por Marcelo Seabra
Um jogo que te faz sair correndo para cumprir provas e ganhar dinheiro parece mesmo ser o futuro – mas aquele logo ali, na virada da esquina. Nerve: Um Jogo Sem Regras (2016), que chega aos cinemas essa semana, é uma aventura voltada para adolescentes que consegue divertir outros públicos também. Mas suas inconsistências são tão grandes que começam a pular da tela, o que tira completamente o foco da trama. Mas não deixa de ter suas qualidades, levantando inclusive algumas questões interessantes, mesmo que superficialmente.
Baseado no livro de Jeanne Ryan, o roteiro nos apresenta a Venus (Emma Roberts, da série Scream Queens), uma estudante bonita e inteligente que vive na sombra da amiga popular Sydney (Emily Meade, de Jogo do Dinheiro, 2016). Quando confrontada por ser muito passiva, Vee (para os íntimos) decide participar de um jogo do momento, o tal Nerve. Há dois tipos de usuários: os que jogam e os que assistem. Quem loga apenas para assistir paga uma taxa que acaba convertida em prêmio para quem loga como jogador e cumpre as tarefas propostas. Em seu primeiro desafio, Vee conhece Ian (Dave Franco, de Truque de Mestre 2, 2016), o público gosta da química entre eles e o jogo passa a ser em dupla, cada um com uma agenda escondida. E o grau de dificuldade obviamente vai aumentando.
Dessa pequena sinopse, já tiramos alguns pontos passíveis de discussão que dizem respeito ao mundo em que vivemos. Não seria difícil termos uma mistura de reality show e jogo em um aplicativo prático que você acompanha em tempo real, a todo momento. Se já vemos pessoas andando à caça de Pokemóns, por que não cumprindo provas? E os prêmios em dinheiro certamente apimentariam a busca pelos monstrinhos. A vontade e a facilidade de ser celebridade também aparecem aqui, e há inclusive participação de YouTubers verdadeiros, que conhecem bem a situação.
Partindo dessa promissora descrição, era de se esperar mais de Nerve (o filme). A primeira coisa que estranhamos é a fartura de imagens das provas, inclusive algumas bem de perto, que só os envolvidos conseguiriam capturar. Mas eles estão empenhados em finalizar o desafio, e não se vê um celular em suas mãos. Pelas regras do jogo, a tarefa só é considerada completa quando filmada pelo celular do próprio participante, e isso só acontece quando é conveniente. Em diversos momentos, vemos terceiros filmando, o que não parece ser um problema. E as soluções apresentadas são tão simplistas e ingênuas que fica difícil comprá-las.
Depois de uma estreia em longas-metragens com o documentário Catfish (2010), sobre relacionamentos online, os diretores Henry Joost e Ariel Schulman voltam a temas relacionados a tecnologia e juventude para contarem essa fácula moderna. Sempre como uma dupla, eles assinam vários curtas e duas partes da franquia Atividade Paranormal (a 3ª e a 4ª). Este ano, eles também comandaram Viral (2016), este pendendo mais para o terror. E a roteirista, Jessica Sharzer, vem de alguns episódios da série American Horror Story, tendo aqui seu trabalho mais significativo.
A fotografia é um dos pontos altos de Nerve. Michael Simmonds (de Celular, 2016) constrói cenas bem interessantes, que praticamente transformam as ruas de Nova York em boates, com luzes e cores fortes. Vários recursos visuais são utilizados para darem a cara de um aplicativo, com conversas e pedidos de autorização na tela, aproximando espectadores e personagens. A montagem ágil também beneficia a experiência, com tudo acontecendo num ritmo acelerado. Afinal, o cronômetro do jogo está correndo.