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Novas alegrias em 2022

Ricardo Galuppo

O Atleticano está prestes a se despedir do ano mais glorioso de sua história e, como é comum nesse período de festas, o certo seria deixar para traz o ano velho e pedir que novos sonhos se realizem “no ano que vai nascer”. Isso seria o comum e (por que não confessar?) foi assim que nos habituamos a agir nos anos tenebrosos que marcaram nossa história. 

Em cada ano que terminava, fazíamos uma lista de jogadores que queríamos ver longe da Cidade do Galo e sonhávamos com nomes improváveis para reforçar nosso elenco. Agora, o pedido é para que tenhamos, daqui por diante, motivos para manter essa sensação deliciosa e essa vontade de rir de qualquer piada que vem nos acompanhando nas últimas semanas.

Estamos vivendo uma nova era — e ela é resultado das mudanças que começaram a acontecer em 2018. Naquele ano, os empresários que resolveram transformar o Atlético numa potência se deram conta de que não adiantava contratar bons jogadores se o clube não se organizasse para recebê-los. E, ao mesmo tempo, se convenceram de que não adiantaria reorganizar as contas e construir um novo estádio se não colocassem em campo um time que enchesse a torcida de orgulho.

O PREÇO DA AUSTERIDADE

Não foi fácil trazer o Galo ao ponto em que chegou, assim como não é fácil erguer qualquer obra sólida. O começou foi repleto de altos e baixos. Era preciso romper com o passado em que as despesas era assumidas sem a menor certeza de como a situação estaria quando fosse necessário pagar por elas. No começo, chegou a parecer que o preço a ser pago pela austeridade necessária para por a casa em ordem seria o rebaixamento para a Segunda Divisão.

Tenho dois amigos, que não se conhecem, e que tinham a mesma mania. Nas temporadas anteriores a 2020, Marcelo Costa Braga e Edmar Damasceno abriam no início de cada Brasileirão uma contagem regressiva que só zerava quando o Galo completava 45 pontos na tabela. A marca significava o fim a aflição com o risco de, mais uma vez, ver a Massa ter que lotar estádios em partidas da Série B. Em 2019, a marca só foi alcançada nas rodadas finais e o Galo terminou em 13º lugar, com 48 pontos — apenas três acima do limite trágico. 

A situação, é claro, começou a mudar no ano passado e desaguou neste ano com um conjunto de decisões acertadas que, no final do ano, nos deram os títulos de campeão do Brasileirão e da Copa do Brasil. Pela primeira vez, depois de muitos anos, foi possível assistir às partidas sem esperar pelo momento em que o pior aconteceria. Ou sem temer o lance fatal em que a defesa falharia e que a partida que parecia em nossas mãos descambaria para uma derrota de sabor amargo… 

Foi, por exemplo, o que aconteceu diante dos fraquíssimos Vasco da Gama (3 a 2) e Goiás (1 a 0) — que nos custaram o título de 2020. Se menciono esses dois jogos é porque, mesmo tendo composto a tabela do Brasileirão de 2020, foram disputados em 2021. E precisam, portanto, fazer parte de qualquer retrospectiva que mostre a mudança que nos trouxe do estado habitual de dúvida e de frustração que marcaram nossa trajetória. 

PARA LÁ DE MARRAKESH…

Por mais que seja óbvio de que nada do que estávamos vivendo seria possível sem a reunião em campo de nomes como os de de Hulk, Nacho, Zaracho, Everson, Allan, Mariano, Keno e de todos os demais jogadores que honraram a camisa alvinegra, é preciso chamar atenção para um mudança de atitude que foi fundamental fora do campo. Ou melhor, para o que aconteceu naquela área sensível que é responsável pela ligação entre o clube e o time, entre a diretoria e os jogadores… 

Parte importante da mudança que o Galo viveu este ano se deveu ao que houve depois da saída de Jorge Sampaoli. O argentino, que foi um dos responsáveis pelo alicerce do time campeão, se mandou e para seu lugar chegou um treinador coberto pelo manto da desconfiança gerada pelas atitudes instáveis que ele tomou na passagem anterior pelo Galo — sobretudo em momentos como o que ele protagonizou durante o mundial de 2013, quando agiu como se estivesse para lá de Marrakesh, cidade onde o time protagonizou o vexame monumental diante do fraco Raja Casablanca. 

