O barato que está custando muito caro

Por Roberto Caldeira

Logo no início do Brasileirão, aqui no Canto do Galo, no dia 20 de abril publiquei o artigo “Barato que pode custar muito caro” falando da queda nos resultados financeiros do ano de 2017 comparados a 2016 e como isso deveria servir de exemplo para a diretoria para que a situação não se repetisse em 2018.

Em 2017, tivemos uma perda de R$11,7 milhões na receita líquida de bilheteria (queda de 41%) e redução de R$34,8 milhões na venda de jogadores (queda de 44%). Somente essas duas fontes de receitas tiveram uma queda de R$46,5 milhões nas contas.

Essa perda é muita representativa, pois está diretamente relacionada ao desempenho do time. Quando um time tem resultados ruins, fica de fora das principais competições, o ingresso fica mais barato, o estádio mais vazio e os atletas desvalorizados.

Conforme alertei, havia um grande risco de que a política do bom e barato adotada em 2018 pela diretoria pudesse gerar perdas de receitas maiores do que a suposta economia. Era necessária uma reavaliação das estratégias, corrigindo os rumos para que o time barato não nos custasse muito caro. Mas isso não foi feito…

Queria tanto ter me equivocado e queimado minha língua! Infelizmente, pelo que todos estão acompanhando, o barato já está nos custando muito mais caro do que até o mais pessimista dos Atleticanos imaginava.

Passamos o ano todo escutando histórias de austeridade e estádio, mas montaram um time fraco, eliminado de todas as competições, não começaram a construção do estádio e não conseguem hoje nem pagar salários. Não conseguiram nada!

Mas agora vem dizer que são as dívidas e juros que inviabilizam o Clube. Será mesmo?

Não podemos ser levianos e desconsiderar isso, pois a situação financeira do Clube é sim preocupante. Porém, dívidas não são privilégios apenas do Galo.

Inclusive, outras Gestões recentes passaram pelo mesmo problema, mas mantiveram o time forte, triplicaram as receitas, reestruturaram o Clube e ganharam os títulos mais importantes da nossa história.

Se a Gestão atual tivesse competência para adotar a estratégia e o planejamento corretos, será que não teriam montado um time melhor que gerasse renda?

Ao invés de menosprezar a Sul-Americana, não teriam condições de montar um time capaz de avançar na competição? O que os times do Atletico-PR ou Fluminense têm de especial pra estarem na semi-final com chances de disputar um prêmio de R$15 milhões?

Quanto de renda de bilheteria o Galo teria gerado se ainda estivesse no Torneio? Será que ajudaria a pagar dívidas e juros?

O que falar da Copa do Brasil então? Que rendeu 62 Milhões em premiações ao rival, sem contar a renda de jogos com estádio cheio. Será que daria pra pagar dívidas e juros?

O que me intriga é ver que existem torcedores que ainda acreditam que a atual Diretoria aprendeu com os erros.

Se tivessem mesmo aprendido, não viriam agora com essa ideia esdrúxula de vender o patrimônio mais valioso e lucrativo do Clube. Vender o Diamond pra pagar dívidas seria a coisa mais irresponsável que vi desde que acompanho o Galo.

Já fizeram um péssimo negócio quando precisaram dispor de 50,1% do Shopping pra viabilizar o Projeto da Arena.

Além de desconfiar da incompetência de quem comando o Galo, os números financeiros por si já refutam essa ideia absurda. Mas muitos torcedores e Conselheiros não têm a menor ideia do valor e da rentabilidade do Diamond.

Já pesquisei esses números e posso afirmar duas coisas:

1) são raros os negócios no Brasil que operam com margem de lucro operacional tão alta, ou seja, receita muito alta e custo muito baixo;

2) o Estádio, no melhor dos cenários, conforme projeção apresentada pela própria Diretoria, deve gerar um lucro operacional de 27 Milhões, metade do que poderia gerar o Diamond em valores presentes.

Mas alguns dirão… “Hoje, o Diamond só rende 9 Milhões por ano ao Galo e isso não dá pra nada. Melhor vender mesmo pra não pagar juros.” Mas se esquecem que hoje o Galo recebe apenas um percentual do arrendamento.

Quando a concessão terminar, o Clube terá direito a 49,9% do lucro de toda operação. Outra coisa que esquecem é que o Shopping tem um valor de mercado em torno de 800 Milhões, mas como ainda não podemos explorar, quando venderem trazem ao valor presente de 500 Milhões.

Olha o tamanho do prejuízo!

Se o problema realmente são as dívidas, quem em sã consciência iria então se aventurar em construir um Estádio de 450 Milhões e ainda ter que esperar mais 3 anos para usufruir do mesmo?

Por que trocar o certo e seguro (Diamond) pelo duvidoso (Estádio)? Se o dinheiro já está na conta e precisam pagar dívidas que cancelem o Projeto do Estádio. Simples assim.

Paguem dívidas, montem um time forte, joguem no Mineirão, aumentem a renda de bilheteria, briguem por títulos e prêmios, sem precisar vender o que sobrou do Diamond. Quanto será que estão perdendo de receita por ter que jogar em Estádio pequeno? Quanto de juros daria pra pagar com acréscimo na receita de bilheteria?

Será que não percebem que alternativas existem e são inúmeras, sem precisar dilapidar patrimônio valioso do Clube?

Se trabalharem direito, é possível montar um time decente, que seria capaz de gerar receitas no futebol, permitindo equacionar dívidas e juros até que tenhamos direito à exploração do Diamond e do Estádio quando puder ser construído.

Mas como fazer isso se nem Diretor de Futebol eles contratam? Como que poderia dar certo, se o negócio do Galo, que é fazer futebol, não é bem executado? Desse jeito vão vender patrimônio pra pagar dívidas e depois gerar mais dívidas, pois não sabem gerir o futebol.

O que está faltando ao Galo é trabalho. Falta trabalhar com responsabilidade e inteligência para fazer a coisa certa. Contratar e contar com os melhores na Gestão do Clube. Saber gastar o dinheiro que está escasso.

Ter coragem e ousadia para investir e trazer novas receitas. Mas isso é muito complicado né? Dá muito trabalho! Aí preferem tirar o seu da reta, resolver a situação hoje a curto prazo, a custa de comprometer o futuro do Clube. Do jeito que estão fazendo, o que já está custando muito caro, pode vir a se tornar nossa ruína.

Até quando a Massa vai aceitar isso?

Vamos Galo! Revolução já!