por Marcelo Seabra
Os Estúdios Marvel conseguiram de novo. Não vem ao caso ficar comparando, mas Capitão América: O Primeiro Vingador (Captain America: The First Avenger, 2011) é um dos melhores filmes de super-heróis já feitos. Bem realizado, bem atuado e bem divertido. Além de toda a graça de uma boa história de aventura com o tom dos quadrinhos, há o componente de época, que aumenta o charme da produção. E ainda tem os melhores vilões imagináveis: os nazistas.
Assim como os demais filmes do estúdio, Capitão América tenta ter os pés no chão na medida do possível, e é tão bem sucedido quanto um, eu diria, Homem de Ferro (2008 e 2010). Para tudo que foge da nossa realidade, há uma explicação satisfatória. E, se você tem a mínima noção do que te espera, vai receber aquilo como possível e entrar na brincadeira. Tirando um chute aqui, outro ali, tudo faz sentido dentro da lógica daquele universo. O resultado fica a anos luz das demais tentativas de levar o Capitão à tela grande, como no tosco filme de 1990 (ao lado).
Steve Rogers (Chris Evans, o Tocha Humana do Quarteto Fantástico, 2005 e 2007) é um jovem idealista que julga a coisa certa a se fazer ir ao campo de batalha. O ano é 1943 e os Estados Unidos se envolveram na Segunda Guerra Mundial. Logo, é seu dever de cidadão. O problema é o seu físico, que não ajuda, e a sua predisposição a ter doenças, já que saúde não é o seu forte. Depois de ser recusado em diversos postos de recrutamento, ele acaba sendo aceito quando um cientista (Stanley Tucci, de Julie & Julia, de 2009) vê nele potencial para ser cobaia em um experimento militar.
A primeira meia hora do filme é fundamental para estabelecer o protagonista, manipulado digitalmente de forma competente. Mas, muito além dos efeitos especiais, é Chris Evans que merece cumprimentos. Conhecido por seus papéis de jovens impetuosos e piadistas, o ator vive Rogers na medida certa, compondo um herói íntegro, humilde e corajoso. O próprio Evans pediu para não ser substituído nessa primeira fase, o que seria a opção da produção. Assim, ele faz a transição do fracote asmático para o superatleta que trará a vitória para o país. E estamos lá, torcendo por ele.
O grande vilão do filme, Johann Schmidt, o Caveira Vermelha (Hugo Weaving, o agente Smith da trilogia Matrix), é um alemão ligeiramente maluco que já não dá satisfação ao Führer, agindo em interesse próprio. Ele é o chefe da Hydra, uma agência secreta que supostamente ajudaria a Alemanha a ganhar a guerra com ciência de ponta e, quem sabe, um pouco de magia. Completando o grande elenco, vêm Sebastian Stan, que faz o amigo Bucky Barnes, Hayley Atwell, a durona mocinha Peggy Carter, Tommy Lee Jones, no papel do Coronel Phillips, Toby Jones, que dá vida ao cientista nazista Arnim Zola, e Dominic Cooper, uma versão mais jovem do brilhante Howard Stark, pai de ninguém menos que o Homem de Ferro. E não poderia faltar a participação especial de Stan Lee, como um militar veterano.
À frente de uma equipe muito habilidosa, o diretor Joe Johnston mostra que está afiado em sua área. Com uma ótima adaptação de quadrinhos em seu currículo, Rocketeer, de 1991, ele também é responsável por outros bons longas, como o terceiro Jurassic Park (de 2001, o mais ágil deles) e o drama O Céu de Outubro (October Sky, 1999). Seu trabalho anterior, O Lobisomem (The Wolfman, 2010), foi uma pequena derrapada, mas é fato que seu controle criativo foi afetado por decisões erradas da Universal Pictures.
A patriotada que poderia se esperar (afinal, todo o conceito do Capitão remete aos Estados Unidos) está apropriada, perfeitamente dentro da trama, e o roteiro de Christopher Markus e Stephen McFeely (mesma dupla das Crônicas de Nárnia) não deixa de fazer uma bela homenagem ao personagem e a seus criadores, Jack Kirby e Joe Simon. O icônico uniforme clássico, por exemplo, está lá, mas acaba sendo tratado de forma mais funcional. E, ajudando a amarrar as pontas, o envolvimento de Joss Whedon na produção prepara o terreno para a mais esperada de todas as aventuras: Os Vingadores (The Avengers, 2012), que ele vai escrever e dirigir. Vale lembrar que, como sempre, há uma cena escondida no final da projeção e quem esperar para vê-la não vai se arrepender.
Curiosidades – por Rodrigo “Piolho” Monteiro
Para os fãs de longa data do Capitão América, há diversos pontos interessantes no filme, que, claro, passam despercebidos para o espectador “comum”, mas que tornam a experiência do longa bastante gratificante para esse público mais específico. Há uma série de referências aos quadrinhos, mencionaremos abaixo as principais:
1 – Na feira mundial em que somos apresentados ao sistema gravitacional Stark, há um vislumbre do que aparenta ser um homem ou manequim vestido de vermelho dentro de um tubo de vidro. Aquele é o andróide que se tornará o Tocha Humana original e faz parte de Os Invasores, grupo liderado pelo Capitão América que enfrentou as forças do eixo na Segunda Guerra.
2 – Quando da turnê nacional do Capitão pelos EUA, a capa do gibi estrelado por ele é uma cópia da capa de Captain America 1, publicada em 1941.
3 – O cientista Arnin Zola, braço direito do Caveira Vermelha, se tornaria, no futuro, um dos maiores inimigos do Capitão América. Já a Hidra é uma das principais organizações terroristas da Marvel e sua derrota é um dos maiores objetivos da SHIELD, agência de manutenção da lei que é o principal elo entre todos os filmes da Marvel até o momento.
4 – Finalmente, os soldados que Steve Rogers recruta para a missão de capturar Arnin Zola são a base do grupo Comando Selvagem, a divisão militar responsável por dar apoio aos Invasores na Europa. Dentre seus membros estão “Dum Dum” Dungan – o ruivo bigodudo perfeitamente caracterizado – e o soldado afro-americano Gabe Jones, que viria a integrar a SHIELD. Nos quadrinhos, o soldado seria Nick Fury, futuro manda-chuva da SHIELD que aparece no final do filme e que vai reunir Os Vingadores.
ADOREI!