À primeira vista, zapeando pelo Prime Video, Sede Assassina (Misanthrope ou To Catch a Killer, 2023) pode parecer mais um policial dentre vários que são despejados nos serviços de streaming. Ainda mais com esse título nacional genérico e pouco convidativo. O elenco, no entanto, pode chamar a atenção, com Shailene Woodley e Ben Mendelsohn à frente. Para quem conhece uma das maiores surpresas do cinema em 2014, Relatos Selvagens (Relatos Salvajes), o maior chamariz deve ser o diretor e roteirista argentino Damián Szifron.
Sumido dos longas desde 2014, Szifron volta fazendo jus à fama alcançada. Sede Assassina é um filme inteligente que mexe com alguns clichês do gênero e tem reviravoltas interessantes e condizentes, além de tocar em assuntos indigestos, como a falta de apoio a pessoas com deficiências mentais e a preferência dos agentes de segurança por atender à opinião do público antes de defendê-lo. Se uma crítica pode ser feita ao roteiro de Szifron e Jonathan Wakeham é exatamente sobre a quantidade de temas que ele abarca, sem necessariamente desenvolvê-los.
Mais para Will Graham que para Clarice Starling, a policial vivida por Woodley (de Big Little Lies) bem poderia estar atrás do Dr. Hannibal Lecter. Sabemos pouco dela, mas é o suficiente para o que o filme propõe, e o mesmo acontece com o Agente Lammark de Mendelsohn (de Invasão Secreta) – que tem aqui mais uma interpretação marcante em sua carreira. Assim como em O Colecionador de Ossos (The Bone Collector, 1999), temos um veterano recrutando uma não tão novata habilidosa e observadora para caçarem um assassino. O sujeito faz miséria com um rifle de longa distância e não deixa pistas, dificultando a vida dos investigadores. Contar mais sobre a trama seria um pecado. Duas outras participações que merecem destaque são dos corretos Jovan Adepo (de Babilônia, 2022) e Ralph Ineson (de O Homem do Norte, 2022).
Além de uma montagem ágil e enxuta, chama a atenção a eficiente fotografia de Javier Julia (também de Relatos), que aproveita bem os espaços urbanos e suas luzes e multidões assim como os cenários mais isolados ou internos, situando bem a ação e criando cenas belíssimas. A direção segura de Szifron garante que as peças se encaixem e o resultado é bem satisfatório, bem acima do que é oferecido por aí. Já dá pra ficar na torcida para que o diretor volte ao batente em breve.
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