O Brasil está derretendo

Caminhamos rumo a um imenso e obscuro buraco institucional onde poderá não haver qualquer saída

Aí, não, Ministro Fux! Ainda ontem, durante um agradável almoço com um querido amigo (que é advogado e professor de Direito Constitucional), comentávamos da precariedade técnica — e moral — deste atual STF. Falávamos do baixíssimo nível e da absoluta falta de preparo de alguns ministros. Em nossa opinião, Rosa Weber, Carmem Lúcia e Luiz Fux não reúnem condições mínimas para estarem na Suprema Corte. Estes, por questões técnicas, já que de boa índole. Outros, por questões morais, não preciso nem citar, já que suas atuações falam por mim. Mas o fato é que o Ministro Fux, como se ouvido a nossa prosa, aprontou das suas.

O Doutor resolveu devolver, liminarmente, o tal Projeto de Lei de Combate à Corrupção — aquele completamente desfigurado pelos deputados — à Câmara. Suas alegações beiram o ridículo. Até eu, que não sou advogado e nem um grande entendedor do Direito, consigo perceber a precariedade e a gravidade da decisão. Fux conseguiu superar Lewandowski (no julgamento do impeachment) em criatividade constitucional. Como o Ministro pode até ser despreparado, mas não burro, sou obrigado a pensar que fez de propósito, de caso pensado, em mais um capítulo desta absurda batalha entre os Poderes — e os poderosos.

Do lado do Legislativo, também não encontramos melhores odores. Muito ao contrário, não é mesmo? Seja na composição deste Congresso ou seja ainda pelas personagens bizarras e criminosas que lá estão, não é exagero qualificar esta atual legislatura como a pior já formada. Aquele outro bandido diria: “nunca antes neste país”. Ou o que dizer de um Renan Calheiros ou Romero Jucá, de um Lindbergh Farias ou Vanessa Grazziotin, de um Rodrigo Maia ou Tiririca? Espantem-se (ou não!), mas 1/3 dos atuais congressistas é réu em algum processo criminal. Cinco deputados respondem, juntos, por mais de 200 processos. Apenas um nobre representante do povo acumula mais de 100 ações. Saudades do anjinho Eduardo Cunha, vulgo Dudu, nosso herói, viu?.

Para completar a trinca da desolação, temos um Executivo banhado por criminosos e dirigido por suspeitos e cúmplices diversos. Um ajuntamento de apaniguados do crime comandados por um Presidente figurativo, titubeante e, sinceramente, perdido no tempo e no espaço brasilienses. Não fosse a pesadíssima e insuperável concorrência pretérita, e eu diria que Temer seria provável candidato a um dos piores presidentes do país. E olhem que nutro certa simpatia por ele, hein? O considero um político habilidoso, um Chefe de Estado com postura para tal, eloquente, culto e, dentro do que se pode dizer “honesto” (entre aspas mesmo!!), menos desonesto que os demais.

Agora junte-se estes Três Poderes — e seus poderosos — e aí estamos, aí chegamos. Um país em transe, um país em processo de franco derretimento, de degelo acelerado, onde a palavra “harmonia” deu lugar à “confronto”. Onde soberania perdeu significado e razão de ser. Onde equilíbrio e bom senso são tão raros como almas honestas. Onde tudo importa, menos o país e sua gente. Chegamos num tempo onde indivíduos superam a coletividade e grupos sobrepõe o conjunto. Uma espécie de jogo maluco onde a “parte” é maior que o “todo”. Nelson Rodrigues se desesperaria. Kafka acreditaria que é real.

Mas encerro lhes dizendo uma coisa: Demoramos muito tempo e trabalhamos muito duro para compor esta sinfonia que aí nos chega aos ouvidos. Foram décadas de descaso, de despolitização, de egoísmo, de desinteresse e de pura preguiça. Agora que a ouçamos inteira, por mais ruidosa que se apresente. Afinal, nós caprichamos! E fizemos muito bem feito… o mal feito. O nome da peça, Roger, do Ultraje a Rigor, já nos disse há 30 anos: A gente somos inútil.