É preciso reagir às injustiças

Outra semana longa sem jogos do Galo. Isso nos permite trazer à tona novas discussões, ainda que acerca de nosso time, mas distante do factual das partidas e rodadas das competições em andamento. Dois assuntos me motivam nesta quarta-feira. Vamos a eles. O primeiro é sobre o fato ocorrido no Campeonato Paranaense, quando as duas maiores equipes do Paraná – num exemplo a ser seguido especialmente pelos clubes fora do eixo Rio de Janeiro-São Paulo – bateram de frente com a emissora chefe da madrasta do futebol brasileiro. Refiro-me à dona das transmissões que manda e desmanda na CBF, de modo a não privilegiar todos, tanto na questão de recursos quanto no tocante às decisões administrativas.

Unidos, Coritiba e Atlético Paranaense decidiram que o clássico seria transmitido via Youtube. Por sua vez, a pelega Federação daquele estado, alegando falta de credenciamento, tentou impedir a reação legítima dos clubes, que, mais que a Primeira Liga, contribuíram para a moralização do esporte no Brasil. Faz-se necessário ações mais eficazes, como essa de domingo. Sete a um foi pouco.

Sem entrar nos méritos da emissora no que diz respeito ao tratamento de temas relacionados à economia, à política e aos bons costumes (a programação é promíscua e agride a família constantemente), abro este espaço para o Torcedor do interior, pois na minha casa não se registra audiência nem para ver o Fred pedir música no Fantástico. Dentre as dezenas de comentários registrados no blog sobre a vitória do Galo em cima do Coelho, muitos reclamaram que a TV impôs a veiculação do jogo entre Flamengo (tinha de ser!) e Madureira.

Os mineiros do Triângulo, do Alto Paranaíba, da Zona da Mata e do Sul de Minas estão privados pela ação inescrupulosa de quem tenta, além de fornecer um noticiário altamente tendencioso, impor uma programação que contempla exclusivamente os times do eixo. Edu Galo Santana, que em outras ocasiões já havia levantado essa questão, foi além e indagou: se uma emissora do interior do Rio de Janeiro transmitisse jogos do Campeonato Mineiro, os cariocas iriam aceitar?

Marcos Paulo não esconde seu descontentamento. Ele reclama do desprestígio da emissora com Minas Gerais, e afirma, ainda, que o Torcedor não esconde sua revolta com a dona do futebol. Dona Helena Porto, outra Torcedora ilustre que tem lugar no coração deste blogueiro, recentemente, por meio de sua filha Gerusa, mandou um recado pedindo reação imediata contra esse absurdo. Ela ficou privada, em Barbacena, de ver o jogo do Galo, pois a TV mostrava jogo do campeonato carioca. Unamo-nos!

Imagens: Facebook e UAI/EM

Meu segundo pitaco diz respeito ao jogo de domingo. Não sobre a partida, jogadores ou arbitragem. Ocorre que, no intervalo da partida, numa interessante ação de marketing, o placar eletrônico destacou cinco goleiros extraordinários de nossa centenária história. Foram elencados, na ordem: Kafunga, João Leite, Taffarel, Veloso e Victor. Todos incontestáveis, embora não tenha visto o primeiro atuar. Guardo ótimas lembranças de Kafunga. Além de tê-lo entrevistado, trabalhei na Câmara Municipal quando o então comentarista era vereador. Adorava fazer boas resenhas com o mestre.

João Leite também é indiscutível. É o atleta que mais vezes vestiu a camisa do Galo ao longo da história: são 684 partidas, número que dificilmente será ultrapassado.  Dentre os três maiores ídolos que vi atuando pelo Galo, Victor encontra-se ao lado do eterno Reinaldo e do bruxo Ronaldinho Gaúcho. Com relação a Veloso e Taffarel – sem ter a intenção de fazer avaliação e/ou polêmica –, penso que um deles poderia ceder lugar a um outro goleiro que jamais pode ser esquecido pelo Atleticano. Melhor: seis deveriam ser homenageados.

Renato da Cunha Vale. Hoje, com 72 anos de idade, mora em Uberlândia, cidade que leva o nome do clube que o recebeu. Cunha é destaque do título brasileiro de 1971. O carioca, como terceiro reserva, atuou naquela noite chuvosa. Criança, em Araxá, presenciei a partida. Criado nas divisões de base do Flamengo, foi contratado pelo time do Triângulo depois de um amistoso entre as duas equipes. De lá, veio para o Galo.  O jogador retornou para o futebol do Rio de Janeiro, passou pelo baiano e nos Emirados Árabes.

