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As medalhas são de todos. As derrotas só deles!

Quando faz merda, o Neymar não é “o brasileiro que superou a pobreza”. Quando vence, torna-se “a cara de um povo que sempre dá a volta por cima”.

 

A hipocrisia e o cinismo de boa parte da imprensa nacional, e, sim, de igualmente boa parte dos brasileiros é algo estupendo. A seleção brasileira de futebol levou um sapeca de 7×1 da Alemanha, e quem perdeu? Ela! Ou alguém assistiu ao Galvão Bueno gritando: “perdemos, perdemos, somos uns idiotas”? Será que alguém saiu pelas ruas xingando e culpando uns aos outros pela derrota? Quem perdeu e deu vexame não foi país. Não ao menos por causa da goleada na Copa do Mundo. Damos nossos vexames em coisas bem mais importantes: corrupção, pobreza, violência. Por que, então, quando a seleção vence e é campeã o “Brasil” é campeão?

Um baiano desconhecido ganhou três medalhas. Nunca ninguém, exceto seus amigos, família, treinadores e patrocinadores jamais o ajudaram em alguma coisa. Tivesse feito uma Olimpíada pífia como os demais quatrocentos e tantos atletas e ninguém jamais ouviria falar dele. Mas o cara foi bravo, foi forte, foi guerreiro e venceu. Daí, lá se vão os urubus aproveitarem-se da carniça: “Brasil, Brasil, Brasil! Um negro, menino pobre do sertão baiano. É a garra e a luta do povo brasileiro.” Povo? Que povo, ora?

Hoje foi a vez dos garotos do vôlei. De “geração de prata”, time inferior ao das outras competições (e é mesmo!), grupo desunido, Bernardinho cansado, etc., tornou-se “um time vitorioso com a cara do povo brasileiro”. E por que? Porque venceu! Tivesse perdido e ninguém iria comparar a seleção ao tal “povo brasileiro”. É o cúmulo da canalhice.

Uma equipe de futebol, vôlei ou basquete representando um país numa competição é tão somente isto o que é: um grupo representando um país. Não é, nunca foi e jamais será o próprio país. Na vitória ou na derrota. Esta confusão que se faz no Brasil, alimentada pela parte ufanista da imprensa, é danosa para o nosso desporto. Primeiro, porque joga uma responsabilidade e uma carga emocional nos atletas, que na maioria das vezes os levam à derrotas bobas por conta do desequilíbrio emocional. Segundo, e mais importante!, porque ao induzir o povo a pensar assim, em grande parte das vezes o resultado é o oposto. Vimos isto na copa passada, onde em virtude da raiva com a situação política boa parte dos brasileiros torceu contra a seleção.

Um atleta representa um clube ou um país. Perdendo ou vencendo, o mérito ou demérito é só dele. Cabe aos torcedores e fãs apoiar e ficar alegres e tristes. Mas só! Nem nós somos ele e nem ele é a gente. Um time da mesma forma. Ao tentar misturar tudo produzimos duas injustiças: Nos aproveitamos indevidamente dos méritos dos vencedores; e destilamos ódio e frustração aos perdedores. No Brasil é assim: quando eles vencem, nós vencemos; quando perdem, eles perdem sozinhos. É uma tremenda sacanagem!

Ricardo Kertzman

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  • Meu Deus como você descreveu perfeitamente o sentimentos de muitos brasileiros sensatos , é assim mesmo que funciona..tanto no futebol, politica e outros tantos modos representativos do povo Brasileiro. É oportunismo em cima de Oportunismo

  • Parabéns pela análise! É realmente incrível o aproveitamento irresponsável que boa parte da imprensa faz dos vitoriosos. Eles são porque suaram muito a vida inteira. Antes da competição não eram nem "favoritos" ou "promessas". Espero que daqui a alguns anos sejam bem lembrados e valorizados haja visto que agora que o futebol fez a sua obrigação talvez esqueçam os primeiros.

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