por Marcelo Seabra
Em abril, chegou à programação da HBO Run (2020), série criada por Vicky Jones e com Phoebe Waller-Bridge na produção e no elenco. A dupla, dentre várias parcerias, é responsável pela ótima Fleabag (2016), que por si só já é um ótimo cartão de visitas. Dessa vez, elas se voltam para uma dona de casa suburbana que abraça uma oportunidade de dar uma chacoalhada em sua vida fugindo com um antigo namorado e largando tudo pra trás.
À frente do elenco, temos um casal bem interessante. Enquanto Domhnall Gleeson (da nova trilogia Star Wars) já vem tendo bastante reconhecimento, Merritt Wever ainda carecia de uma boa oportunidade. Depois de diversos papéis menores (como em História de um Casamento, 2019), ela chegou a protagonista em Inacreditável (Unbelievable, 2019), mas ainda sob a sombra de Toni Collette. É em Run sua grande chance, e a atriz não faz feio. Num misto de anseio por liberdade e angústia por deixar o que construiu, incluindo aí filhos e marido, Wever deixa bem claro como a cabeça de sua Ruby está confusa. Ao mesmo tempo, ela aproveita o momento.
Gleeson, bem sucedido e perdido, faz um belo retrato de um dos tipos de sua geração. Ele é o sujeito que, através de insistência e apoios, construiu um nome e uma carreira. Ao ver o quanto tudo aquilo era vazio, foi ele mesmo tirar os tijolos de baixo e ver tudo desabar. E não sem antes dar uma cutucada em life coaches, profissão que cresce de forma desordenada e acaba acolhendo muita gente mal preparada que se coloca na delicada posição de aconselhar outras.
Com apenas sete episódios de aproximadamente 30 minutos, Run de fato passa correndo. O título explica a premissa da atração: no fim da adolescência, um casal desfeito faz um pacto. Se, a qualquer momento, um enviar a palavra “Corra” (Run) e o outro retribuir, eles deveriam se encontrar em Nova York. Depois de 17 anos, isso acontece. Eles obviamente não são mais os mesmos, muita água já rolou. Mas a química entre os dois é visível. Entre a comédia e o suspense, vamos acompanhando as decisões erradas que eles tomam, torcendo para que dê tudo certo, mesmo que não saibamos o que seria isso exatamente.