Amanhecer no melhor dos mundos

Qual entre nós, Atleticanos da gema, acordou de bem com a vida? Todos os dez milhões de Torcedores espalhados pelo mundo – com maior concentração em Minas e BH, onde somos maioria esmagadora – estamos no melhor humor dos últimos tempos. Finalista da Copa do Brasil, com a vaga muito bem encaminhada para também fazer a final da Libertadores, nem as poucas horas de sono impediram a alvorada ao som de uma banda tocando o hino do Galo.

É simbólico, claro, mas depois de apenas três horas de sono abri os olhos e o som da charanga do Júlio – ou das bandas de música da minha infância em Araxá – se misturavam com milhares de vozes que cantaram ao apito final do árbitro ontem à noite na nossa casa. Já na solidão deliciosa do meu cantinho, pude rever os gols e outros lances da partida, me embebedando de sucos naturais (sou abstêmio de álcool), e sentindo o efeito dessa insana paixão pelo nosso time do coração. Como é bom ser Atleticano!

Nem saí de casa, ainda, hoje vou mais tarde para a academia. Mas, cá do alto de onde moro, vejo pela janela pessoas que dormiram com o manto sagrado e já desfilam pelas ruas da Cidade do Galo. Durante boa parte da noite ouvia também gritos de guerra e buzinas festejando o grande resultado dessa primeira parte das semifinais. O time todo jogou muito bem, mas o Deyvinho foi o dono da festa. Numa partida iluminada, o irreverente centro avante, levou a Massa à loucura. Nada está decidido, mas ficou muito bem encaminhada a possibilidade de avançar para a partida decisiva da Copa Libertadores.

O time entrou em campo soberano. Como tem feito aqui em terras mineira e brasileira, foi encabulando o adversário, construindo outra goleada por três a zero. Outra sim, pois a última vez que enfrentamos o forte time do River Plate foi esse o placar, a exemplo de outros visitantes na nossa Arena. Não diria que tremeu, como outros tem essa psicose, mas também sentiram a força do Galo e do Atleticano. Fizemos um logo no início, anulado pelo bandeira, em lance discutível. Duas situações na jogada. La pelota antes de se oferecer ao artilheiro teria pegado no braço de um defensor adversário. Ou tira o impedimento na sequência ou teria uma penalidade. Seguiu o jogo.

Se começamos amassando, nem essa decisão da arbitragem impediu o ímpeto Atleticano. E foi de novo de Deyverson o tento validado que colocou mais lenha no fogo da Torcida. Se Éverson tinha pouco trabalho, o mesmo não ocorria no sistema defensivo argentino, e os cartões amarelos eram mostrados a todo momento. Num deles, o juiz afinou. A cotovelada no Arana era para vermelho direto. Foram cinco para o River (Facundo Colidio, Fabricio Bustos – esse era para vermelho -, Enzo Dias, Maximiliano Meza, Adam Bareiro) e apenas um (Fausto Vera) do nosso lado. Não sei, mas tomara que dois ou três tenham sido a terceira advertência.

Já no segundo tempo, as estrelas do Deyvinho e do Galo seguiram brilhando. Numa grande jogada do Arana, ele aumenta para dois gols de vantagem. Logo depois, ao melhor estilo – lembrei de Marcos Rocha e Ronaldinho – Scarpa bate lateral para Deyverson, que atrai a marcação e rola para Paulinho fechar a goleada. Insisto, a vantagem é boa e consistente, mas ainda tem a partida de volta. O River Plate é um grande time e muito bem treinado por Gallardo. Nada de cantar vitória antes da hora, até porque o Galo só canta ao amanhecer. Estou confiante! Mas mantenho, como em 2021, só festejei o BR depois da virada sobre o Bahia e na CB ao final da partida com o Paranaense.

Em tempo: 1) Muita gente preocupada com a punição da Conmebol, com multas altas em desfavor do Galo, pelo uso de sinalizadores. Interessante, quanto aos gestos racistas de argentinos, a mesma entidade é mais leve nas penalidades. 2) Três jornalistas malas foram lembrados ontem ao final da partida. Um, que torce contra o Galo em Minas e mora fora do Brasil, outros dois do eixo (o paulista é corintiano e o carioca flamidiático). Sobre a contratação de Deyverson pelo Galo. Disseram: maluquice, não joga nada, entre outras asneiras, a exemplo da contratação de R10 na ocasião. Sigamos!

*fotos: Pedro Souza/Atlético