“Olá, Dr. Douglas Amorim. Sempre tive problemas em comunicar minhas reais necessidades, por inúmeros motivos: medo, sinceridade, stress, medo de magoar, autoritarismo, ignorância e, principalmente, por causa de muitos dos meus princípios. Basicamente, acho que temos que fazer o bem pra todo mundo, principalmente para minha mãe, que não tem ninguém aqui em BH. Minhas dificuldades atuais, apresentam o seguinte contexto: tenho dois irmãos, que já têm suas famílias e que moram longe daqui. Estamos enfrentando problemas de saúde da minha mãe. Ela ouve tudo que o filho do meio fala, por causa do jeito mais amoroso dele. Eu sou mais prática e não fico fazendo rodeios para falar que ela está errada em 90% das vezes. É preciso destacar que nosso relacionamento sempre foi bastante problemático. Ela está sofrendo problemas neurológicos e todos disseram que vão colaborar. Entretanto, estou sobrecarregada e, até o momento só eu tenho movido, recursos e tempo para a situação não se agravar. Isto está atrapalhando meu casamento, meu trabalho e, sobretudo, minha saúde. Não consigo me desligar do assunto nem por um minuto sequer. Preciso chamar meus irmãos na responsabilidade, mas, não sei como falar. Tenho receio de acabar os afastando ainda mais e piorar a situação. Ajude-me a melhorar? Dê-me uma ideia, por favor. Fico aguardando ansiosamente sua resposta. Obrigada”.
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Resposta:
Querida leitora, indiscutivelmente, você tem um princípio muito nobre. Querer fazer o bem para todo mundo, conforme você mesma disse, é um ideal mais do que louvável. Entretanto, a pergunta que se interpõe é: Será que isso é mesmo possível? Não estou dizendo que devemos fazer o mal para as pessoas; absolutamente, não se trata disso. No entanto, o que fico me perguntando é, até que ponto, fazer o bem para todos, durante todo o tempo, é possível para nós, seres humanos. Isso me parece algo que transita pela esfera da perfeição e, na minha humilde opinião, isso só é possível de ser realizado por Deus. Somos imperfeitos e, seguramente, em algum momento da vida, não iremos fazer bem para alguém, mesmo que isso nem seja de forma intencional. Portanto, minha primeira observação, é a de a maneira como deseja ser, é algo inatingível.
Partindo agora para outra parte da análise da sua pergunta, convido-a a pensar na divergência de desejos e necessidades que fazem parte da nossa existência. Muitas vezes, os desejos de duas ou mais pessoas são convergentes. Outras vezes, não. Vou dar um exemplo simples. Se eu quero namorar uma pessoa, porque estou apaixonado por ela, existem duas possibilidades. A primeira é a dela querer a mesma coisa. Nesta direção, os dois desejos coincidem e, a consequência, será a de nós dois ficarmos felizes. Agora, suponhamos que essa mulher não queira nada comigo e me dê um fora. Neste caso, não necessariamente ela está fazendo mal pra mim. O que aconteceu, foi simplesmente, uma diferença de vontades. Claro que irei ficar desapontado, frustrado e triste, porque a amo. Ela tem todo direito de não querer se relacionar comigo e isso, não necessariamente, faz dela uma pessoa má. Percebe que não estamos discutindo aqui a questão de se fazer ou não o bem para o outro, mas, simplesmente, demonstrando que, diante de discordâncias e divergências, alguém não terá as expectativas atendidas e a consequência será o sofrimento, em alguma medida?
Esse é um dos dramas da humanidade e não acredito que possamos nos livrar dele. Você disse que seu relacionamento com sua mãe sempre foi muito problemático e que a considera errada na maioria esmagadora das vezes. Disse também que, por ser mais prática, vocês entram em rota de colisão, algo que parece não acontecer com o irmão que é mais amoroso com ela. Não vou me aprofundar nisso porque não é o cerne da sua pergunta. O fato concreto é que sua mãe vem passando por problemas de saúde, que demandam muitos cuidados, e que você está se sentindo sobrecarregada. Seus irmão ficaram de ajudar, mas, ao que tudo indica, ficaram somente no discurso. Você disse duas palavras que estão trazendo um peso maior do que aguenta carregar: tempo e recurso. Sobrecarregando-se financeiramente e dispondo a maior parte do seu tempo para sua mãe, seu casamento, trabalho e saúde estão ficando minados. É preciso que tenha muita atenção ao que disse porque, o que está ruim, sempre pode piorar.
Dicas pra você: querida leitora, já vi histórias como a sua que resultaram em separação e/ou demissão e adoecimento. Portanto, por mais que você queira o bem pra todo mundo, chegou a hora de falarmos sobre justiça. São três filhos e é chegada a hora de cada um arcar com uma parcela de tempo e recursos. Penso que não haja escolha. Ou você coloca a coisa em pratos limpos, ou corre o risco de passar pelo que descrevi no início deste parágrafo. Você acha justo que isso aconteça? Aos meus olhos, não acho. Não vale a desculpa de que fulano ou beltrano more longe. É chegado o momento de uma reunião familiar – o quanto antes, melhor – para se definir quem vai contribuir e de que forma. Se a presença física de um deles não é possível, a presença financeira terá de acontecer, seja pra pagar uma enfermeira, acompanhante ou, dependendo do estado em que ela estiver, até mesmo uma clínica de repouso. O que não dá é se esconder atrás da desculpa de morar em outra cidade. Tudo ficou nas suas costas, também pelo fato de apenas você, morar aqui em BH. Não há forma certa ou errada de se conversar sobre isso. O que existe é a forma real. Ou seja, “eu estou ficando sobrecarregada com a situação da nossa mãe e isso não é justo. Vocês também terão de fazer a sua parte”. Simples assim. Pense nisso e aja o quanto antes para que sua vida não seja ainda mais prejudicada. Boa sorte!
Um abraço do
Douglas Amorim
Psicólogo clínico, pós-graduado em Psicologia Médica, mestre em Educação, Cultura e Sociedade
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