por Marcelo Seabra
As adaptações de textos de Stephen King praticamente formam um subgênero, tamanho é o volume e a frequência com que chegam às telas – grandes e pequenas. É comum vermos duas tentativas com o mesmo livro (como foi com Carrie, a Estranha, e com O Nevoeiro) e até continuações toscas que nada têm a ver com o original (como com Colheita Maldita). Uma obra permanecia intocada: a série de oito livros A Torre Negra, tida como inadaptável. Ficou anos de lá para cá, passando nas mãos de vários diretores, roteiristas e produtores. Enfim, em 2017, a espera chegou ao final.
Coube ao dinamarquês Nikolaj Arcel (de O Amante da Rainha, 2012), com um roteiro assinado a oito mãos (inclusive as dele), cuidar da adaptação. Que, na verdade, não é exatamente uma adaptação, mas uma apropriação dos personagens em uma outra realidade. Atualmente em cartaz, A Torre Negra (The Dark Tower, 2017) dá vida ao Pistoleiro e ao Homem de Preto, os icônicos antagonistas do mundo criado por King e desenvolvido por mais de 30 anos.
Uma coisa sobre o longa é indiscutível: o elenco é fantástico. Idris Elba (da série Luther) é um Pistoleiro perfeito, com todos os trejeitos e atitudes que se pode esperar, e uma certa doçura que era imprevisível. Matthew McConaughey (de Interestelar, 2014) passa a ironia e a maldade necessárias ao vilão. E, mesmo com esses acertos, a palavra que melhor define o filme é decepção. Se Elba consegue conferir um pouco de humanidade a seu personagem, o mesmo não se pode dizer do colega, e a culpa é totalmente do roteiro – e talvez do responsável pelo cabelo dele, que parece artificial como sua personalidade.
É criado um draminha adolescente para dar o pontapé inicial, e o fio condutor é o jovem Jake (Tom Taylor, de The Last Kingdom). A cara é de romance para jovens adultos, mais um Divergente da vida. Pesadelos fazem com que Jake chegue ao Mundo Médio e encontre aqueles que povoam sua mente. Uma coisa que King sabe bem, e Tolkien, Lewis, Martin e companhia também, é que você deve estipular regras ao criar um universo fantasioso. Senão, fica muito fácil tirar da manga situações e soluções, e é isso que acontece aqui. O garoto é uma variação do Danny Torrance de O Iluminado e descobre as coisas junto com o público. A luta entre Roland e Walter parece ser milenar, como a do bem contra o mal, mas nunca foi resolvida sabe-se lá porquê.
E o objetivo do vilão? Governar um mundo morto, cheio de monstros. É o que fica claro. Pior do que isso, só o conflito mequetrefe que surge para colocar em xeque a amizade do Pistoleiro com o garoto. O que Roland busca: salvar a Torre Negra ou se vingar de Walter? Tanto faz, gente, o fim será o mesmo se ele for bem-sucedido. E fim é o que o público espera ansiosamente, após pouco mais de 90 minutos que parecem uma eternidade. Nem os easter eggs sobre a carreira de King animam os fãs. E os não iniciados vão vagar por mundos distantes durante a sessão, e esquecerão o que viram assim que as luzes se acenderem.
Marcelo, parabéns! Você falou tudo o que eu queria falar e não tinha palavras!
A única coisa que me vinha à mente é que havia perdido tempo e dinheiro para assistir um filme xarope ainda pior do que os requentados da famosa “Sessão da Tarde”.
Obrigado, Márcio, e volte sempre!