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Eternidade existe, sim. E é para poucos

Começou como R49, uma dúvida. Terminou como R10, uma lenda. Entre os dois, o maior jogador de futebol que Minas já hospedou

Como não se encantar?

Extra, extra! “Ronaldinho Gaúcho encerrou oficialmente a carreira“. Carreira, Bruxo? Cê deve estar de sacanagem, né? Carreira tem músico, médico ou professor. Tenho eu, você e aquele dentista gente boa aí do apartamento vizinho. Carreira é sinônimo de um trabalho normal, vida normal, alguém… normal!

Você jamais teve uma carreira, R10. Você se divertiu, se exibiu, ensinou. Você maravilhou o mundo, encantou os estádios e fez da arte um passe genial (como para o gol de Leonardo Silva, aos 44′ do segundo tempo, contra o Fluminense, em 2012), um drible desconcertante (em dois são paulinos de uma só vez, na Libertadores de 2013), um gol monumental (como aquele contra o Cruzeiro, no Indepa, depois de enfileirar cinco ou seis jogadores seguidos).

Você brincou de jogar bola, Dinho. Fez crianças mais crianças e adultos crianças outra vez. O seu sorriso, tímido fora dos gramados, transformava-se em sonora gargalhada, após mais um gol de Jô, Bernard e Tardelli, devidamente servidos em sua bandeja de prata. Eu a ouvia alta e farta, todos a ouvíamos, testemunhas oculares daqueles dias mágicos.

Você foi único, meu rei. Hipnótico, genial. Você arrancou suspiros dos fãs rivais, dos adversários incrédulos (como aquele do The Strongest, da Bolívia, que te reverenciou em campo, diante 20 mil dos teus súditos) e até daqueles boleiros estranhos dos EUA, com seus calções enormes e bolas diferentes, certo, Kobe Bryant? E de Messi, Ronaldo, Maradona, Pelé, Zidane…

E quem diria, Mago dos magos, que em uma instituição centenária, fincada em pilares sagrados como cores, hino e mascote, você conseguiria até mesmo criar um mantra, um bordão — Aqui é Galo, porra!” — certamente tão imortal quanto você e o Clube Atlético Mineiro.

Que presente de Deus foi ter vivido na sua era, ter te visto a dois metros de distância, ter sorrido, suado e chorado ao seu lado em tantas oportunidades. Não há palavras que descrevam a gratidão que sinto, a cada lembrança que me visita o pensamento. A mais comum é “obrigado”. O receba, então, como se fosse o abraço mais apertado que sua amada mãe já lhe deu. O meu sentimento é exatamente este.

Descanse em paz, em vida, Ronaldo de Assis Moreira. Você fez por merecer.

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Ricardo Kertzman

View Comments

  • Olá Distinto.
    Peço licença para transcrever as palavras do educador Rubem de Azevedo Alves acerca de Ronaldinho. Como um dos aficionados do GALO neste planeta azul afora não poderia perder a oportunidade de mostrar as palavras de um poeta acerca de um grande artista.
    "Quem me devolve o espírito do futebol como brincadeira de menino é o Ronaldinho Gaúcho. Não sei a origem do costume de se colocar o sufixo "inho" ao final dos nomes dos jogadores de futebol. São tantos os "inhos"... "Inho" é um sufixo carinhoso, diminutivo, acriançante. Mas, quando se vê um jogo, não há "inhos" em campo. É um jogo bruto, cheio de trapaças, malandragens, pontapés, empurrões, rasteiras, palavrões e, por vezes, sopapos. O sufixo mais verdadeiro seria o "ão". O único a merecer o sufixo "inho" é o Ronaldinho. Porque ele é uma criança. Está sempre sorrindo. Ele ri mesmo quando a jogada não dá certo. Ronaldinho é uma alegria sorridente. Que ele jamais tenha a idéia louca de ir a um ortodentista para consertar os dentes! O segredo do seu sorriso iria para o brejo. Pouco se me dá o time em que ele está jogando. Torço sempre para o Ronaldinho, mesmo que ele não faça gols nem determine a política econômica do Brasil...
    ... Vendo o Ronaldinho jogar, eu olho para o campo e vejo vinte e dois meninos brincando...
    Autor: Rubem Alves
    Grato.

  • Neste grande circo Ronaldinho foi um pouco de palhaço, malabarista, trapezista e sobretudo, encantador!
    “O futebol é o circo do mundo. Não há nenhum outro esporte que provoque tanta paixão, tanta alegria, tanta tristeza. O futebol dá sentido à vida de milhões de pessoas que, de outra forma, estariam condenadas ao tédio. É o assunto, nas manhãs de segunda-feira, em bares, escritórios, fábricas, taxis, construções. O futebol é a bola que se joga no jogo das conversas. Faz esquecer lealdades políticas, ideológicas, religiosas, econômicas, raciais. É a grande religião ecumênica. Acabam as diferenças. Todos são iguais. São torcedores de futebol. No mundo inteiro.” (ALVES, 2006, p. 7)

  • Só quem viveu Ronaldinho no galo entende o que o Ricardo esta falando, quem não viveu, fica caladinho. Bruxo eterno !!!

    • Bruno, um dia vou contar, neste espaço, uma história sensacional sobre o jogo contra o SP, no Morumbi, quando ele pariu -- sim, aquilo foi um parto -- o "Aqui é Galo, porra!"

      Abrs

  • Sensacional blogueiro!!! Até que em fim!!! Quando vc não fala do lula é fera!!!! Devia se concentrar só nessas coisas.

  • PARABÉNS! SOU CRUZEIRRENSE MAS SEI RECONHECER UM GÊNIO EM QUALQUER CLUBE, ATÉ NO RIVAL. R10 FOI UM DOS TRÊS MAIORES JOGADORES DA ESTÓRIA MUNDIAL. GOSTARIA DE TER VISTO NO CRUZEIRO COMO VI DIRCEU LOPES OUTRO GÊNIO DO SEU TEMPO. SDS CELESTES!

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