Para quem não se lembra, assim como é a atuação de Victor nas penalidades (especialmente naquela do Riascos), Renato foi o responsável pela conquista na década de 70 ao defender, milagrosamente, uma bomba de Gerson ao final do jogo. O feito assegurou o título de primeiro campeão brasileiro ao Galo. Recentemente, cerca de cinco anos atrás, ele esteve humildemente na sede de Lourdes, ainda naquela antiga sala de troféus. Foi impedido de subir ao andar superior, onde queria relembrar sua história no nosso clube. Duas injustiças com o nosso Renato: ser barrado nessa visita e sequer ser lembrado pelo que representou ao Clube Atlético Mineiro.

Peço permissão ao amiGalo Ricardo Galuppo para transcrever a narração do lance heroico descrito no “Raça e Amor”, lançado em 2005. Após narrar o gol de Oldair, numa cobrança de falta milimétrica, na vitória de um a zero sobre o São Paulo, Galuppo escreve: “Minutos depois, Renato Cunha Vale, o goleiro atleticano, impediu um gol de Gerson e evitou a tragédia. Mandou para escanteio um chute violento, da linha da pequena área. Foi a defesa mais espetacular já praticada no Brasil desde que, no ano de 1894, Charles Miller chegou a São Paulo com duas bolas de futebol”.

Ontem, tentei com o próprio ex-goleiro conseguir a imagem dessa defesa, para dividir com os caros leitores. Sem sucesso. Renato me disse que procura o material há décadas. Caso alguém tenha o lance, por favor, vamos dividir com todos e presentear um dos responsáveis pela conquista de 1971. Ele, Renato, ao lado de Dario e de outros, construíram grande parte de nossa história.

Blogueiro

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  • Boa Noite Eduardo!
    Sou administrador da página do Goleiro Renato no facebook, e vi que você curtiu a página, parabéns pelo seu trabalho. Recebi uma libação Renato falando desta sua matéria e vim conhecer, bom mesmo mante viva a memória de todos que lutaram para escrever a história do Clube Atlético Mineiro, e com certeza o t´titulo de 71 do Brasileiro durante muitos anos alimentaram a alma de todos nós, e é triste quem não zela de sua história e de seus personagens. Parabéns, um grande abraço e obrigado por manter viva a imagem do grande RENATO VALLE.

    • Caro, ObriGalo pela visita e postagem. Estou empenhado agora em conseguir o vídeo daquela defesa. Fiz vários contatos hoje, ainda aguardo duas possibilidades.
      Gaaalooo Sempre!

  • Edu.Acabei de ler tudo do dia 22/02.
    Obrigado pela sua citação,e obrigado,também por todos os comentários dos seus seguidores.Naquele dia,o que mais me doeu,foi um poster do time de 71,velho e feio,estava caído no chão da vitrine,escondido.Os funcionários eram jovens,e eu também não me apresentei.O clube em si não deve ser acusado,pois quem olhar o meu face (/goleirorenato),verá na galeria de fotos da minha casa:o Galo de Prata,Medalha do Centenário,Placas de Prata endereçadas por diversos Presidentes.
    Abraços para o Galuppo,e valeu Edu.GALO SEMPRE RENATO!!!!!!!!!!!

    • Que honra receber seu comentario, caro e eterno idolo Renato. Você está na galeria e no coração de 8 milhões de Atleticanos. Isso é valioso.
      Te-lo no meu circulo de heróis Atleticanos de todos os tempos, muito me causa orgulho. Sem vaidade, claro!

      Gaaalooo Sempre!

  • Falando mais sobre a rede de TV que manda, ontem tivemos vários jogos da Copa do Brasil e o SporTV 2 passava o VT de um jogo do campeonato carioca, eles querem é acabar com o torcedor. E o mesmo jogo que passava no 1 passava no Fox Sports 2, por que não era outro qualquer? Quem assiste VT de um jogo ridículo?

