por Marcelo Seabra
Dê bastante dinheiro a Joel Schumacher e veja-o meter os pés pelas mãos. Não que seja uma regra infalível, mas dá certo vezes demais para ser ignorada. E não é Reféns (Trespass, 2011) que vai mudar a história. Adicione ao caldo o tresloucado Nicolas Cage e a receita vai pro espaço. Resta à linda e competente Nicole Kidman enfeitar a cena e dar uns gritos ocasionais, tentando disfarçar seu tédio. E, para quem gosta, não faltam cenas histéricas de Cage, que perde as estribeiras em quase todo filme que faz.
Por um lado, Schumacher dirigiu a pérola oitentista Os Garotos Perdidos (The Lost Boys, 1987), o suspense Linha Mortal (Flatliners, 1990) e Um Dia de Fúria (Falling Down, 1993). Tigerland (2000) e Por Um Fio (Phone Booth, 2002) apresentaram Colin Farrell ao mundo, e há as bem sucedidas adaptações da obra de John Grisham O Cliente (The Client, 1994) e Tempo de Matar (A Time to Kill, 1996). Todos, longas que me trazem boas recordações. Em compensação, ele cometeu dois crimes contra o meu herói favorito (Batman Eternamente e Batman & Robin, de 1995 e 1997), o que já seria o suficiente para enterrar uma carreira. E não seria necessário procurar muito para encontrar mais fiascos.
Nicolas Cage (ao lado) é um caso à parte: ele parece não saber dizer não. Anda aparecendo mais que Michael Caine e Christopher Walken, tradicionais trabalhadores da linha de produção de Hollywood que têm contas a pagar. A diferença é que os dois frequentemente agradam, ao contrário do Cage de hoje. O ator tem famosos problemas financeiros, o que o tem levado a fazer coisas como Caça às Bruxas (The Season of the Witch, 2011), Fúria Sobre Rodas (Drive Angry, 2011), Vício Frenético (The Bad Lieutenant, 2009) e Perigo em Bangkok (Bangkok Dangerous, 2008). Está cada vez mais difícil encontrar o brilhantismo que o fez ganhar o Oscar por Despedida em Las Vegas (Leaving Las Vegas, 1995).
Cage trabalhou com Schumacher em 8 Milímetros (8 MM, 1999), enquanto Nicole Kidman esteve em Batman Eternamente. Nenhum dos dois filmes memoráveis, e mesmo assim resolveram tentar novamente, desta vez juntos. Como reforço para o elenco, temos a jovem Liana Liberato, revelada em Confiar (Trust, 2010), o australiano Ben Mendelsohn (de Reino Animal, 2010) e o dublê de galã Cam Gigandet (de Padre, 2011). Nenhum deles foi capaz de tornar as coisas mais divertidas, já que o roteiro do estreante Karl Gajdusek não acrescenta nada de novo ao subgênero “família é feita de refém e fica na mira da arma dos bandidos, que querem roubar algo que não encontram”. Se você já viu filmes como O Quarto do Pânico (Panic Room, 2002) ou Horas de Desespero (Desperate Hours, de 1955, ou a refilmagem de 1990), passe direto desse. Se não viu, faça a escolha certa.
Eu até falaria da trama, mas a frase entre aspas no parágrafo acima já a descreve em toda a sua riqueza. Ela só não faz justiça às ações e reações dos personagens, tão despropositadas que dão origem a diálogos patéticos como: “Faça isso” – “Não, senão você nos mata” – “Se você não fizer, eu mato vocês”. Cage parece mais psicótico que os bandidos e todos têm segredos que acabam vindo à tona, tudo dentro de uma fórmula previsível. Numa semana em que a “saga” Crepúsculo ocupa nada menos que 45 salas de cinema da cidade – uma média de quatro por shopping – e as opções ficam bem restritas, você pode acabar assistindo a Reféns. Melhor seria visitar a locadora.