por Marcelo Seabra
Um elenco de atores normalmente relegados a segundo plano, todos muito competentes, ganha pelo fato de não ter uma estrela buscando mais atenção que os colegas. É isto o que acontece em A Filha do Meu Melhor Amigo (The Oranges, 2011), título nacional ordinário para a dramédia que finalmente chega ao Brasil, depois de dois anos na geladeira. O diretor Julian Farino vem de séries de TV como Entourage e Como Vencer na América e reuniu atores atualmente mais lembrados por séries também, mas que estão sempre lá e cá.
Os personagens principais são dois casais de velhos amigos, daqueles que passam juntos todos os feriados. Hugh Laurie (o Dr. House) e Catherine Keener (de Confiar, 2010) são os Wallings; Oliver Platt (de X-Men: Primeira Classe, 2011) e Allison Janney (de Histórias Cruzadas, 2011), que trabalharam em The Big C e The West Wing, são os Ostroffs. Tudo corre bem na vida dos casais até que a filha sumida dos Ostroffs (Leighton Meester, de Gossip Girl) resolve aparecer em casa. A volta de Nina é o catalizador da separação dos Wallings, que já não estavam muito bem, e David se vê caído pela menina.
Como ninguém é apresentado como vítima ou como vilão, há um equilíbrio interessante. Todos têm uma parcela de culpa ou responsabilidade no que está acontecendo, nos relacionamentos ameaçados. Os filhos dos Wallings não ajudam em nada: Vanessa (Alia Shawkat, de Arrested Development) tem medo de correr atrás de seus sonhos e vive em seu mundinho, enquanto Toby (Adam Brody, de The O.C.) mora fora e é sempre o último a saber de tudo. Para complicar, Toby e Nina têm um caso adolescente mal resolvido e Vanessa nutre um ressentimento por Nina, que era sua amiga e a deixou para andar com as garotas populares.
Lembrando um pouco (de relance) o ótimo Beleza Americana (American Beauty, 1999), The Oranges traz personagens problemáticos, em crise ou os dois. Hugh Laurie volta a encontrar Leighton Meester, com quem fez dois episódios de House em 2006, e um dos problemas do longa é a falta de química entre eles, que deveriam ser um casal ardente e não convencem (acima). Os problemas mostrados são situações corriqueiras que todos enfrentam (ou podem enfrentar) no dia a dia, nada muito digno de nota. O relacionamento entre duas pessoas tão diferentes vem para sacudir aquela rotina, que realmente precisava ser balançada, mas sabemos que logo voltará à normalidade.
Os roteiristas de primeira viagem, Jay Reiss e Ian Helfer, deixam tudo muito certinho, com as soluções a dois minutos à frente na projeção. Tudo se encaixa, o final é óbvio e morno, como todo o resto. Os atores envolvidos, único fator digno de nota, mereciam mais que apenas “o filme bonitinho da semana”. A graça é vê-los trabalharem e não esperar muito além disso.