Em busca de seu segundo Oscar, Emma Stone chega aos cinemas na próxima semana em Pobres Criaturas (Poor Things, 2023), nova colaboração da atriz com Yorgos Lanthimos. Quem conhece o diretor sabe bem o que esperar: uma trama surreal que se passa em um mundo parecido com o nosso, mas que toma várias liberdades e traz personagens inusitados. Tudo isso permeado por críticas que vão do patriarcado ao sistema capitalista, aproveitando no meio do caminho para avacalhar com as regras de convivência em sociedade.
Adaptando um livro de Alasdair Gray, Lanthimos repete duas colaborações de A Favorita (The Favorite, 2018): além de Stone, volta também o roteirista Tony McNamara. E, assim como em O Lagosta (The Lobster, 2015), o diretor não tem nenhum compromisso com a realidade, mostrando feitos da medicina que deixariam Victor Frankenstein e o Dr. Moreau com inveja. O médico louco da vez é quase Deus: não à toa, o nome dele é Godwin Baxter, chamado pelo apelido de God (Deus). Willem Dafoe (de Asteroid City, 2023), como todos no elenco, parece estar se divertindo no papel, e é ele quem cria Bella Baxter (Stone).
Quem é Bella é algo que só descobrimos com a sessão correndo. Entendemos de cara, no entanto, que ela é alguém que está descobrindo o mundo, mas à moda dela. Parece ser inocente, mas ninguém a passa para trás. Ela é o próprio símbolo do empoderamento feminino, não obedecendo nenhuma convenção social ou comportamento hipócrita. Bella faz o que quer e conquista a todos sendo ela mesma. Alguns se chocam, outros acham tudo maravilhoso. Assim como será a reação do público ao final dessa sessão. Ou durante.
Os outros dois nomes principais do elenco são os de Mark Ruffalo (o Hulk da Marvel) e de Ramy Youssef (de Mr. Robot). Enquanto Youssef faz um estudante de medicina certinho que nutre grande admiração por seu professor “Deus”, Ruffalo é um advogado que não faz muito sentido. Começa muito sério, a trabalho, mas logo se mostra um tresloucado disposto a sair pelo mundo. Sua interpretação, indicada ao Oscar, é acertadíssima, só o personagem se mostra um tanto inadequado àquele universo.
Tecnicamente, Pobres Criaturas se mostra perfeito. Não à toa, teve 11 indicações ao Oscar, muitas delas em categorias técnicas. Os figurinos, a maquiagem e todo o design de produção são impecáveis, acentuados por uma fotografia brilhante e pontuados por uma trilha adequada. A montagem, também indicada, poderia ter sido mais assertiva, encurtando algumas passagens, já que o resultado é um pouco cansativo. Alguns filmes ressoam mais em umas pessoas que em outras, por razões que dependem de experiências pessoais.
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