por Marcelo Seabra
Dois dos atores mais comentados do momento se reúnem, sob o comando de um deles. Ryan Gosling, no ano em que já tinha sido visto e elogiado em Amor a Toda Prova (Crazy Stupid Love, 2011) e Drive (2011) – este, ao menos nos Estados Unidos – , se juntou a George Clooney, que atualmente está nos holofotes gringos por sua atuação em Os Descendentes (The Descendents, 2011). O resultado é o ótimo Tudo Pelo Poder (The Ides of March, 2011), que ainda é dirigido e roteirizado por Clooney.
A exemplo de clássicos como A Embriaguez do Sucesso (Sweet Smell of Success, 1957) e A Grande Ilusão (All the King’s Men, 1949) e da finada série The West Wing (1999-2006), o longa enfoca intrigas ligadas ao poder e mostra como, para atingir os fins, podemos distorcer os meios. Gosling vive o assessor de imprensa da campanha de um pré-candidato democrata à presidência, o personagem de Clooney. Stephen Meyer admira Mike Morris e fará de tudo para levá-lo à vitória, acreditando que ele é um bom homem e o sujeito ideal para o cargo. Para ficar com a vaga destinada ao partido, Morris precisa vencer o outro pré-candidato democrata, e a disputa interna se mostra bem acirrada. A todo momento, novas alianças são formadas e o resultado muda drasticamente, muitas vezes deixando a ética de lado.
Clooney, que já é um ator tarimbado e tem boas relações em seu meio, cerca-se de pessoal competente para contar a história. Paul Giamatti (de Minha Versão do Amor, 2010) e Philip Seymour Hoffman (de Dúvida, 2008), nos papéis de chefes de campanha em lados opostos, dão um show cada vez que aparecem. Completando o grupo principal, aparecem Evan Rachel Wood, Marisa Tomei (ambas de O Lutador, 2008) e Jeffrey Wright (de Contra o Tempo, 2008), este com um papel pequeno, mas importante. Trata-se de um senador que tem uma base de apoio imprescindível para quem quiser ganhar.
Demonstrando ainda mais confiança que quando comandou Confissões de uma Mente Perigosa (Confessions of a Dangerous Mind, 2002) e Boa Noite e Boa Sorte (Good Night, and Good Luck, 2005), Clooney confirma saber exatamente o que está fazendo. Depois de ter visitado a zona da comédia bobinha com O Amor Não Tem Regras (Leatherheads, 2008), ele volta a realizar um filme contundente e crítico. Apesar de ser publicamente a favor do Partido Democrata, ele aponta o dedo em todas as direções, chegando a classificar o partido de hipócrita, por fazer rodeios ao invés de ir direto ao assunto, como faz o Partido Republicano. Não é a toa que os democratas elegeram pouquíssimos presidentes nas últimas décadas. Clooney também assina o roteiro, ao lado de seu parceiro de Boa Noite e Boa Sorte Grant Heslov, além de Beau Willimon, que escreveu a peça original.
Este parece ter sido o ano de Ryan Gosling. Cada vez mais citado como um dos grandes atores de sua geração (ainda mais com esse sumiço de Edward Norton), ele vinha do sucesso de Namorados para Sempre (Blue Valentine, 2010), além dos filmes citados acima. Nas indicações recém-divulgadas aos Globos de Ouro 2012, ele entra como Melhor Ator nas duas categorias: Drama, com Tudo Pelo Poder; e Musical ou Comédia, com Amor à Toda Prova. Os concorrentes são fortes (o próprio Clooney está no meio em Drama, por Os Descendentes), mas Gosling compete de igual para igual. Analisando rapidamente sua curta carreira (pouco mais de 30 trabalhos), já podemos considerá-lo um vencedor, qualquer que seja o resultado dos Globos.
Tudo Pelo Poder, que estreia nos cinemas definitivamente esta semana (após várias sessões de pré-lançamento), ainda recebeu mais três indicações aos Globos de Ouro: Melhor Filme – Drama, Melhor Roteiro e Melhor Diretor. E que venham os Oscars!