O ano era 1984 e as grandes marcas de tênis disputavam o mercado do basquete, patrocinando os maiores nomes em busca de venderem mais. Com a Adidas e a Converse no topo, a Nike abocanhava meros 17% do filão. O departamento de marketing batia cabeças tentando alavancar as vendas e um olheiro frequentava campeonatos juvenis para conhecer os futuros astros do esporte. Só que a resposta estava na cara deles: o jovem Michael Jordan, que se tornaria um dos maiores nomes entre esportistas do mundo todo.
Com essa premissa, Air – A História Por Trás do Logo (2023) chega aos cinemas essa semana como uma boa surpresa. É estranho pensar que a história de um tênis (ao contrário do que o subtítulo afirma) poderia resultar em um filme tão divertido, ágil e satisfatório. Mais um ponto positivo na carreira de Ben Affleck, que pegou para si um papel menor e assina a direção do longa. O protagonista ficou a cargo do amigo dele, Matt Damon, repetindo a dobradinha recente de O Último Duelo (The Last Duel, 2021) e a mais antiga, do premiado Gênio Indomável (Good Will Hunting, 1997).
Com uma barriga proeminente e uma cara inchada de cansaço, Damon empresta seu carisma a Sonny Vaccaro, o sujeito que quer apostar em Michael Jordan e precisa convencer todos os colegas da Nike de que está certo. O papel lembra muito o trabalho do ator em Ford vs Ferrari (2019). Além de Affleck, que vive o presidente da empresa, temos Jason Bateman (de Ozark e Arrested Development) e Chris Tucker (de O Lado Bom da Vida, 2012) em outros cargos relevantes, formando a cúpula que acompanhamos.
Do outro lado, o do cliente, temos a grande Viola Davis (de A Mulher Rei, 2022) como a Sra. Jordan, a mãe que tomava as decisões por Michael. O próprio astro da bola só aparece de relance (feito por Damian Young), decisão tomada por Affleck para não enfraquecer o filme com uma imitação de um gigante e não tirar o foco dos executivos. O Sr. Jordan ficou na pele do verdadeiro marido de Davis, Julius Tennon (também de A Mulher Rei), e o agente é vivido por Chris Messina (de Eu Me Importo, 2020). Todos funcionam muito bem, mas é Viola quem se sobressai, roubando todas as cenas em que aparece.
A montagem inicial de Air nos situa muito bem na década de 80, com flashes muito característicos da época, como fatos (Lady Di com William no colo), clipes (Money For Nothing) e cenas de filmes já clássicos (como Um Tira da Pesada). As referências também são muito acertadas, com personagens citando Rocky Balboa e o Sr. Miyagi, e uma trilha cheia de medalhões. Não faltam momentos engraçados, equilibrando com a tensão de outros. Affleck mostra, mais uma vez, que sabe reservar para si um papel adequado ao seu talento como ator e brilha mesmo é como diretor e produtor.
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