O Capítulo 4 fecha a saga de John Wick

O pai de pet mais letal do cinema está de volta para sua quarta e última aventura nos cinemas. John Wick 4: Baba Yaga (John Wick: Chapter 4, 2023) segue a fórmula bem sucedida de seus predecessores com uma trama simples, alguns rostos novos e mais ação, ou talvez a mesma quantidade de ação de antes. Não sei, mas tem muita ação, pode ter certeza.

A história retoma pouco à frente de onde paramos em John Wick 3: John (Keanu Reeves) se recupera dos ferimentos de sua última incursão no Hotel Continental de Nova York e parte em busca de sua liberdade e da cabeça dos membros da “alta cúpula”, que por sua vez designam o Marquês Vicent de Gramont (Bill Skarsgård, o palhaço de It – A Coisa) responsável por caçar e matar o Baba Yaga. E lhe concedem poder absoluto e todos os recursos necessários para essa nada fácil missão.

A lista de aliados e lugares para se esconder não para de encolher e John se arrisca a buscar refúgio com um velho amigo, Koji (Hiroyuki Sanada, de Mortal Kombat, 2021) gerente do Continental de Osaka. Na condição de “excommunicado”, John põe em risco não apenas a si mesmo, mas qualquer um que o ajude ou que se negue a matá-lo caso a oportunidade se apresente, o que torna cada personagem um potencial caçador de recompensas e qualquer cenário um possível campo de batalha. Um prato cheio para os fãs de filmes de ação.

O bom moço de Hollywood Keanu Reeves volta para viver mais uma vez um de seus personagens mais famosos. Com diálogos curtos e pouquíssimas expressões emotivas, o personagem dificilmente teria tanta popularidade se não fosse interpretado por alguém tão carismático quanto Keanu. Retornam também os veteranos Laurence Fishburne, como o “rei dos mendigos”, Ian McShane como Winston e o recém-falecido Lance Reddick como o simpático concierge Charon. Já o time de rostos novos é encabeçado por Skarsgård, no papel do cruel marquês, Sanada e Clancy Brown (de Dexter), que interpreta um misterioso conselheiro. Os principais caçadores de recompensa são interpretados pelo artista marcial Donnie Yen (de Rogue One, 2016) e por Shamier Anderson (de Invasão), que ajudam a compor as cenas de ação, antes protagonizadas apenas por Reeves e figurantes.

Desde o sucesso (talvez inesperado) do primeiro filme da saga, o diretor Chad Stahelski parece apostar no mais, na soma, ao invés da inovação. Se o que deu certo desde o início era ver Keanu Reeves matando bandidos, vamos trazer mais bandidos, mais balas, mais armas, mais perseguições de carro, mas tempo de tela. As narrativas são sempre rasas, sem complexidade alguma. Como preencher tanto tempo apenas com pólvora e sangue e ainda deixar o espectador interessado?

A solução, para que não caíssemos no tédio, foi estética: o espectador agora conta com cenários mais variados. Nas últimas aventuras, John Wick sempre dava as caras em algum outro país ou cenário diferente, mas era sempre algo breve e pouco explorado. Desta vez, temos cenários mais diversos e um pouco de mistério, sem saber para onde iremos em seguida. Um ponto positivo é a trilha sonora: até aqui os disparos das armas eram acompanhados apenas por um techno de boate e temas originais pouco expressivos. Nesse quarto capítulo, temos algumas músicas mais empolgantes e conhecidas que casam com as cenas de pancadaria.

Outra correção de curso é a escalação de um bom antagonista. Se em outros filmes os chefões eram bem esquecíveis ou até ausentes, como no terceiro longa, temos Skarsgård personificando a frieza e a ambição da alta cúpula. O ator parece trilhar uma carreira de personagens antipáticos e cruéis, espero vê-lo em produções mais dramáticas no futuro.

Por fim, temos os furos de roteiro, os descolamentos da realidade, como alguém sobreviver a uma queda de 10 andares, ou o homem mais procurado do planeta e com poucos recursos viajar o mundo inteiro sem ser barrado em um aeroporto. Se nada disso te impediu de chegar até aqui e se divertir, nada mais irá. Admito que fui vencido pelo cansaço e acabei deixando esses questionamentos no passado. Depois de vencer tantos oponentes, a minha lógica é só mais um dos vários adversários que pereceram ao enfrentar o imbatível John Wick.

Skarsgård foi uma boa adição ao elenco da franquia

Arthur Abu

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