O certo é que Cuca voltou e, no começo, teve dificuldades para fazer que os jogadores abandonassem a voltagem 220 implantada por Sampaoli. E a substituíssem por uma rede mais estável e eficiente, que funcionasse a 110 volts mas não estivesse tão sujeita a oscilações e a apagões súbitos. 

A própria Massa demorou um pouco a se adaptar ao novo estilo — e mesmo que que achavam o careca pilhado em excesso passaram a ver Cuca como alguém mais lento do que o recomendado. Não me canso de recordar a declaração que ele deu depois daquela derrota por 1 a 0 diante de um time que tinha tudo para ser goleado no Campeonato Mineiro. Ali, Cuca pediu dez dias de prazo para acertar o Galo para a Libertadores. Naquele momento, confesso, fui tomado pelo desânimo e cheguei a temer por um retrocesso. A história está aí para mostrar que o errado nessa história fui eu. 

A VOZ DA MASSA

Cuca realizou um trabalho profissional, que só foi possível porque tinha na retaguarda uma estrutura sólida para lhe dar segurança. E essa segurança se deve, em boa parte, à ação discreta e eficaz de um profissional que começou a trabalhar no Galo no dia 6 de janeiro de 2021 e que, portanto, está para completar um ano de clube. Mas que já se firmou como um dos profissionais de postura mais adequada e eficaz que já se viu nos bastidores alvinegros.

Aprendi o nome completo desse profissional no dia 13 de outubro deste ano, ouvindo um comentarista de arbitragem da TV por assinatura. Baseado apenas numa súmula que ainda nem tinha sido entregue à CBF, o sujeito foi ao ar com a voz indignada para exigir punição exemplar a Rodrigo Villaverde Caetano. 

Pouco antes do intervalo da partida contra o Santos, disputada naquele dia, Caetano teria, nas palavras do “comentarista de arbitragem”, chutado e esmurrado a porta da sala onde estavam os árbitros do VAR para exigir que eles tivessem vergonha na cara e fizessem o trabalho que estavam ali para fazer. Àquela altura, o VAR já tinha sido omisso em dois lances em que até um árbitro míope teria enxergado pênaltis a favor do Galo.

Caetano nega que tenha feito aquilo que o árbitro Paulo Roberto Alves Júnior (que estava no gramado quando aconteceram as cenas que descreve na súmula e não viu nada do que aconteceu) o acusou de fazer. E, aqui entre nós e baseado na vida pregressa desse árbitro, entre a palavra de Júnior e a de Caetano, fico com a do diretor. 

O que me agradou, no entanto, não foi a cobrança de honestidade do apito, mas a forma como o diretor se referiu ao fato. Mesmo não estando no clube nos momentos em que o Galo foi derrotado pela desonestidade, Caetano se referiu a eles como se tivesse sofrido junto com a massa. E demonstrou diante dessa prática recorrente a mesma indignação de qualquer membro da Galoucura. 

Observei a partir dali que Caetano não se refere ao Atlético na terceira pessoa. Ele sempre usa a primeira pessoa do plural. Para ele, o Galo é sempre “nós”, nunca “ele”. Nesse ponto, ele é completamente diferente, por exemplo, de seu antecessor Alexandre Mattos — protagonista de uma das maiores demonstrações de falta de sintonia com a realidade alvinegra que já se viu na história. Refiro-me, claro, à iniciativa inexplicável de telefonar e acenar para aquele tal de Thiago com a hipótese de que ele viesse jogar no Galo.

Peço desculpas à Massa por manchar meu último texto do ano com a menção ao nome desse jogador, mas esse fato é fundamental para mostrar a diferença de estilo que existe entre Mattos e Caetano. O primeiro às vezes agia como se fosse mais importante do que o clube. O segundo, talvez por já ter sido jogador de futebol, sempre entendeu que a instituição é muito maior do que qualquer um de seus profissionais.

COMPARTILHAR CONHECIMENTOS

Caetano chama atenção justamente por fazer seu trabalho sem chamar atenção. Não se incomoda em compartilhar seus conhecimentos com o gerente Victor Bagy e, ao mesmo tempo, parece absorver de um dos maiores goleiros da história um pouco do espírito e da mística alvinegra. A descrição feita por Cuca do diálogo que teve com Caetano antes da repatriação do zagueiro Nathan Silva para o elenco alvinegro mostra um diretor atento e zeloso de seu papel.

