Passando por pontos muito conhecidos da geografia da capital mineira, como a Rua Sapucaí e a Praça da Estação, a fotografia de Lauro Escorel acaba ficando mais em ambientes internos, como o apartamento do protagonista ou o consultório do médico onde ele vai se tratar. Isso acentua a sensação do público de confusão e de claustrofobia, não muito diferente do que o próprio personagem está sentindo.
Manfredo (vivido pelo ótimo Eduardo Moreira) está em um estado de entorpecimento frente à vida: não sente vontade de encontrar a amante, de sair de casa, muito menos de trabalhar. Por isso, procura um analista, o Dr. Pink (Renato Parara), mas logo se arrepende da decisão e pede ao médico e à secretária que parem de procurá-lo. Com muita insistência, os dois seguem marcando consultas para Manfredo, afirmando que o tratamento não pode parar. Segundo o terapeuta, o sujeito teria um lodo dentro de si que precisava ser retirado aos poucos.
O roteiro, assinado por Ratton e outro nome famoso do nosso Cinema, L. G. Bayão (de O Segredo dos Diamantes, 2014, também de Ratton), estende o conto de Rubião, criando mais situações e personagens, mas sem perder o clima do absurdo kafkiano que o autor mineiro emulou. Propondo algumas perguntas não tão fáceis, a dupla de roteiristas deixa as respostas para o público, se preocupando mais em criar incômodos que em dar soluções. Fica claro que o filme pretende criar discussões e reflexões acerca de saúde mental, da responsabilidade sobre as ações de cada um e sobre o passado, do qual não se pode fugir.
Psicólogo por formação, Ratton está interessado na mente humana. No curta de estreia do cineasta, Em Nome da Razão (1979), ele aborda o assunto pelo prisma da saúde pública. Agora, está mais interessado na psicologia do indivíduo, como disse à Folha de São Paulo. Para o elenco, convidou atores que já trabalham juntos há anos, muitos deles do tradicional Grupo Galpão, como Moreira, Inês Peixoto e Teuda Bara. Essa cumplicidade de muito tempo pode ser vista na tela, traz naturalidade às relações dos personagens. Não há ninguém fora do tom, todos abraçando a estranheza da situação.
Depois de quase três anos de espera, a Quimera Filmes consegue lançar O Lodo lutando contra as dificuldades impostas por um governo que tentou a todo custo acabar com a cultura do país. O projeto seguinte de Ratton, ao lado da colega produtora Simone Magalhães Matos, seria um curta misturando live action e animação, Não Abuse, e a verba da Lei Estadual de Incentivo à Cultura já estava liberada. A Secretaria Estadual de Cultura, seguindo os passos do então governo federal, se mostrou tão limítrofe que os muitos percalços enfrentados fizeram os produtores devolverem a verba e desistir do projeto. Ter O Lodo em cartaz é uma grande vitória do Cinema nacional.
Ratton levou sua equipe e elenco para o lançamento do longa em BH
Série ficcional mistura personagens reais e cria situações para mostrar um novato crescendo no mundo…
Surpreendentemente, os roteiristas conseguiram criar uma história interessante para dar vida novamente aos cativantes personagens…
As relações políticas em uma cidadezinha do interior são analisadas pelo diretor, que as leva…
Desnecessariamente recontando a história do livro clássico, del Toro faz como Victor: uma nova obra…
Série nacional recria a década de 80, quando a AIDS chegou ao Brasil fazendo milhares…
Sempre lembrado por Los Angeles: Cidade Proibida, James Ellroy teve outras obras adaptadas. Conheça aqui…