por Marcelo Seabra
Como ninguém deve aguentar viver de Transformers, Michael Bay busca alternar projetos de magnitudes diferentes, saindo dos robozões caros para orçamentos menores e histórias variadas. Às vezes, a opção funciona, como no caso de Sem Dor, Sem Ganho (Pain & Gain, 2013), mas o diretor corre o risco de deixar o seu pior vir à tona e criar algo como 13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi (13 Hours: The Secret Soldiers of Benghazi, 2016). Muitos tiros e destruição em mais de duas horas de projeção, e não poderia faltar o close na bandeira americana. Dois, na verdade.
Coube ao escritor e produtor Chuck Hogan (de The Strain) adaptar o livro-reportagem homônimo de Mitchell Zuckoff sobre os profissionais contratados pelo governo americano para fazerem a segurança de uma base secreta da CIA em Benghazi, na Líbia. Empregados de uma empresa particular, com histórico nas Forças Armadas, os seis sujeitos recebiam ordens dos oficiais da base e ficavam apenas fazendo rondas, servindo como motoristas e passando uma desejada sensação de tranquilidade. No aniversário do 11 de setembro, no entanto, o embaixador americano na Líbia chega a Benghazi e uma milícia local decide atacá-lo. Os únicos que poderiam ajudar estão no país em segredo e não deveriam chamar atenção. Começa aí a tensão do longa.
Para começo de conversa, Bay chama a Líbia de país fracassado, mostra sua população ora como corrupta, ora como trapalhona e os americanos são os heróis que vão salvar a pátria – dos outros. A valorização do macho é algo sem precedentes, mostrando músculos suados sendo muito mais importantes e almejados do que cérebro. Afinal, os espiões são covardes, burocratas e se escondem atrás de mesas, deixando o trabalho duro para os grandões. Quando se é um americano guiado por valores puros e idealistas, o que são ordens? Hierarquia, nessa hora, não serve para nada, e o próprio chefe-burocrata acaba acatando essa verdade. É impressionante como os indivíduos pensantes são altamente dependentes dos indivíduos braçais, como crianças com babás.
No elenco, temos dois graves problemas. O primeiro é ter uma série de atores que pouco se diferenciam uns dos outros, e o público acaba confuso. “Mas esse cara não havia ido a outro lugar?”, é algo que você pode se perguntar durante a sessão. “Mas ele não estava ferido?” Se eu não sei quem é quem, pouco me importa que vai se ferir ou morrer. Colocar todos com famílias, falando com os filhos pelo tablet, não chega nem perto de construir personalidade, ou atrair simpatia. Você acaba torcendo para que matem todos, assim o filme acaba mais rápido. E o outro problema é um John Krasinki (de The Office – acima) bem deslocado. Forte como nunca, o ator parece estar sempre esperando a piada, como se não tivessem avisado que se trata de um drama real de guerra. Com Chris Pratt, em Guardiões da Galáxia (2014) e no novo Jurassic Park (2015), funcionou muito bem, mas isso não significa uma fórmula a ser seguida.
Como é típico de Bay, a montagem acelerada, cheia de cortes rápidos, torna a ação incompreensível. As cenas de batalha até conseguem ser interessantes, mas se alongam demais e não demoram a cansar. A bandeira americana entra nesse fogo cruzado e, primeiro, é mostrada levando tiros, para na sequência aparecer dentro de um lago, como se estivesse afogada. Precisa de uma metáfora melhor para justificar o envolvimento dos salvadores americanos?