Em 13 de outubro de 1972, um avião da Força Aérea Uruguaia bateu em uma montanha da cordilheira dos Andes e caiu. Ele levava uma equipe amadora de rugby para uma competição no Chile e tinha 40 passageiros, entres os jogadores, amigos e familiares deles, além de cinco tripulantes. Dos 45 envolvidos, 29 sobreviveram à queda, mas o que viria a seguir não seria nada fácil. Essa é a história contada em Sociedade da Neve (La Sociedad de la Nieve, 2023), longa que garantiu à Espanha uma indicação ao Oscar de Melhor Filme Internacional, além de ser lembrado também na categoria de Maquiagem e Cabelo.
Na cadeira de direção, o experiente J.A. Bayona já contou a história de outra tragédia: em O Impossível (The Impossible, 2012), acompanhamos Ewan McGregor e o filho mais velho (Tom Holland, o Homem-Aranha) tentando encontrar a esposa (Naomi Watts) e o caçula após o tsunami de 2004 na Tailândia. Juntando esse drama humano com os efeitos especiais de um Jurassic World: Reino Ameaçado (2018), Bayona tinha a bagagem necessária para contar o chamado “milagre nos Andes”.
Ao conseguirem fazer o rádio do avião funcionar, os rapazes escutam que as buscas por eles foram suspensas devido às terríveis condições climáticas no local. Ninguém acreditava que haveria algum sobrevivente. Por isso, quem ficou teve que se virar. E é impressionante a capacidade que eles demonstram de lutar pela vida, inventando formas de aproveitar o que tinham à mão. A informação que provavelmente ganhou mais ênfase com o passar dos anos foi a forma como eles conseguiram sobreviver: canibalismo. Na época, esse elemento foi mantido em segredo: muitos deles eram católicos e tinham medo de serem atacados pela Igreja – isso o filme apenas sugere.
O livro que serve de base ao roteiro de Bayona e seus três colaboradores foi escrito por Pablo Vierci, amigo dos sobreviventes, e lançado em 2008. A riqueza de detalhes na história de Vierci serviu como guia para o design de produção da obra, que conseguiu recriar os restos do avião, o que era essencial para entendermos os fatos. Em 1993, foi feita a versão hollywoodiana da história, Vivos (Alive), mas baseada em outro livro, cuja riqueza de detalhes não chega aos pés do livro de Vierci. Dessa vez, com atores menos conhecidos e prioritariamente uruguaios e argentinos. Muito competentes, de forma geral.
O maior mérito de Bayona em Sociedade da Neve talvez seja conseguir levar o público para perto dos personagens, nos fazendo ter uma ideia da tensão sentida por eles. Sem a necessidade de ser muito gráfico com o que há de pior, o diretor consegue comover sem ser piegas. E ainda há surpresa para quem acha que já conhece aquela história. A forma de contá-la faz toda a diferença. Ganhando ou não o Oscar, o filme é indispensável.
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