“Boa tarde, Dr. Douglas Amorim. Tenho dificuldade em relacionamentos, tanto em iniciá-los quanto para finalizá-los. No início dos namoros sou distante e não costumo ter muita intimidade. Ao longo do tempo, a distância vai diminuindo, vou baixando a guarda e permitindo que meu par comece a participar timidamente da minha vida. No entanto, acredito que nunca tenha tido com nenhum namorado, a intimidade que tenho com meus amigos, em falar sobre meus problemas, dúvidas etc. Com isso, acabo deixando a outra pessoa um pouco perdida. Sei que sou boa namorada, porém, fechada e bastante independente. Com o tempo, eu acabo me sentindo sozinha e cobro a presença da outra pessoa (que nunca foi incentivada a participar da minha vida ativamente) e aí as coisas desandam para o término. Depois que isso acontece, eu sofro horrores, me fecho ainda mais, e transformo toda a dor da falta da outra pessoa em energia para manter qualquer pretendente afastado. Muitas vezes, acabo sendo grossa ou sincera em excesso. Tive dois relacionamentos sérios. O primeiro durou uns dez anos entre o namoro e o divórcio (após o divórcio fiquei mais de dez anos sem me relacionar com ninguém). Meu segundo relacionamento durou sete anos e terminamos há dois. Não tenho perspectivas de ter outro namorado porque, o medo da dor pós término, está me impedindo de viver. Tem um prazo mínimo para esquecer”?
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Resposta:
Querida leitora, parece que você fez um tipo de construção mental que, em Psicologia Cognitivo-Comportamental, denominamos crença. A coisa funciona mais ou menos assim: ao acreditar que todo homem trai, e você não suporta traições, automaticamente, estará se condenando a viver sozinha para sempre. Ou seja, é um conceito rígido sobre alguma coisa que, se não for desmontado, pode fazer com que uma pessoa seja infeliz para o resto da vida. Existem homens que traem? Sim, claro. Da mesma forma que muitas mulheres o fazem. Entretanto, existem homens e mulheres que não adotam este tipo de prática, percebe? Portanto, uma vez explicado isso, podemos desenvolver melhor a reflexão sobre o que mencionou neste e-mail.
Ao que tudo indica, você desenvolveu uma linha de raciocínio que se apresenta da seguinte forma: com meus amigos, é possível dividir minhas intimidades. Com meu namorado, não é possível ou, se divido, me exponho muito pouco ou quase nada. De onde vem essa crença? Pelo que entendi no seu relato, você não ficou traumatizada com algo que você compartilhou com algum namorado e ele fez mal uso disso, certo? Se isso tiver acontecido, o que você teria, seria uma espécie de trauma, permeado pelo medo situação se repetir. Mas, pelo visto, não aconteceu nada disso. E, mesmo que tivesse acontecido, todos os homens não são iguais, certo? Seria natural ter esse medo. Porém, se não houve uma situação traumática nesse sentido, o medo seria de que? E mais: esse medo estaria andando de mãos dadas com o sentimento de desconfiança ?
Penso até ser prudente escolhermos a dedo as pessoas com as quais queremos dividir nossas intimidades. E, para nos abrirmos para elas, tanto amigos, quanto namorados (as), é preciso um mínimo de tempo para que elas se mostrem dignas de nossa confiança. Entendo que agir assim é muito mais inteligente do que ir se abrindo impulsivamente para pessoas que mal conhecemos. Você parece fazer isso até direitinho, sabe. Não se abre logo de cara, vai esperando um tempinho para analisar a pessoa, só que, você para por aí! Não aprofunda! E olha que teve relacionamentos longos de sete e dez anos! O que mais falta para essas pessoas mostrarem que são dignas de sua confiança? A partir daí, veja bem o que você cria: sente-se sozinha e cobra presença da outra pessoa quando, você mesma, não incentiva ou até mesmo barra o aprofundamento da relação! O resultado, não poderia ser outro: o término. Claro que não tem como ser diferente pois, alguém que está há tantos anos com você, não consegue tolerar tamanha restrição. No seu relato está escrito que você é fechada e independente. Muito cuidado com isso. Uma coisa não tem nada a ver com a outra, necessariamente. Todos nós precisamos do outro (seja lá quem esse outro for), em alguma medida. Ser 100% autossuficiente é algo ilusório.
Dicas pra você: Honestamente, achei a sua pergunta, feita ao final da mensagem, um pouco equivocada. A indagação mais pertinente a ser feita não é se existe ou não, prazo mínimo para esquecer uma pessoa que terminou com você. A pergunta mais adequada é “o que fazer para tentar me abrir mais com um namorado e não repetir os comportamentos que levaram relacionamentos anteriores ao término”? Isso sim é o que deveria ser questionado por você, querida leitora. E é a essa pergunta que irei responder. É preciso que se tente entender os motivos que te levam a adotar as crenças que mencionei no início deste texto. Medo? Desconfiança? Vergonha? O que mais? A partir deste entendimento, dividir sua dificuldade com a pessoa amada e pedir para que ela lhe ajude nisso. Não é vergonha nenhuma fazer esse tipo de coisa. A união faz a força e, quando você perceber que seu namorado é um aliado (que pode ser tornar aliado pra vida, caso venha a se casar) e não inimigo, aí você estará começando a colocar seu parceiro em um outro patamar. Está na hora de parar de repetir esses erros. Isso sim, é o mais importante. Que tal começar?
Um abraço do
Douglas Amorim
Psicólogo clínico, pós-graduado em Psicologia Médica, mestre em Educação, Cultura e Sociedade
Consultório: (31)3234-3244
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