David Fincher apresenta seu Assassino na Netflix

Um nome como o de David Fincher é sempre cercado de muita expectativa. A reunião do diretor com Andrew Kevin Walker, o roteirista de um de seus maiores sucessos, Seven (1995), gerou ainda mais barulho e todos estavam de olho na Netflix para o lançamento. A verdade é que O Assassino (The Killer, 2023) desapontou muita gente. Está longe de ser ruim, como alguma bobagem estrelada por Liam Neeson, mas esperava-se que fosse mais do que apenas bom.

No papel título, temos o sempre competente Michael Fassbender (o Magneto na versão mais jovem dos X-Men), mais silencioso do que nunca. Ele vive um assassino de elite, de tocaia, esperando pela chegada da vítima, que ele não conhece. Quando o tal sujeito chega, algo dá errado e começa o problema. O roteiro de Walker é baseado numa série de quadrinhos franceses escritos por Alexis “Matz” Nolent e ilustrados por Luc Jacamon. Não há nenhum furo incontestável, mas há situações que podem ser discutidas e parecem improváveis. Ficamos esperando um arroubo de genialidade, como vimos em Seven, Clube da Luta (Fight Club, 1999) ou Garota Exemplar (Gone Girl, 2014), por exemplo, e ele não chega.

Conhecemos do protagonista apenas o essencial, como sua preferência peculiar pelas músicas dos Smiths. Ele não chega a ser raso, mas também não é nenhum primor de desenvolvimento. Todas as figuras que cruzam o caminho dele passam pela mesma situação: nem nome têm. São apenas tipos, peças de um mecanismo que parece rodar sozinho, ninguém tem culpa de nada ou é o responsável. As interações de Fassbender com seus colegas são em sua maioria interessantes, ficando o destaque por conta da “expert” de Tilda Swinton (de Asteroid City, 2023). Para nós, brasileiros, uma participação curiosa é a de Sophie Charlotte (de Meu Nome É Gal, 2023), que não tem como fazer muito com alguns segundos em cena.

Além das canções não originais da banda de Morrissey, a trilha ficou a cargo da dupla vencedora de dois Oscars Trent Reznor e Atticus Ross, colaboradores frequentes de Fincher. Desde A Rede Social (The Social Network, 2010), essa é a quinta parceria. Dessa vez, no entanto, não ouvimos nada memorável, é tudo muito discreto. Ainda assim, a dupla recebeu uma menção especial no Festival de Veneza. Como os diálogos são escassos, a fotografia precisaria ser especialmente bem sucedida, mostrando o que precisamos saber. O oscarizado diretor de fotografia Erik Messerschmidt (de Mank, 2020) cumpre bem sua função, aproveitando tanto os cenários internos quanto os externos, situando o espectador.

Algo que pode e deve ser debatido sobre O Assassino é o humor sutil que permeia a trama. O protagonista passa uma aura de infalível, de sempre prever tudo e não deixar escapar nenhuma ponta – como deixam claro os chavões que ele fica repetindo mentalmente. No entanto, sempre que ele é bem sucedido, o acaso interveio, monstrando que ele não é tão fodão assim. Talvez ele não fosse o antagonista ideal para James Bond, mas para Maxwell Smart, o Agente 86. Uma nova sessão do longa pode vir a revelar novos detalhes. Afinal, estamos falando de David Fincher.

Sophie Charlotte despe-se de sua beleza para aparecer em O Assassino

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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