Nesta semana, enquanto o mundo do futebol está em férias — e pelo que ouvi no noticiário esportivo — Caetano está na cidade do Galo, tomando as providências para que o time se mantenha no topo e que podem nos dar em 2022 alegrias ainda maiores do que as que tivemos em 2021. Bem preparado e habilidoso para agir de forma discreta e ao mesmo tempo, firme, ele é a prova de que o Atlético está cada vez mais adequado aos novos tempos e às novas exigências do futebol.

O Galo já contou nos bastidores do futebol com atleticanos comprometidos, que sempre se destacaram pelo amor ao clube. O doutor Fábio Fonseca, Neri Campos, Cecivaldo Bentes, Toninho Abdala são alguns deles. O saudoso Eduardo Maluf é outro que, já na era dos diretores profissionais, marcou época e soube atuar com eficiência em momentos em que tudo estava nebuloso.

Caetano chegou depois de várias tentativas e erros que o clube cometeu ao procurar nomes que se adequassem a este novo momento. De todos os que vieram, talvez tenha sido o que menos criou expectativas e que mais apresentou resultados. Se continuar assim, tudo indica que os anos que teremos pela frente têm tudo para repetir 2021. Tomara!

A todos os atleticanos do mundo e a toda Massa, meus votos de novos anos repletos de alegria.

TARJA PRETA PARA CUCA

O texto de hoje nem bem foi publicado e já ficou velho. O assunto do dia alvinegro, como não poderia deixar de ser, é a saída de Cuca do comando do Galo. Passado o espanto, é hora de respirar e pensar um pouco: uma troca de treinador a essa altura é algo que incomoda, mas, nesse caso, não causa espanto. Pelo histórico instável de Cuca, o estranho seria ele ficar.

Assim como Tarzan se locomovendo pela selva, ele nunca teve dificuldade em trocar um cipó pelo outro. Desde que estreou com técnico há 23 anos (no Uberlândia, em 1998), Cuca mudou de emprego 29 vezes. Por cinco clubes (Avaí, Flamengo, Fluminense, São Paulo e o Galo), ele passou duas vezes. Pelo Santos foram três passagens. Cuca não esquenta lugar em clube algum e todo mundo já sabia disso quando ele foi contratado no primeiro semestre.

No que diz respeito ao Galo que é o que interessa, Cuca insiste em colocar uma tarja preta sobre seu nome sempre que está para conquistar definitivamente o coração da massa. Foi assim em Marrakesh, em 2013 — quando ele abandonou o time à própria sorte durante a disputa do Mundial. Desta vez, pelo menos, teve a decência de esperar que os campeonatos em curso se concluíssem para arrumar suas mochilas e dar no pé.

LANTERNA NA MÃO

Cuca é, sem sombra de dúvida, o treinador mais vitorioso da história do Galo — e a Massa reconhece sua competência e é grata pelas conquistas durante suas duas passagens pelo clube. Mas não terá, na nossa história, a mesma grandeza que poderia alcançar se, pelo menos, cumprisse até o fim o contrato que ele assinou no ano passado. Paciência!

Ninguém é insubstituível, nem o treinador que nos deu dois títulos robustos neste ano que está para terminar. O Atlético tem um trabalho estruturado e tocado com eficiência por Rodrigo Caetano, sob comando do presidente Sérgio Coelho e dos investidores. Cuca certamente será substituído por alguém capaz de conduzir a equipe a novas conquistas em 2022. Os principais jogadores campeões do Brasileirão e da Copa do Brasil permanecerão no elenco e o novo treinador tem plenas chances de realizar um trabalho vencedor.

Quem será o novo técnico? Vou me esquivar de qualquer especulação e esperar pelo anúncio oficial. Do contrário, corro o risco de quebrar a cara quando me disserem que o nome dele é Marcelo — e, ao invés do esperado Gallardo, virem com o Oliveira (com todo respeito ao que ele foi como jogador!) Vamos esperar um pouquinho…

No passado, sempre que o Galo ficava sem um treinador, acendia uma lanterna e saia com ela na mão pelo mercado, à procura de quem aceitasse o desafio de treiná-lo. Hoje, a situação é outra e certamente não faltarão nomes de primeira linha com disposição e competência para dar à Massa conquistas ainda maiores do que as que ela teve.

