M. Night Shyamalan: sua Armadilha e sua carreira

Tendo estreado recentemente, Armadilha (Trap, 2024) volta a chamar atenção para seu diretor, M. Night Shyamalan. Chamado pela revista Rolling Stone de “o cara que cria os filmes assustadores com uma virada”, Manoj Nelliyattu “M. Night” Shyamalan fez sua fama com o surpreendente O Sexto Sentido (The Sixth Sense, 1999), que de fato tem uma virada marcante em sua história. E assim acontece com alguns de seus outros trabalhos, mas não é o caso de Armadilha, produção mais convencional que depende de criar suspense para segurar o espectador. E faz isso muito bem!

Já não é de hoje que Shyamalan mostra ser um diretor afiado, sabendo exatamente como construir seus filmes e uma atmosfera de tensão. E é por isso que volta e meia ele consegue mascarar a fragilidade de seus roteiros, que insiste em escrever.

Armadilha, felizmente, é um ponto positivo numa carreira de altos e baixos, tão promissora no início. Estrelado por Josh Hartnett (de Esquema de Risco: Operação Fortune, 2023) e a jovem Ariel Donoghue, o longa acompanha um pai que leva a filha adolescente para realizar um sonho: ver de perto sua ídola, a cantora Lady Raven (Saleka Shyamalan, filha do diretor). Cooper, no entanto, começa a reparar no policiamento reforçado do show e acaba ouvindo de um membro da equipe que se trata de uma armadilha para pegarem “O Açougueiro”, um serial killer que anda aterrorizando a cidade.

Hartnett compõe um personagem muito interessante e se torna fascinante reparar em suas expressões e reações. Donoghue vive uma adolescente realista, como muitas “swifties” (fãs da cantora Taylor Swift) são, e os demais personagens agem de forma crível. Saleka é convincente como cantora, o que de fato é, mas nem tanto como atriz. Algumas situações que parecem furos de roteiro acabam sendo mencionadas à frente, e logo são esclarecidas.

Shyamalan dirigiu seu primeiro longa no ano em que se formou na faculdade de artes da Universidade de Nova York, 1992. Praying With Anger não é muito fácil de ser encontrado – ao menos em boa qualidade – e é comumente descrito internet afora como chato e amador. Os filmes que se seguiram são enumerados abaixo, devidamente comentados, e com links para as críticas completas (aqueles que têm – os mais recentes).

2- Olhos Abertos (Wide Awake, 1998)

Um garotinho de dez anos perde o avô e empreende uma busca por Deus para saber se o avô ficou bem. Algumas questões existenciais são levantadas, deixando clara a preocupação do diretor com o divino, e já revelando a simpatia dele por personagens muito jovens. O garotinho Joseph Cross é bem expressivo e torna a jornada agradável, com um final bonitinho e previsível. Nada apontava que Shyamalan ficaria famoso no gênero suspense.

3- O Sexto Sentido (The Sixth Sense, 1999)

Ainda imbatível na carreira do diretor, o longa surpreendeu muita gente e definiu a fama de Shyamalan, associando-o para sempre às viradas de roteiro (ou plot twists). Um garotinho (Halley Joel Osment) tem problemas de comportamento na escola e, ao se consultar com um psicólogo, revela a verdade estarrecedora: ele vê gente morta! Um dos maiores papéis de Bruce Willis, num elenco que ainda conta com a ótima Toni Collete.

4- Corpo Fechado (Unbreakable, 2000)

Tudo indica se tratar de uma adaptação de história em quadrinhos, e uma das melhores. Mas é um roteiro original de Shyamalan, que se uniu novamente a Bruce Willis e convocou Samuel L. Jackson. Willis vive um segurança que percebe que há algo diferente com ele: nenhuma doença ou trauma o abalam, fazendo dele um sujeito indestrutível. Longa imperdível que disputa com Sexto Sentido o topo da carreira do diretor.

5- Sinais (Signs, 2002)

Shyamalan volta ao tema ligado ao divino, trazendo um pastor (Mel Gibson) que perdeu a esposa e parece ter perdido a fé. Uma invasão alienígena é o que precisa pra ajudá-lo a retomar seu caminho. A metáfora pode parecer um pouco extrema, mas funciona bem e o resultado é bem satisfatório.

6- A Vila (The Village, 2004)

Um grupo de pessoas vive em uma vila cercada por uma floresta no início do século. Eles temem as criaturas que vivem na floresta, mas estão seguros contanto que não ultrapassem os limites da vila. Quando um morador mentalmente instável esfaqueia outro, é necessário que alguém vá até a cidade mais próxima em busca de remédios, se arriscando frente às criaturas. Um elenco bem recheado, que conta com Bryce Dallas Howard, Joaquin Phoenix, Adrien Brody, William Hurt, Sigourney Weaver e Brendan Gleeson, ajuda o diretor a criar um suspense que se segura bem até o final. Até aqui, Shyamalan mantinha a boa forma.

No próximo post, os 10 filmes seguintes do diretor.

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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