por Marcelo Seabra
Depois das bem sucedidas parcerias com a HBO em Angels in America (2003) e You Don’t Know Jack (2010), Al Pacino se uniu ao canal para mais um longa inspirado em uma figura pública e polêmica. Phil Spector (2013) ganha sua primeira exibição nacional no próximo dia 13/04. Além de Pacino, (quase) sempre ótimo de se ver, há ainda outra atração: a presença de Helen Mirren, outra grande força do cinema. Isso, além de contar com David Mamet (de Cinturão Vermelho, 2008) no roteiro e na direção, o que é garantia de bons diálogos.
Nos anos 60, Spector (ao lado, em fotos mais recentes) foi um pioneiro da música norte-americana. Além de compor vários sucessos da década, como You’ve Lost That Lovin’ Feelin’, tida como a música mais tocada no século XX, ele produziu diversos artistas, como os Beatles. Foi Spector quem criou a técnica de gravação conhecida como Wall of Sound, que deu ao rock um som forte, dividido em camadas com instrumentos bem delimitados, uma riqueza digna de orquestras. Sempre nos holofotes, ele produziu John Lennon, Leonard Cohen, até os Ramones. Episódios chocantes, como ameaças com armas a artistas que não queriam seguir suas recomendações, apareceram com certa frequência, mas normalmente ficavam na esfera de boatos.
Em 3 de fevereiro de 2003, o corpo de uma atriz foi encontrado na casa de Spector. Lana Clarkson tinha dentes quebrados e um ferimento de bala na boca. Um escândalo dessa grandeza logo faz mais pessoas contarem o que sabem e outras mulheres revelaram que haviam sido coagidas por Spector com armas, que ele colecionava. Em 2007, o julgamento começou e, depois de ser representado por outros advogados, ele passou a contar com a experiente Linda Kenney Baden. Assim como aconteceu com A Garota (The Girl, 2012), também da HBO, a obra atraiu críticas de todos os lados. A família de Clarkson alega que a teoria de suicídio defendida por Spector ganha muita confiança, enquanto a esposa dele alega que o marido é mostrado como um monstro megalomaníaco.
Para evitar problemas, a produção já começa exibindo aqueles avisos de tratar-se de ficção. Ou tem passagens cruéis que teriam sua veracidade contestadas, ou muito foi realmente invenção. Conhecemos mesmo os fatos básicos, que cercam a chegada da advogada ao caso e o desenrolar do julgamento. Mas as conversas entre eles são cortesia do sr. Mamet, que permitem a Pacino e Mirren brilhar nos papéis principais. O personagem permite a Pacino seus exageros característicos, já que Spector é mostrado como um milionário, digamos assim, excêntrico. Ele se vê como perfeitamente normal, e sabe que há muita gente estranha e que se deixa levar pela fama e poder, mas não é o caso dele.
Phil Spector (o filme) mostra sim uma certa tendência a defender as teses de seu protagonista, mas isso simplesmente se deve ao fato de acompanharmos tudo pelos olhos da advogada. Não há o outro lado. Ao contrário de outra produção da HBO, o excepcional Virada no Jogo (Game Change, 2012), o longa não dá muitas informações sobre os retratados. O centro é o curto relacionamento profissional entre eles, e só. Para quem espera ver mais sobre a fascinante vida de Spector, desista. Mas são 90 minutos estrelados por Pacino e Mirren, o que vale – e muito – a sessão.