Redmayne e Rowling nos apresentam a Animais Fantásticos

por Marcelo Seabra

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Depois de sete livros e oito adaptações para o Cinema, realmente deve ter sido difícil para J.K. Rowling abandonar o mundo de bruxos e magia que criou. Financeiramente, então, nem se fala, mesmo que ela não precise se preocupar com dinheiro – nem suas próximas gerações. Uma saída que a escritora encontrou foi ajudar a criar a história de Harry Potter and the Cursed Child, elogiada peça da Broadway. Outra foi expandir o universo de Potter e entregar o protagonismo a outro, o que acontece no livro Animais Fantásticos e Onde Habitam (Fantastic Beasts and Where to Find Them), que ela assina com o pseudônimo de Newt Scamander. Uma variação da história, um livro “técnico” sobre as criaturas do Mundo Bruxo, chega agora à tela grande com roteiro da própria Rowling.

Nessa nova aventura, somos apresentados a Newt Scamander (Eddie Redmayne, de A Garota Dinamarquesa, 2015), uma mistura de abobalhado e jacu que estuda e protege criaturas que outros, até seus pares bruxos, temem, provavelmente por falta de informação. Por isso, ele pretende escrever um livro sobre o assunto. Newt chega a Nova York para comprar um presente de aniversário, mas de cara uma das criaturas que leva na mala foge e ele sai atrás. Nessa bagunça, conhece o “trouxa” (ou “não-maj”, um humano normal) Kowalski (Dan Fogler, da série The Goldbergs), um operário bonachão que sonha em abrir sua própria padaria. Juntos, eles vão arrumar briga com o Congresso de Bruxos dos Estados Unidos, que acaba os acusando de diversos crimes.

Fantastic Beasts three

Do lado desse tal Congresso, Tina Goldstein (Katherine Waterston, de Vício Inerente, 2014) é uma ex-investigadora que pretende recuperar seu cargo entregando Newt à Presidente Picquery (Carmem Ejogo, de Selma, 2014), para que ele pague por seus supostos crimes. Mais focado e misterioso é Percival Graves (Colin Farrell, de Presságios de um Crime, 2015), braço direito da Presidente, que também vai correr atrás de nosso herói. No núcleo dos fanáticos, Samantha Morton (de Miss Julie, 2014) é uma mulher que combate a bruxaria que julga existir no mundo, mesmo que os indícios sejam poucos, e adota órfãos que leva para a luta com ela. Um desses garotos é Credence (Ezra Miller, o novo Flash da DC), que tem seus próprios interesses.

À frente do elenco, Redmayne mais uma vez mostra os maneirismos de sempre. Cabeça tombando para o lado, voz trêmula, dificilmente olhando nos olhos de seu interlocutor. O ator parece ser bem limitado, o que pode funcionar muito bem se isso convier ao papel – caso de A Teoria de Tudo (The Theory of Everything, 2014). Aqui, não chega a comprometer, mas ele cria um protagonista sem graça que terá que desabrochar nas continuações para justificar sua importância. É Fogler quem acaba tendo momentos bem engraçados, demonstrando ótimo timing para comédia. Waterston e a cantora Alison Sudol (Tina e a irmã) também funcionam bem, reforçando um grupo que ainda conta com um Farrell (abaixo) bem equilibrado, nos deixando em dúvida quanto a suas intenções. Se o trailer o mostrava como vilão, o filme nos faz ponderar. Há ainda pontas de Jon Voight, Ron Perlman e Zoë Kravitz.

Fantastic Beasts Farrell

Fazendo diversas homenagens às histórias de Harry Potter, que devem acertar em cheio a nostalgia dos fãs da série, Animais Fantásticos não chega a criar heróis tão carismáticos quanto o trio “original”, mas não fica muito atrás no quesito diversão. Talvez por ser direcionado a estes fãs, que já estão mais velhos, o diretor David Yates mantém o tom mais sombrio dos filmes que dirigiu na franquia, os quatro últimos. Nova York se torna uma cidade escura, o que faz um ótimo contraponto às criaturas coloridas e diversas que se cruzam. Os efeitos especiais são bem sucedidos e valorizam tanto a terceira dimensão quanto o tamanho da poderosa tela IMAX: o uso da profundidade faz sentido e a riqueza de detalhes da produção enche os olhos em todos os cantos da tela. E o figurino da impecável Colleen Atwood é a cereja do bolo.

Com nada menos que quatro continuações anunciadas, a franquia Animais Fantásticos e Onde Habitam pode chegar a ser tão grande quanto a de Harry Potter, que foi esticada com o último livro virando dois filmes. Veremos se as demais terão o mesmo gás da primeira parte e se manterão o interesse do espectador. Com a mãe desse universo envolvida na produção e roteiro, não será tarefa difícil. E, da mesma forma que Daniel Radcliffe e seus colegas cresceram junto com os personagens, poderemos ver Redmayne e companhia envelhecerem com os seus.

O cultuado Ron Perlman faz uma ponta irreconhecível

O cultuado Ron Perlman faz uma ponta irreconhecível

Sobre Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.
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Uma resposta para Redmayne e Rowling nos apresentam a Animais Fantásticos

  1. Lucia Trejo disse:

    A trilha sonora é parte importante dos filmes, por que dá uma atmosfera com a que captura o espectador, em Animais Fantásticos e Onde Habitam o trabalho com as músicas é impressionante, cuidando cada detalhe. Realmente vale a pena todo o trabalho que a produção fez, cada detalhe faz que seja um grande filme.

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