Blogueiro

View Comments

  • Cuca nos largando na mão mais uma vez.
    Diego Costa fazendo biquinho para ir jogar na segundona da Espanha.
    Tchau queridos ! Mas paguem a conta no checkout.
    O Cuca tem algum problema de ordem emocional que não lhe permite seguir em frente após ter feito um bom projeto. No meu meio profissional, TI, isso se chama cagaço, vacilão!
    Quanto ao Diego, basta repor as despesas que deu até aqui e pode ir jogar no Rosita Sofia, se quiser.
    O GALO está com tamanho para não aturar coisas desse tipo.
    Com relação ao Cuca, é só entregar esse elenco de ouro para o Barbieri ou ao Juan Pablo Vojvoda que eles saberão o que fazer. A torcida do GALO não está aí para dar showzinho chamando o portuga de Mister. Palhaçada de carioca !
    Tchau Cuca, vai te catar. Certo estava o Marcos Rocha !

  • Boa tarde , Canto do Galo !
    E o Seu Cuca vai embora de novo. Para que fazer dois anos de contrato se não vai cumprir. Deu entrevistas que estava cansado e agora com problemas familiares. Pode até ser , mas não é a primeira vez que usa desses argumentos para sair de um clube.
    Valeu Seu Cuca e merece todo reconhecimento pelo trabalho e títulos conquistados. Agora vê se cumpre a promessa de ir a capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no distrito de Pires, em Congonhas, se não vamos ficar mais 50 anos esperando outro brasileiro.
    Espero também que não assuma nenhuma equipe em 2022.
    Bbbbbbrrrruuuu estou neurastênico
    Bbbbbrrrrruuu preciso me tratar
    Bbbbbrrrruuuu eu vou ficar no Paraná

  • Prezado amigalo José Eduardo Barata,

    Tomara que desta vez tenhamos um TÉCNICO DE VERDADE que saiba fazer leitura de jogo e elaborar treinamentos que o futebol moderno exige, pois temos plantel. E plantel dos bons que elevou o passe do Manso.

  • Bom dia, Galuppo, Massa e Guru,

    “Tudo como antes no quartel de Abranches”, ou seja, a saída de Cuca não foi surpresa. Faz parte de sua índole defender um clube em um ano e no ano seguinte ao invés da continuidade, o mesmo discurso de sempre. Foi assim, com o próprio Galo, Palmeiras, São Paulo, Santos e será assim com qualquer outro clube.
    Vida que segue, pois não há jogador, treinador ou qualquer outro funcionário maior do que o clube. Se devemos um muito obrigado à ele pelos títulos, o mesmo deve ser recíproco, pois sem o Galo ele não teria brilhado.
    Estamos quites!

  • Eu achei que o JJ ficaria, mas vi que já saiu do Benfica. Com certeza deve estar conversando já, se vier o Galo vai ganhar tudo em 2022!

  • Bom dia! Ninguém, absolutamente ninguém é insubstituível! É muita inocência imaginar que cúpula atleticana já não soubesse da decisão de cuca. As peças estão se movendo, aguardemos!

  • Bom dia Eduardo e Ricardo Galuppo. A saída do Cuca de forma surpreendente parece encerrar de vez sua trajetória no Clube Atlético Mineiro. É a segunda saída de forma repentina após grande trabalho do treinador. Em que pese seus sucesso e competência do Cuca, uma terceira vez no galo acho improvável de acontecer. Agradeço ao Cuca pelo que vez, mas agora é seguir em frente e com foco para não perder rumo. O Substituto tem que ter a qualificação de saber montar time e ligar com egos formado um grupo coeso e solido para ter condições de conquistar títulos. Acho improvável que seja Jorge Jesus, ele já deu mostras de não querer voltar para o Brasil. vai ser difícil arrumar alguém como perfil que se adapte às necessidades do Galo. Saudações Atleticanas.

  • É Cuca sendo Cuca. Faz parte de seu modus operandi.
    Daqui há 03 meses tá em outro time e os problemas particulares deixam de existir.

    De toda forma, é vida que segue.

    Renato Gaúcho não. Sempre ridicularizou o Galo

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