meu ver”. Te fará parecer menos burro!!
Abraço também
Com certeza, Zé mané, o ogro é vc.
Pois, como toda anta petista, vc defeca um monte de adjetivos e rótulos, sem apresentar UM ÚNICO ARGUMENTO, que conteste o que está escrito aqui.
Como todo idiota, vc é “modinha na internet” : analfabeto funcional incapaz de entender o que lê, e, portanto, de contradizer o que está escrito.
Vc é um exemplo clássico dos trogloditas que infestam a Internet!
Politicamente correto; eticamente errado! O correto seria mostrar qual o custo por Poderes: funcionários do Legislativo, do judiciário, e por fim, os da pobreza estatal: executivo. Na hora de escravizar, é o funcionário público (geral) - não livram a cara dos pobres (poder executivo); mas na hora das benesses, aí é separado, né?