por Marcelo Seabra
Duas estreias recentes do Netflix devem agradar os fãs de filmes de terror. Um dos destaques do Cinema australiano recente, The Babadook (2014) recebeu mais de 50 indicações a prêmios variados, levando 40 deles. À moda antiga, o longa cria uma atmosfera aterrorizante utilizando as partes escuras de uma casa e o relacionamento entre mãe e filho, marcado pela morte do pai e pela chegada de um ser misterioso. E a outra é a primeira adaptação cinematográfica de uma obra do escritor Joe Hill e traz o eterno Harry Potter Daniel Radcliffe no papel principal. Amaldiçoado (Horns, 2013), assim como The Babadook, não teve um lançamento decente no Brasil, e ambos são agora reabilitados pelo Netflix.
Depois de um violento acidente de carro quando ia ao hospital para o parto, Amelia (Essie Davis, da série Miss Fisher’s Murder Mysteries) teve um filho e perdeu o marido. Os conhecemos quando o pequeno Samuel (Noah Wiseman), com seis anos de idade, começa a ter problemas cada vez mais sérios de comportamento. E um livro aparece na casa deles contando a história do Sr. Babadook, uma criatura sinistra que inferniza quem a conhece. Coisas estranhas começam a acontecer e mãe e filho começam a achar que o tal Babadook é real, e essa crença muda ainda mais as reações deles, tornando difícil o convívio deles com outros e até entre eles mesmos.
A questão do monstro é apenas uma oportunidade para trabalhar a relação da mãe traumatizada com o garoto. O marido morreu há anos, mas ela não superou, e olhar para o filho parece trazer lembranças dolorosas, o que leva a sentimentos confusos. E o espaço físico é bem explorado, com os cômodos servindo para criar a tensão e ocultar algo que não sabemos se está lá. A paranóia crescente dos personagens começa a levar a extremos perigosos e envolve cada vez mais o espectador. A diretora e roteirista Jennifer Kent aproveitou bem a oportunidade de transformar seu curta em longa e estendeu o conceito que havia criado, e não perde a mão na condução.
Outro conto sobrenatural é Amaldiçoado, história que nos apresenta ao jovem Ig Parrish (Radcliffe) pouco após a morte da namorada em circunstâncias não explicadas. Merrin (Juno Temple, de Killer Joe, 2011) foi assassinada e Ig é crucificado pela sociedade em geral. Um par de chifres que começam do nada a crescer na cabeça dele tem o poder de fazer as pessoas revelarem seus segredos mais íntimos. Ig vê aí a oportunidade de descobrir o que houve com Merrin, investigando por conta própria o que houve naquela fatídica noite.
Apesar de alguns caminhos duvidosos que o roteiro toma, a trama é bem criativa e Joe Hill mostra que é muito mais que apenas o filho de Stephen King. O diretor Alexandre Aja (de Piranha 3D, 2010) faz aquele que deve ser seu melhor filme até então, com roteiro de Keith Bunin (da série Em Tratamento). Radcliffe segue tentando se desvincular de seu papel mais famoso e duradouro, mostrando coragem na escolha de papéis (assim como em Versos de um Crime, 2013). Os demais nomes do elenco também abraçam o absurdo da premissa e tornam as coisas mais fáceis de serem aceitas.
O Netflix já é uma potência no serviço de distribuição de diversas outras obras áudio-visuais e se mostra a forma ideal de nos permitir conferir filmes que não tiveram uma distribuição apropriada. Não fosse assim, The Babadook e Amaldiçoado estariam relegados à internet e à pirataria e muita gente não teria a oportunidade de ver.