por Marcelo Seabra
Há filmes para todos os tipos de esportes, e alguns já têm grandes representantes. O boxe, por exemplo, tem no cinema Jake La Motta e Rocky como celebridades (uma real e a outra fictícia), e há pouco deu um Oscar de Melhor Ator Coadjuvante a Christian Bale (por O Vencedor, 2010). Pois agora até as artes marciais mixas, ou MMA (sigla do inglês), têm o seu retrato com Guerreiro (Warrior, 2011), elogiado drama que chega direto em vídeo este mês.
Uma das surpresas nas indicações ao Oscar 2012 foi a lembrança a Nick Nolte (o pai do Hulk, de 2003) pelo papel do pai dos lutadores de Guerreiro. É a terceira indicação do veterano americano (as outras foram por O Príncipe das Marés, de 1991, e Temporada de Caça, de 1997), e outras associações já haviam anunciado seu nome entre finalistas de prêmios, como o Sindicato dos Atores. Apesar de não ser um fã de Nolte, aqui a justiça foi feita.
Quando o longa começa, conhecemos Tommy Riordan (Tom Hardy, de O Espião de Sabia Demais, de 2011), um misterioso lutador que procura o velho pai, depois de muitos anos longe, para que eles voltem a treinar juntos. Tommy não quer nenhum envolvimento pessoal com o velho Paddy, um alcoólatra recuperado que abraçou a religião tentando esquecer o passado como marido e pai abusivo. O envolvimento dos dois seria estritamente profissional, para que Tommy tenha chance de ganhar o campeonato de MMA Sparta, o que significaria um prêmio de cinco milhões de dólares.
Ao mesmo tempo, descobrimos que o outro filho de Paddy, Brendan (Joel Edgerton, de Reino Animal, 2010 – ao lado), também era um lutador, hoje um pacato professor de física. Precisando manter a casa e alimentar a família, Brendan procura bicos em lutas organizadas de forma capenga, batendo em fãs de UFC que acreditavam poder lutar como seus ídolos. Acontece que essas lutas não são um dinheiro tão fácil quanto parecia e as marcas que ficam acabam fazendo que ele seja suspenso do colégio onde trabalha. O tempo livre permite que ele treine e crie esperanças de entrar em um certo campeonato de MMA que dará uma bolada para o campeão.
Como pode-se perceber, a história é previsível. Mas é o caminho que importa, a forma como isso é desenvolvido prende o espectador e faz com que os personagens passem a importar. Com pouco tempo de projeção, você desculpa as coincidências e fórmulas do roteiro e passa a torcer pelos Conlons. Alguns fatos estranhos são gritantes. O temido Koba, por exemplo, é um gigante de mais de 100 quilos que compete como peso médio, categoria que vai até os 84 kg. Edgerton parece franzino perto dele. Na verdade, o lutador que dá vida a Koba, Kurt Angle, pesa 110 kg e já venceu o campeonato mundial de pesos pesados 15 vezes. Não entrarei muito nesses pontos para não estragar as poucas surpresas do longa.
Ver Tom Hardy como o ressentido e nervoso Tommy já aumenta a expectativa para Bane (ao lado), o vilão da aguardada terceira parte da trilogia de Batman. O ator, apesar da forma física que poderia estereotipá-lo, vem se mostrando versátil e conquistando terreno. Todo o trio principal está muito bem, e ajuda o roteiro tentar criar um passado para cada um, revelando pouco a pouco a história da família e as causas do conflito estabelecido. O diretor e roteirista Gavin O’Connor, que vem do fraco Força Policial (Pride and Honor, 2008), deixa o drama na medida certa, sem sentimentalismo barato, e é objetivo nas lutas, nunca chegando a cansar. No final das duas horas, foi uma boa forma de conhecer um pouco do mundo das MMA, além de uma experiência cinematográfica interessante.