Robbie Williams conta sua história peluda e crua

Em meio a tantas cinebiografias saindo todos os meses, os responsáveis precisam pensar em algo que a faça se destacar. No caso de Um Completo Desconhecido (A Complete Unknown, 2024), a saída foi focar num período curto da vida de Bob Dylan para poder se aprofundar mais que o usual. Já em Rocketman (2019), a viagem foi sem amarras, criando passagens criativas e fora da realidade para ilustrar o estado de espírito de Elton John. Para Better Man: A História de Robbie Williams (2024), o próprio cantor retratado teve uma ideia aparentemente muito descolada: ser mostrado como um macaco!

A metáfora pode ter vários significados, e Williams contou alguns deles em entrevistas no lançamento da obra: ele se vê como alguém sempre em formação, pronto a evoluir; era tratado pela mídia como um bicho curioso; se via em um circo, como uma atração; e por aí vai. O filme não escolhe uma definição, deixando essa responsabilidade para o público. A verdade é que o macaco chama muita atenção para si, passando a funcionar como distração. O que não era necessário, já que o longa conta uma história de fato interessante. A história de Robbie Williams.

Ele já foi visto como bad boy, rebelde, e muitos sabem que ele saiu da boy band que o lançou, Take That. O que está por trás dessa imagem e dessa saída é o que o filme se propõe a contar, começando na infância do cantor e escancarando todas as inseguranças dele. Se a avó era uma boa alma que o encorajava, o mesmo não pode ser dito do pai. E do empresário da banda. E até do colega de banda, que ganha destaque, já que Gary Barlow tinha mais voz ativa e se sobressai aos outros. E a imagem passada desses três é surpreendentemente crua e negativa, fica a impressão de que processos vêm aí.

Pela forma sincera como retrata Williams e principalmente os três mencionados acima, que podem até ser chamados de vilões do filme, pode-se dizer que o roteiro é corajoso. O diretor e roteirista Michael Gracey tem experiência com personagens falhos, inclusive fazendo musicais com eles – exatamente como ele fez em O Rei do Show (The Greatest Showman, 2017), mas de forma menos exuberante. Better Man é recheado de músicas, de autoria de Williams ou que ele tenha gravado, sem dar importância a Barlow e aos demais colegas de Take That. As músicas foram regravadas para o filme, reforçando o sentimento da cena em questão.

A insistência na relação com o pai, ainda que honesta, pode cansar, mas de forma geral a sessão de Better Man é bem satisfatória. Jonno Davies (de Hunters) interpreta Williams, além do próprio Williams, que narra a história, mas o ator é substituído pelo tal macaco, com movimentos bem realistas. Não à toa o filme foi indicado ao Oscar de Efeitos Visuais. Ficou de fora de Melhor Canção porque a única original, Forbidden Road, não era tão original assim. Mesmo não sendo fã do cantor e sem conhecer as músicas, dá para aproveitar a jornada com ele.

O cantor promoveu o lançamento do longa com menos pelos

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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