Shazam volta aos cinemas para mais uma aventura calcada em piadinhas adolescentes e valores familiares. Shazam! Fúria dos Deuses (Shazam! Fury of the Gods, 2023), no entanto, não funciona bem, como foi o caso do primeiro filme. Tudo, agora, é maior: a ameaça, a responsabilidade, os questionamentos… E os furos no roteiro também, com as coisas acontecendo de acordo com a conveniência da história.
A partir do momento em que algo acontece e entendemos o funcionamento do recurso, esperamos que a lógica seja seguida. Por mais louca que seja. O cajado do mago, por exemplo. O problema é quando os roteiristas, se mostrando bem preguiçosos, não voltam àquele recurso, que resolveria o problema e simplificaria as coisas. No primeiro Shazam!, as coisas eram mais simples, o que facilitava respeitar as regras já estabelecidas. A partir do ponto em que o roteiro chama o espectador de burro, fica difícil estabelecer alguma ligação com a obra.
O longa tem um prólogo no qual pessoas em armaduras invadem um museu e roubam um artefato. Misteriosamente, em outro lugar da cidade, a ponte Benjamin Franklin começa a se romper e ameaça milhares de pessoas. A família Shazam se apresenta para salvar o dia, mas não deixam de ser alvo de chacota pela mídia, que os culpa pelos efeitos colaterais que eles causam quando agem. Isso bate forte no jovem Billy Batson (Asher Angel), que se sente um impostor quando se torna o herói com o raio no peito (Zachary Levi).
Nenhum dos seis órfãos superpoderosos tem um nome fantasia, e a sintonia entre eles não anda das melhores. Cada um tem um interesse e Billy fica tentando mantê-los unidos. Freddy (Jack Dylan Grazer e Adam Brody, quando transformado) está maravilhado com seus poderes e chama uma atenção desnecessária. No meio desse caos familiar aparecem as Filhas de Atlas, as vilãs da vez que trarão muita dor de cabeça ao sexteto.
O elenco continua muito carismático – a excessão é Levi, que andou falando bobagens anti-vacina em redes sociais. Na tela, no entanto, ele funciona bem e precisamos relevar o pensamento do ator para apreciar o filme. Helen Mirren (de Velozes e Furiosos 9, 2021) e Lucy Liu (de Kill Bill, 2003) são adições fortes e funcionam muito bem, assim como Rachel Zegler, apesar de sua personagem não ter muita lógica. Djimon Hounsou volta ao papel do mago e é responsável por alguns momentos mais leves.
Como visto também em O Homem de Aço (Man of Steel, 2013), seres muito poderosos em guerra tendem a causar muita destruição e o público logo fica anestesiado. Algumas sequências parecem custar a passar por causa disso, e era comum ver o pessoal no cinema olhando as horas, ansiando pelo final. Que é bem descabido, não faz sentido algum. E há duas cenas pós-créditos. A exemplo da Marvel, elas demandam algum conhecimento prévio para serem compreendidas, não só do primeiro filme, mas dos quadrinhos e de outras produções desse universo.
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