O inocente que não quer ser absolvido

Lula não está sendo prejudicado, como alega. Ao contrário. Está sendo privilegiado. Está experimentando o que todos gostariam de ter: uma Justiça rápida e eficiente.

Você aí, leitor amigo, certamente já sentiu na pele a morosidade da Justiça brasileira. Ao menos ouviu falar ou conhece alguém prejudicado.

Imagine um proprietário de imóvel que não recebe o aluguel do inquilino. Pois é. Para reaver sua propriedade terá de atravessar um surreal processo judicial de despejo. Não só não receberá pelo imóvel, como terá de arcar com custos advocatícios e judiciais.

Imagine agora um dono de fazenda ou sítio vítima de invasão. Igualmente terá de enfrentar um interminável processo de reintegração de posse. E em qualquer seara, a triste realidade é sempre igual. Mesmo situações desesperadoras, como pensão alimentícia, por exemplo, tramitam em tempo recorde no Brasil. Recorde de demora, é claro.

Todos já ouvimos falar dos casos absurdos de presos provisórios que aguardam julgamento. Pessoas, por vezes inocentes, passam anos, às vezes décadas presos até serem julgados e absolvidos. Infelizmente não é só a ineficácia e corrupção que corroem nosso sistema judiciário. A falta de estrutura e recursos infinitos, que resultam em processos intermináveis, constitui um dos maiores — senão o maior — entrave ao sonhado alcance da lei.

Pois bem. Com o que mais poderia sonhar um réu inocente, em busca de justiça, senão um processo célere? Com o que mais poderia sonhar um idoso, com mais de 70 anos, ávido por ver seu nome e imagem limpos, senão a data do julgamento que irá enterrar de vez os “devaneios persecutórios” de um juiz de primeira instância? Com o que mais poderia sonhar um pré-candidato à presidência da República, senão a máxima brevidade de um processo criminal onde, segundo o próprio, abundam provas claras da sua inocência?

Lula alega — e repete sem parar — que é vítima de uma armação dos “moleques do MPF” e do “justiceiro” Sérgio Moro. Lula não tem mais muito tempo de vida e certamente deseja encontrar-se com sua galega morta gozando o nome limpo que sua mãe, que nasceu analfabeta, lhe deu. Como a lei brasileira garante prioridade a quem possui mais de 60 anos, deveria estar feliz com a celeridade da Justiça sul-rio-grandense, ora. Aliás, o Estatuto do Idoso foi assinado por ele mesmo.

Levante as mãos aos céus, Lula! Dia 24 de janeiro avizinha-se. Coincidentemente, o STJ e o STF estarão em recesso. Sabe como é, né? Os companheiros Lewandowski e Toffoli trabalham bastante e merecem uns 60 dias de férias (afora os feriados prolongados). Assim, caso os tais desembargadores não reformem a sentença de Moro e resolvam cumprir a lei, é provável que tenha de passar alguns dias em Curitiba, na agradável companhia de alguns amigos antigos, como Eduardo Cunha e André Vargas.

Mas sabemos que não precisa se preocupar. Você já disse que é inocente e que não há nada que prove sua culpa. Então relaxe! Sérgio Moro terá que demonstrar toda sua hospitalidade a outrem, que não o maior, melhor, mais honesto e mais amado presidente que um país já teve, na história deste planetinha que não é quadrado.

Regule aí o despertador: dia 25 de janeiro de 2018, seis da matina. Acorde, troque de roupa, prepare uma sacolinha e faça o café. Talvez a campainha toque e seja aquele japonês simpático. Vai que, né?

Tic tac, tic tac, tic tac…

Leia também.