Já estão disponíveis no Amazon Prime Video os dez episódios da minissérie Daisy Jones and The Six, nova produção dos estúdios Amazon. O livro fez grande sucesso nos EUA quando lançado, em 2019, e por isso a adaptação vinha acompanhada de muita expectativa. Aparentemente, o barulho em torno da obra diminuiu quando ela estreou, mostrando uma recepção bem fria por parte do público norte-americano. Agora, os brasileiros podem entender o porquê disso.
Feita em formato de documentário, a série – ficcional, é preciso ressaltar – acompanha jovens músicos na década de 70 buscando realizar o sonho de serem famosos. Os caminhos da banda The Six se cruzam com o de Daisy Jones, a garota acaba se juntando a eles e, juntos, conseguem finalmente atingir o topo das paradas de sucesso. Então, acontece o impensável: a banda acaba e cada um segue o seu rumo. Vinte anos depois, esse documentário pretende investigar as causas do rompimento. Algo que era comum na época e há até um termo para isso: “one hit wonders“, ou “as maravilhas de um sucesso só”.
Temos, na série, dois protagonistas, e a relação entre eles é o principal ponto a se acompanhar. Vivendo Daisy, Riley Keough (de O Diabo de Cada Dia, 2020) consegue dar doçura a uma personagem que poderia ser vista como insuportável e egoísta. A atriz realmente faz um ótimo trabalho evitando exageros na composição, mas não disfarçando os problemas da moça. O mesmo pode-se dizer de Sam Claflin (de Peaky Blinders), ator que ficou famoso fazendo um draminha água com açúcar (Como Eu Era Antes de Você, 2016), entre outros trabalhos, e vem se mostrando bem competente. Ele evita fazer um Billy Dunne prepotente e arrogante, apenas mostrando traços disso aqui e ali.
Billy é o líder dos Six, na verdade uma banda formada por cinco integrantes, já que um pula fora antes da fama. Quando Daisy entra no barco, os dois batem de frente disputando o papel de líder. Os demais membros também têm seus dramas contados, mas em uma proporção bem menor. Outros papéis de destaque são defendidos por Camila Morrone (de Desejo de Matar, 2018), que vive a esposa de Billy e fecha o triângulo amoroso; Tom Wright (de Medical Police), que faz o empresário e figura paterna de todos eles; e Timothy Olyphant (de Justified), o gerente de turnê que os mantêm juntos.
O elenco de Daisy Jones and The Six não tem ninguém destoante, eles fazem o que podem com o material. Os problemas estão no roteiro, bobinho e previsível, e em algumas opções da direção, que se repete muito em seus recursos e torna o andamento modorrento. Os personagens, em suas versões mais velhas (alguns com as mesmas caras, fora um cabelo grisalho e a chapinha de Claflin), dão depoimentos para a câmera e o que mais vemos são momentos de silêncio com caras e bocas, como se calados eles já dissessem muito. Na segunda ou terceira vez, isso irrita, e segue assim.
As referências, tanto na ficção (Quase Famosos, 2000, por exemplo) quanto na vida real (alô, Fleetwood Mac!), são óbvias e pulam na nossa cara, e as ótimas músicas da trilha não original ajudam a marcar as épocas. As dancinhas e figurino de Daisy emulam Stevie Nicks diretamente, e outras bandas vêm à mente em certas passagens. As canções originais do livro foram descartadas e Blake Mills foi contratado para refazer tudo do zero, contando com a colaboração de gente do cacife de Jackson Browne, Marcus Mumford e Phoebe Bridgers. O disco, Aurora, está disponível nos serviços de streaming de áudio.
Relatos de quem leu o livro de Taylor Jenkins Reid apontam outras diferenças entre o texto original e a adaptação, mas nada que fuja do normal em uma adaptação: um personagem cortado aqui, uma situação melhor desenvolvida ali. Os produtores, roteiristas e showrunners da atração, Scott Neustadter e Michael H. Weber, já são uma dupla criativa há anos e têm altos ((500) Dias com Ela, 2009) e baixos (Cidades de Papel, 2015) em seus currículos. Dessa vez, ficaram bem no meio do caminho e criaram a perfeita definição para a expressão “guilty pleasure”: algo que não é exatamente bom, mas te atrai o suficiente para acompanhá-la e você fica com aquela pontinha de culpa por gostar.
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