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Minha namorada é temperamental. Devo continuar com ela?

“Prezado Dr. Douglas Amorim, estou te escrevendo da França, onde vivo. Olho o Estado de Minas, de vez em quando, e hoje me deparei com seu artigo e orientação a uma jovem, perturbada por sentimentos atravessados. Resolvi  enviar meu relato, pois, estou namorando uma francesa de 45 anos e que me parece ser bipolar. Ela é complexada e acha que não tem nenhum valor na sociedade, simplesmente, por ser pobre. É super angustiada e, quando fica muito nervosa, seu corpo fica cheio de manchas vermelhas. Ela é muito negativa e fala mal de tudo e todos. Eu a conheço há 06 meses, mas sinceramente, ela me preocupa. Acabo ficando angustiado, sobretudo, por não poder ajudá-la mais do que já faço, com todo meu bom humor, carinho e atenção. Paradoxalmente, ela é bastante inteligente, mas, diz que não quer trabalhar como assalariada, porque não tem diploma universitário e se julga incompetente pra tudo. Pensa que todo mundo a observa com olhos críticos, seja na praia, nas lojas, nas ruas, ou em casa. Não passa 07 dias sem criar um caso com suas crises de nervos. Gosta de receber, mas não é recíproca nos gestos e expressões de ternura, nem nos gastos diários. Entretanto, quando está bem, sorri bastante, tem ideias lúcidas e lógicas e fica eufórica. Só que, de repente, sem nenhuma razão aparente, ela pira e aí vai tudo pra cucuia. Aprecio a amizade dela (mesmo intimamente) mas começo a pensar que ela é frágil e pueril. Tenho vontade de não vê-la mais. Só que me culpo. Penso que devo cuidar de mim, sobretudo, após meu divórcio recente, depois de ter ficado casado muitos anos e ter tido 02 filhas. Na verdade, sinto que não é possível um relacionamento sério com ela. Esteja livre para comentar meu caso. Obrigado”.

 

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Resposta:

Querido leitor, muito obrigado por acompanhar meu blog. Eis que, nesses pouco mais de dois meses e meio de existência, chega o nosso primeiro e-mail internacional! Muito obrigado pela confiança em querer dividir sua história comigo e com os demais leitores. Pois bem. Todos os que me acompanham aqui na internet, ou no meu consultório, sabem que eu não me predisponho a fazer diagnósticos à distância. Primeiro porque isso seria anti-ético da minha parte e, segundo, porque é tecnicamente equivocado fazê-lo. Por mais que os relatos enviados, por vezes, apontem na direção de uma psicopatologia, eu somente atesto isso, caso venha a atender a pessoa. O seu relato, realmente, faz com que pensemos na possibilidade de um Transtorno Bipolar, sobretudo, pelo que descreveu mais ao final do e-mail: lucidez, energia, entusiasmo, euforia e, sem mais nem menos, a volta pra um estado pessimista, negativo, quiçá deprimido.

Porém, não vou ficar restrito aqui à possibilidade de um diagnóstico, pois isso significaria uma análise simplista da mensagem que enviou. Ao que tudo indica, a autoestima dela é muito baixa, uma vez que sua auto-percepção é extremamente negativa. Não querer trabalhar como assalariada porque não tem diploma universitário é algo que beira o absurdo. Mesmo na Europa, quem disse que, para trabalhar formalmente, é imprescindível diploma? Isso sem falar no quanto ela se julga incompetente. O fato dela achar que todas as pessoas ficam observando-a em qualquer lugar e tecendo críticas, nada mais é do que uma projeção que ela faz em toda a sociedade. Ou seja, em seu imaginário, o olhar negativo que tem de si mesma, é o mesmo que as pessoas terão sobre ela. Logo, ela fica ansiosa, desconfortável psicologicamente e, as manchas vermelhas, provavelmente são um sintoma deste mal-estar.

Além de tudo isso, parece que ela não faz muita força pra ser uma pessoa agradável, não é mesmo?  É brigona, cria casos constantemente e não demonstra carinho. Dessa forma, realmente fica difícil ser bem quista… Isso, sem falar no lado financeiro. Pelo que você disse, também falta reciprocidade por parte dela neste aspecto. Infelizmente, pessoas que agem desta forma, acabam angariando a antipatia dos outros ficando sozinhas. Promovem diariamente uma espécie de autossabotagem e parecem agir de forma inconsciente para que suas coisas, de alguma forma, acabem dando errado. Sem ajuda especializada, correm o risco de ficarem aprisionadas neste sistema neurótico que se retroalimenta. É como se depois de tudo dar errado, falassem assim pra si mesmas: “tá vendo, ninguém gosta de mim! Realmente eu tenho razão”. E assim, perpetua-se o ciclo psicológico auto-depreciativo.

Dicas pra você: diante de tudo o que falou, percebe-se que ela é uma mulher que tem várias dificuldades emocionais. Dificuldades essas simbolizadas por uma percepção negativa de si mesma, aliada a um comportamento frio e temperamental, na maior parte das vezes. Pra algumas pessoas, isso não seria problema. Pra você é. Tanto, que resolveu enviar este e-mail, questionando a continuidade da relação, chegando a mencionar que, aos seus olhos, ela é frágil e pueril. Diante de tudo isso, penso que dar continuidade a esse relacionamento, significa estar disposto a enfrentar muita coisa difícil. Ao término de sua mensagem, você salienta que é chegado o momento de cuidar de si mesmo, sobretudo após seu divórcio recente. Cuidar bem de si significa o quê? Essa é a pergunta que você precisa responder. Se tem constantemente vontade de não vê-la mais, será que, continuar com alguém que te faz infeliz é um jeito coerente de cuidar de si mesmo? Por mais que gostemos de algumas pessoas, dependendo do seu modo de se comportar, a convivência fica inviável. Pense nisso, procure fazer da sua vida o melhor possível e boa sorte aí na França!

Um abraço do

Douglas Amorim

Psicólogo clínico, pós-graduado em Psicologia Médica, mestre em Educação, Cultura e Sociedade

Consultório: (31)3234-3244

www.douglasamorim.com.br

Instagram:@douglasamorimpsicologo

Canal no youtube: https://www.youtube.com/user/douglasdanielamorim

 

 

Douglas Amorim

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  • Também tenho acompanhado o blog e estou adorando.
    Passei recentemente por um longo relacionamento idêntico ao descrito, sofri demais, também acreditava que ela era bipolar, mas ao final concluí que ela sofria de Transtorno de Personalidade Borderline.
    Pesquise, avalie esta possibilidade e, se for o caso, saia fora o mais rápido que puder. Não tem cura e faz sofrer as pessoas de sua maior intimidade.

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