  • Como disseram acima, reparem essa injustiça que fizeram com o Renato. Ainda dá tempo. "O Clube Atlético Mineiro é grato àqueles que engrandeceram seu pavilhão".
    Quanto aos goleiros acima mencionados, todos excelentes e marcantes na vida atleticana, nenhum foi mais especial para mim, e tenho certeza, para a minha geração de atleticanos, como foi Ortiz. Nunca vi um formador de torcida que se equipare a ele, exceto Reinaldo. Naquele tempo, não se vendiam produtos oficiais do time, como hoje, mas as lojas de Belo Horizonte tiveram que se virar para aproveitar a imensa procura, e encomendaram às fábricas de material esportivo existentes uniformes de goleiro iguais aos do argentino. Para a criançada atleticana da época, que se constituía na imensa maioria de então, o diferencial da bermuda e da fita na cabeça foi um arrasa-quarteirão, um blockbuster como nunca houve antes em Belo Horizonte e em Minas Gerais! Era batata: a meninada pedia para os seus pais o uniforme do Ortiz ou a camisa preta e branca com o número nove vermelho do Reinaldo (ou ambos). Pena que ele saiu do Galo como saiu e morreu no injusto ostracismo que lhe foi dedicado. Quanta saudade, Eduardo, dos domingos ensolarados de Mineirão com 100 mil pessoas assistindo os jogos do glorioso pacificamente, das centenas de bandeiras alvinegras, do grito incomparável de Galôôôôôôôôôôô (bastava isso, não existiam esse incentivos modinhas de torcida organizada que são copiados de outras torcidas organizadas), sob o embalo das orquestras sinfônicas de Vitor Bastos e do Bororó! E claro, do show que o Galo proporcionava em campo, arrasando seus adversários com um futebol nunca visto antes nestas Alterosas, premiando a massa atleticana com uma overdose de gols, títulos e alegrias! Bons tempos que não voltam mais!

    • Caro, emociona ler seu testemunho. Fomos privilegiados, vivemos tudo isso. Se não veio títulos, sobrou festa e alegria a cada partida. Aragão e Wright, entre outros, pararam o Galo.

      • Obrigado, Eduardo! Quem bom que você gostou! É um depoimento sincero, do fundo da alma. Quem, como nós, teve o privilégio de ver esse time jogar, dentro de um Mineirão lotado pela massa atleticana, não teve escolha (graças a Deus!): é Galo na cabeça! Abração!

  • Não vi o Renato jogar (nasci em 72) mas li tudo que fui capaz sobre a história do nosso GALO e com relação a essa observação me pergunto: onde essa pessoa que fez essa referência aos 5 ex-goleiros do GALO viu futebol apresentado pelo Veloso com nosso manto???? A passagem do Veloso por aqui foi, no mínimo, medíocre!
    Com relação à famigerada TV, consegui instalar uma TV por assinatura a 8 anos e nunca mais assisti um único programa dessa emissora. E não assisto aquele programa do Galvão Bueno no EsporTV também. Lixo!!!!

  • Tenho 29 anos e não vi a maioria desses goleiros jogar, mas sempre ouvi meu pai falar de João Leite, Renato e Marzukiewski. Dos que eu vi (década de 90 pra cá) vejo o Velloso como o melhor deles. Victor com certeza é o maior ídolo e o goleiro mais importante da história do Galo. Mas vejo o Velloso melhor que ele, Taffarel, Diego Alves. Outro que ficou pouco tempo no Galo, mas se mostrou o melhor goleiro brasileiro na sua época era o Bruno. Esse seria um dos maiores da história da Seleção, pois se não estivesse preso já teria duas Copas do Mundo no currículo.

  • Renato da Cunha Vale, nosso goleiro Campeão do Brasil, 1971... Tem que estar em qualquer lista de goleiros que se faça no Atlético!...
    Mas este assunto perde a importância diante do que li e no que estou custando acreditar... Renato chegando à Sede de Lourdes em qualquer tempo teria que ser recebido e conduzido com honras e estardalhaço e matéria na imprensa... Que que é isso, Galo?... Cinco anos atrás, isto aconteceu por volta de 2012... Uai, Kalil!... Pelo Amor de Deus!
    Um Clube é uma coisa sagrada, que não pertence a ninguém e é de todos e cada um... Os homens que se encontram à frente de um Clube não podem um só instante pensar em esquecer isto... São eles que expõe o Clube, são eles que endividam o Clube, são eles que praticam uma ação de humilhar que vestiu a camisa do Clube e a molhou de suor e às vezes até mesmo sangue, tendo sido ídolo ou não... Há alguns anos eu custei dormir depois de ler uma matéria no jornal mostrando o ex-jogador Totonho, centroavante que dentre outras num Atlético x Cruzeiro em 1970 fez dois gols virando o jogo a nosso favor, mendigando pelas ruas de BH... Não entendi e ainda não entendo como o presidente da época conseguiu dormir sossegado não tendo mandado buscar o Totonho... O Atlético seria menor se Totonho tivesse sido alocado como jardineiro ou outra coisa similar na Vila Olímpica, por exemplo, lá mesmo ele ganhando um quartinho pra passar a noite?... Claro que não. Não teria se tornado menor. Também não teria se tornado maior porque o Clube Atlético Mineiro não pode ser maior... Às vezes a gente precisa falar isto para os homens do Atlético... Não é bom a gente precisar fazer isto... É bom qdo a gente diz isto pros adversários cheios de vaidade. Para os adversários é bom.
    Saudações, Renato!

