por Marcelo Seabra
Para este filme ficar acima da média, bastou uma grande atriz como protagonista. A Vingança Está na Moda (The Dressmaker, 2015) se beneficia muito do talento e da beleza de Kate Winslet, que se vira bem com uma personagem que deveria ser interessante, mas é mal concebida e nunca revela a que veio. É no elenco, que ainda conta com a ótima Judy Davis, que o filme se apoia, já que o roteiro parece amarrado por linhas muito finas que não aguentam a pressão.
No início da história, já percebemos que tudo depende de esquecimentos e situações muito convenientes, essenciais para que a trama seja possível. Tilly Dunnage (Winslet, da franquia Divergente) há muito não voltava à pequena Dungatar, no outback australiano, e surpreende a todos com seu retorno. Deixando a alta costura parisiense, ela se propõe a cuidar da mãe doente (Davis, de Para Roma, Com Amor, 2012) e fazer vestidos para as garotas e senhoras locais. Por trás dessa atitude aparentemente altruísta, há um óbvio ressentimento esperando para se tornar vingança.
Uma mistura de asco e medo é percebida na população do vilarejo quando se trata das duas Dunnage. A mais nova é acusada de assassina e a mais velha é tida como louca. Poucos se dispõem a ajudar e a conviver com elas, caso do bom moço Teddy (Liam Hemsworth, da franquia Jogos Vorazes) e do policial Farrat (Hugo Weaving, de A Viagem, 2012). A maior parte da população é formada por homens machistas e grosseirões e mulheres vazias e interesseiras. Tilly não se encaixa nesse perfil e não se sujeita, mas tem uma certa necessidade de aceitação por baixo da postura de durona.
O que a garota pretende, no entanto, nunca fica claro. Fatos vão sendo revelados e entendemos melhor o quadro, mas não parece haver nada planejado. As coisas simplesmente acontecem e seguem um rumo, muito diferente do que esperamos de uma pessoa magoada que a qualquer momento vai explodir. Tilly é caça e caçadora e começa a ficar difícil identificar a diferença. Winslet defende as atitudes da personagem, e podemos até comprar algumas delas, mas o quadro geral é bem falho. Davis, como a mãe idosa e rebelde, segue na mesma trilha, extremamente competente em sua arte, mas necessita de verdade.
A diretora Jocelyn Moorhouse tem um longo histórico de misturas bem equilibradas entre drama e comédia (A Prova, 1991, e Colcha de Retalhos, 1995), e o marido, PJ Hogan, é sempre lembrado como o diretor de O Casamento do Meu Melhor Amigo (1997) e O Casamento de Muriel (1994), novo clássico do Cinema australiano. Moorhouse dirige um roteiro escrito pelo casal, baseado no livro de Rosalie Ham, e novamente prestigia sua terra natal, o que é admirável. As paisagens são benefício extra. Mas as várias versões do roteiro e o tempo que o projeto levou para sair do papel devem ter causado-lhe danos. O tom é indefinido, indo de um extremo a outro, e o resultado é irregular.