  • De Ávila .sobre os maiores goleiros do Galo, eu colocaria o lendário Mussula entre os 5 maiores e tiraria ou Taffarel ou Veloso da lista . Ambos foram goleiros maravilhosos ,com Histórias indiscutíveis no futebol brasileiro e com relevantes serviços prestados ao Galo em períodos que estão longe de ser dos melhores da nossa História. Mas o Mussula deve estar entre os 5 .
    E ,quanto ao caso envolvendo o Renato, digo que o clube deve se desculpar pelo mal entendido e o departamento de marketing lhe prestar uma homenagem . Não é mais admissível no futebol brasileiro que um clube como o Atlético aja com descaso em relação a um ex-jogador, ainda mais com uma contribuição dessa para a nossa História

    • Caro, concordo integralmente com suas observações, tanto que amanhã (já está editada) acredito que vai aprovar a postagem a ser publicada. No mais, Gaaalooo!

  • Os arqueiros citados não os vi em ação ,mas um que eu pude ver in loco foi o Miguel Ângelo Ortiz . Baita goleiro, que tbm foi injustiçado ( acusado de ter se vendido em um determinado jogo que não vale a pena relembrar) . O cara além de pegar muito,tbm se arriscava nas cobranças de pênaltis. Qto ao Renato ter sido barrado em sua própria casa, digo apenas que aqueles que não preservam seu passado ,correm sério risco de não ter futuro... Lamentável ! que isto seja reparado,ainda dá tempo. Com a palavra a diretoria... GALO

    • Renato e Kafunga são os que não vi jogar ... Infelizmente ! Qto ao acontecido no atletiba e aos amigos que estão sendo privados de ver nosso campeonato em detrimento aos do eixo uma pena é a culpa (se é que ela existe) é dos próprios Clubes . Implodiram com o Clube dos Treze em meio a negociação de equiparação na divisão das cotas de transmissão , aconteceu a mesma coisa qdo Kalil ,ainda CEO da primeira liga ,negociava com outras emissoras um valor melhor e igual para todos os participantes dela,boicotaram o cara é a desigualdade foi sacramentada ... Os próprios Clubes são vaquinhas de presépio e comem nas mãos desta porcaria , é só ver a desigualdade em prol das duas merdas apadrinhadas por ela .Juntando os Clubes mineiros e gaúchos não chegam nem perto de flamerda e curicas sozinhos. Atitude perfeita das agremiações,porém é certo que continuará tudo no mesmo, falta união entre os Clubes , é cada um por si e Deus por ele também ...O buraco é mais embaixo,bemmm mais embaixo!GALO

    • Caro, sobre aquele título perdido que debitaram na conta do Ortiz, tenho outra leitura. A partida decisiva, apitada por um paulista, teve bandeirinhas mineiros. O gol do título Atleticano, marcado por Marinho (ponta direita) foi covardemente mal anulado por um destes bandeiras, que era juiz e trabalhou como auxiliar. Seu espírito não deve estar sossegado, bem como o legado que deixou deve pesar sobre os ombros de quem o sucedeu.

      • Concordo com você ,só que o BO foi todo na conta do Ortiz ... uma pena ! Mais uma das muitas injustiças impostas ao CAM por esta turma que veste amarelo, vermelho,preto e por aí vai... Abraço

  • Além de acabar com o clube dos 13, o zerim jamais ai peitar a CBF, pois ganhou via fax um título brasileiro que soma com orgulho aos seu feitos. Se houver uma CPI séria do futebol a compra destes títulos espúrios será escancarada e os perderão, e aí virarão chacota mais uma vex

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